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Declarações “hostis” de Marcelo e António Costa irritam Governo do Catar

O MNE confirma a chamada do embaixador de Portugal em Doha por parte do Governo do Catar mas enquadra essa chamada na preparação da visita de Marcelo. No entanto, a CNN Portugal noticia que o executivo do emirado considera hostis as declarações de Marcelo e António Costa sobre a realização do Mundial neste país.
24 Novembro 2022, 11h33

O embaixador de Portugal em Doha esteve na quarta-feira no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Catar no “quadro da preparação da visita” do Presidente da República ao emirado, confirmou hoje à Lusa fonte do MNE.

Segundo a mesma fonte, o embaixador de Portugal em Doha, Paulo Neves Pocinho, “esteve, conforme prática habitual” no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, onde se realiza o Campeonato de Mundo de Futebol e onde vai estar presente hoje o chefe de Estado Português.

“O Ministério dos Negócios Estrangeiros confirma que o embaixador de Portugal em Doha esteve, conforme prática habitual, no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar no quadro da preparação da deslocação do Presidente da República Portuguesa ao país, por ocasião do Campeonato Mundial de Futebol”, disse hoje à Lusa fonte do gabinete de João Gomes Cravinho.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros português não acrescentou mais detalhes sobre a reunião do embaixador de Portugal junto da diplomacia do Qatar.

A CNN Portugal adianta esta quinta-feira que o embaixador português em Doha foi chamado pelo vice-primeiro-ministro do emirado e que este lhe terá referido que as declarações tanto do Presidente da República como do primeiro-ministro são consideradas hostis por parte do Governo do Catar.

Adianta a CNN Portugal que as declarações de altos responsáveis políticos de Portugal não são aceitáveis e “que só não serão tomadas atitudes mais drásticas em nome da histórica amizade que une os dois países”.

Marcelo Rebelo de Sousa vai assistir hoje ao primeiro jogo da seleção portuguesa de futebol no Mundial, contra o Gana.

O Presidente da República disse na terça-feira que Portugal mantém relações diplomáticas com vários países não democratas e defendeu que o Mundial de futebol é um certame importante e que as autoridades portuguesas devem estar presentes.

Em declarações aos jornalistas, em Leiria, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal mantém “relações diplomáticas com a maioria dos Estados do mundo, [e] a esmagadora não é democrática” e reiterou que vai falar no Qatar, onde decorre o Mundial de futebol, sobre direitos humanos.

“Eu já tive ocasião de dizer que eu intervenho num debate sobre a educação e um dos pontos fundamentais da educação é direitos humanos. Portanto, naturalmente, eu, depois de amanhã, [quinta-feira] estarei a falar de direitos humanos no Qatar”, afirmou.

A deslocação do Presidente da República ao Qatar para assistir ao primeiro jogo da seleção nacional de futebol no Mundial 2022, na quinta-feira, foi aprovada esta semana no Parlamento, com votos a favor das bancadas do PS, PSD e PCP, abstenção do Chega e votos contra de IL, BE, PAN e Livre.

Anteriormente, no dia 17 de novembro proferiu declarações que se tornaram polémicas sobre o emirado pedindo concentração nas questões desportivas.

“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal…, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa.

Começámos muito bem e terminámos em cheio”, disse hoje Marcelo Rebelo de Sousa, na zona de entrevistas rápidas no Estádio José Alvalade, na quinta-feira da semana passada.

Várias organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram que milhares de pessoas morreram no país entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial.

Um relatório publicado no jornal britânico The Guardian, no passado mês de fevereiro, indica a morte de pelo menos 6.500 pessoas.

Além das mortes por explicar, o sistema laboral ‘kafala’ e os trabalhos forçados, sob calor extremo assim como as longas horas de trabalho, entre outras agressões, têm sido lembradas e expostas vários há anos por organizações não-governamentais e relatórios de instituições independentes.

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