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Isabel dos Santos critica João Lourenço: “Profunda crise económica com barril de crude acima dos 80 dólares?”

Angola está a negociar com o FMI um programa de assistência financeira para viabilizar o crescimento económico e reduzir o rácio da dívida, mas a filha do anterior presidente não está de acordo com o rumo seguido por João Loureiro.
13 Setembro 2018, 17h35

A empresária Isabel dos Santos, afastada pelo presidente de Angola João Lourenço da liderança da Sonangol e confrontada pelo executivo com outros eventuais atropelos às boas práticas empresariais, questiona as opções económicas do chefe de Estado do seu país. Na rede Twitter, a filha de José Eduardo do Santos, o anterior presidente, Isabel dos Santos questiona como é possível o país continuar mergulhado numa “profunda crise económica”, quando o barril de crude — a base da economia angolana — está acima dos 80 dólares.

Citada pelos jornais locais, a empresária questiona “qual a estratégia” que está a ser seguida, já que são inúmeras as empresas angolanas que registam perdas financeiras enormes. As reservas da empresária surgem num quadro em que Angola está a negociar com o FMI um programa de assistência financeira para viabilizar o crescimento económico e reduzir o rácio da dívida.

Segundo o ministro angolano da Economia, Pedro da Fonseca, as receitas fiscais não são suficientes para pagar a dívida pública este ano, que vai superar os 70% do PIB no final de 2018 – com o rácio da dívida face às receitas fiscais a ascender aos 114%.

O empréstimo do FMI pode chegar aos 3,9 mil milhões de euros, mas trará o ‘normal’ caderno de encargos. O próprio chefe de Estado já tentou desdramatizar o pedido de ajuda, sublinhando que os programas do FMI “não são todos iguais” e realçando que o pedido de financiamento angolano não tem a gravidade do português.

No final da visita oficial à Alemanha, a 23 de agosto, João Lourenço disse que Angola vai beneficiar do financiamento do fundo “em condições melhores que o crédito de outros bancos, bancos comerciais”. “Não estamos a falar de um resgate como o que aconteceu noutros países europeus, como Portugal ou a Grécia. Não é disso que se trata, é um outro tipo de ajuda financeira, que não tem a gravidade que tem um programa de resgate”, esclareceu.

O presidente angolano vai reunir-se com o FMI em outubro e está prevista uma visitar da diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, a Angola em dezembro.

O programa do FMI terá como uma das suas funções diminuir a dependência da economia angolana face ao petróleo e promover a diversificação, tanto económica como fiscal (por exemplo, através da introdução do IVA).

A queda dos preços do petróleo que se registou nos últimos anos levou a uma escassez de divisas e à quebra das importações, o que acabou por afetar a atividade das empresas, confrontadas com falta de matéria-prima e impedidas de repatriar os lucros (no caso das empresas estrangeiras).

Este ponto, recorde-se, já foi também alvo de crítica por parte de Isabel dos Santos. Depois de o chefe de Estado ter ido a Bruxelas em junho, para apelar ao investimento estrangeiro em Angola, Isabel questionou no Twitter “qual o investidor que vai entrar se não se dá autorização aos atuais investidores estrangeiros para levarem os lucros em dólares?”. A posição da empresária mereceu resposta de João Lourenço, que lamentou que Isabel dos Santos “desencoraje o investimento no seu próprio país”.

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