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Diretas no PSD: Luís Montenegro é “líder incontestado” por estar no Governo

Analistas consideram que o facto de o PSD estar no poder incentiva o apoio ao líder, que não tem concorrências nas primárias de hoje. As eleições realizam-se em todo o país, as mesas abriram às  18:00 e encerram às 23:00.
1 Setembro 2024, 13h44

As eleições diretas no PSD realizam-se esta sexta-feira, 6 de setembro, e o atual presidente do partido, Luís Montenegro, concorre sozinho a um novo mandato. Os especialistas em política contactados pelo Jornal Económico (JE) consideram normal Montenegro não ter concorrência, dado que é primeiro-ministro e a tendência é para os partidos se unirem em torno do líder quando estão no poder.

José Palmeira, professor de Ciência Política na Universidade do Minho, defende que estas eleições no PSD “não vão ter história”.

“Quando há um candidato e esse candidato é o primeiro-ministro, como aconteceu no passado com Pedro Passos Coelho, as eleições não têm história”, sublinha ao JE. “Aquilo que se vai debater vai ser a percentagem de participação eleitoral porque os militantes quando há só um candidato podem não ter incentivo para votar nesse dia”, aponta.

O PSD divulgou que podem votar na eleição direta do presidente da Comissão Política Nacional do partido 41.835 militantes. As eleições realizam-se em todo o país, as mesas abriram às  18:00 e encerram às 23:00, em simultâneo com a eleição dos delegados ao 42.º Congresso Nacional e com eleições para as lideranças das distritais de Aveiro, Braga, Bragança, Guarda, Porto, Santarém e Beja (apenas nesta última há dois candidatos) e de muitas concelhias.

José Palmeira frisa que “a partir do momento em que a AD ganhou as eleições, Luís Montenegro é figura incontestada, o que de resto acontece com os primeiros ministros que se candidatam à liderança dos partidos. Aconteceu com António Costa, aconteceu com Pedro Passos Coelho. Os partidos quando estão no poder unem-se em torno do líder”.

A última eleição direta sem disputa interna no PSD aconteceu há oito anos, em 2016, quando Pedro Passos Coelho concorreu ao seu último mandato como líder do PSD e já não era primeiro-ministro.

Também Hugo Ferrinho Lopes, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, afirma que “não é surpreendente Luís Montenegro ser candidato único à liderança do partido. É comum nas democracias ocidentais que, quando os partidos estão no governo, exista uma espécie de efeito ‘rally around the flag’ interno, ou seja, de apoio incontestado ao líder”.

Este efeito é ainda mais pronunciado no caso do PSD por ter estado o maior período de sempre na oposição. Agora que Luís Montenegro se tornou chefe de governo deixou de se ouvir falar em hipotéticos regressos de ex-líderes à política ativa. Ou seja: a referência mais atual do partido é agora o próprio Luís Montenegro”, destacou.

Além disso, “não esquecer que, em Portugal, os partidos têm o monopólio da representação política e da capacidade distribuir recursos do Estado”. Com o PSD no governo, uma série de quadros do partido integraram os gabinetes do governo e a estrutura administração pública, mas há ainda uma série de nomeações por serem feitas. Isto constrange fortemente qualquer oposição interna — parte da qual, aliás, já entrou, ou espera entrar, para o aparelho do Estado”, afirmou Hugo Ferrinho Lopes.

Para o especialista “as diretas serão um “passeio” para Luís Montenegro. “Dificilmente a campanha interna terá a mesma projeção do que anteriores, mesmo com vencedores pré-anunciados”, diz.

Luís Montenegro foi eleito pela primeira vez presidente do PSD em 28 de maio de 2022, numa eleição em que teve como adversário interno o antigo vice-presidente do PSD e atual secretário-geral adjunto das Nações Unidas Jorge Moreira da Silva, e que venceu com mais de 72% dos votos.

Neste mandato de dois anos, o PSD disputou e venceu legislativas antecipadas em 10 de março (em coligação com CDS-PP e PPM), com a mais curta vitória de sempre sobre o PS (cerca de 50 mil votos), e perdeu as europeias de 9 de junho, nas quais os socialistas bateram a AD também por uma curta margem, cerca de 38 mil votos.

Sob a liderança de Montenegro, o PSD disputou ainda e venceu duas eleições regionais na Madeira e umas nos Açores.

Na moção de estratégia global com que se candidata à liderança, “Acreditar em Portugal”, Montenegro traça como objetivo para o próximo mandato de dois anos vencer as autárquicas, apoiar um candidato presidencial abrangente e de preferência militante do PSD, num texto sem qualquer referência ao Orçamento do Estado para 2025, ainda com aprovação incerta.

A verdadeira prova de fogo de Montenegro não serão as diretas. “Para o ano vão decorrer autárquicas e aí será testada a liderança do PSD”, apontou José Palmeira.

Enquanto as autárquicas não chegam, Montenegro deve aproveitar o seu discurso de vitória nas diretas para lançar novidades. “Normalmente os candidatos tentam marcar a sua reeleição com algumas novidades. É esperado que apresente ideias de médio e longo prazo para rebater as críticas de que o PSD não tem espírito reformista”, antecipou José Palmeira.

A eleição dos restantes órgãos nacionais do PSD será feita no Congresso marcado para 21 e 22 de setembro, em Braga.

 

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