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Investimento em petróleo e gás deve aumentar pelo menos até 2030

Quantidade insuficiente das energias ‘velhas’ pode representar um risco para a segurança do fornecimento, diz um relatório da S&P. Mudança para as energias limpas sim, mas com a segurança das ‘sujas’, parece ser a estratégia aconselhada.
30 Março 2023, 09h27

A segurança energética e a aposta sustentável decorrente do Acordo de Paris e de tudo o que esse plano suscitou são uma prioridade, mas o ‘jogo’ da economia real não dá tréguas e o globo está muito longe de poder satisfazer as suas necessidades sem recorrer às energias fósseis: a economia mundial ainda precisa de hidrocarbonetos.

Um relatório recente do Fórum Internacional de Energia (FEI) e da S&P Global Commodity Insights diz que investir em novas tecnologias para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa não está em desacordo com o investimento em petróleo e gás durante a transição.

O investimento insuficiente em ambos os tipos de combustíveis representaria uma séria ameaça à segurança energética a curto e médio prazo e poderia interromper o progresso nas metas climáticas, refere o relatório. Para especificar que, para alcançar mercados estáveis e evitar um défice na oferta global esta década, é necessário manter o investimento em exploração e produção de petróleo e de gás. Que até deverá aumentar.

Aliás, segundo os números adiantados, o investimento a montante em petróleo e gás em 2022 registou o seu nível mais elevado desde 2014 e as empresas obtiveram o maior lucro homólogo da história, passando de 358 mil milhões de dólares em 2021 para 499 mil milhões em 2022. Isso mesmo irá suceder pelo menos até 2030 – mesmo que a procura caia, evitando-se assim qualquer possibilidade de défice do lado da oferta, que colocaria em causa a segurança energética.

Ao mesmo tempo, o relatório salienta que os dados sobre a perfuração indicam que a atividade começou a recuperar – mesmo que se mantenham abaixo dos níveis pré-pandemia, até porque a inflação reduziu a procura. As sondagens aumentaram 22% em 2022, mas permanecem 10% abaixo dos níveis de 2019.

Enquanto os preços do petróleo permanecerem acima da fasquia dos 70 dólares por barril, há reservas suficientes e projetos lucrativos de petróleo e gás para atender à procura na próxima década, mas a principal incerteza é se as empresas comprometerão investimentos suficientes para desenvolvê-los. É um fim de ciclo que implica alguma reserva em ‘atirar’ capital para cima de uma tecnologia que eventualmente tem os dias contados.

Segundo o relatório, uma das dúvidas é a incerteza da procura no curto prazo e as possíveis consequências no médio e longo prazo. As empresas preferem apostar em pequenos projetos, pois exigem menos capital, têm períodos de retorno mais curtos e estão mais isolados de riscos de longo prazo. Espera-se que cerca de 250 projetos de pequena a média escala comecem até 2030.

A desaceleração da economia também aumenta os desafios de investimento. Se o mundo entrar em recessão em 2023, o crescimento da procura de petróleo provavelmente permanecerá abaixo da tendência dos próximos dois anos, potencialmente estendendo a estagnação pós-pandemia por mais cinco anos. A expectativa é que, mesmo que a atividade económica recupere, a procura de petróleo provavelmente será menos intensa, devido à mudança de combustíveis, à penetração da alternativa elétrica nos automóveis e à aposta nas alternativas limpas.

Sobrevive ainda outra dúvida: a da postura da Rússia enquanto produtora de petróleo e de gás natural. O relatório assume que a produção russa cairá entre 1 e 1,5 milhões de barris por dia em 2023. Mas o relatório avança uma premissa que pode não ser verdadeira: os níveis de produção russos dependem também do que as sanções internacionais permitem – ora, a realidade parece contrariar esta afirmação: a China, entre outros países, tem mantido em alta a procura de petróleo e gás russos.

Para que os decisores do segmento a montante aumentem os seus investimentos, o relatório aconselha a que o diálogo entre os envolvidos seja intensificado. Assim, os países consumidores devem enviar sinais claros sobre a procura futura, manter inventários, apoiar contratos de compra a longo prazo e evitar políticas proibitivas. Mas nada está garantido.

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