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Miguel Stilwell acelera em terras de Vera Cruz com OPA sobre a EDP Brasil

Se concluir a OPA com sucesso, e retirar a EDP Brasil de bolsa, o grupo EDP fica com mais agilidade para tomar decisões estratégicas no país e poupa dinheiro, pois não tem de pagar dividendos. Operação de financiamento junto da CTG e de fundos soberanos permitiu à EDP não se endividar, guardando capital para investir.
1º EDP: A empresa liderada por Miguel Stilwell mantém a liderança das marcas valiosas, com um valor de mercado de 2,4 mil milhões de euros, apesar de ter desvalorizado 4%.
11 Julho 2023, 07h45

O grupo EDP realiza esta terça-feira o leilão da oferta pública de aquisição (OPA) sobre a EDP Brasil com o objetivo de aumentar a sua participação na empresa cotada na Ibovespa, a bolsa canarinha.

O leilão vai ter lugar esta terça-feira às 19 horas de Lisboa. O grupo EDP pretende passar a controlar 44% do capital da sua subsidiária brasileira que ainda não controla.

A EDP – Energias do Brasil conta com 2,7 gigawatts (GW) de capacidade instalada, um EBITDA de 5,3 mil milhões de reais (992 milhões de euros) em 2022, está presente em 15 estados, com 3.300 trabalhadores, e 3,8 milhões de clientes nos estados de São Paulo e de Espírito Santo.

A EDP ofereceu um preço de 23,63 reais por ação (4,42 euros), um prémio de 22,3% face ao preço de fecho anterior a 1 de março, data do anúncio do lançamento da OPA. A oferta atinge um total de 5.715 milhões de reais (1.070 milhões de euros).

“A transação tem como objetivo a simplificação da estrutura corporativa e organizacional da EDP, conferindo assim maior flexibilidade na gestão financeira e operacional das suas operações no Brasil, e alinhado com a sua estratégia de foco em energias renováveis e redes de eletricidade”, anunciou a EDP no lançamento da OPA.

A EDP realizou um aumento de capital este ano no valor de mil milhões de euros com o objetivo de financiar a OPA, com a China Three Gorges (a maior acionista da elétrica), a Lisson Grove Investment Pte, fundo soberano de Singapura, e uma afiliada da Abu Dhabi Investment Authority, fundo soberano deste emirado, a assegurar até 600 milhões de euros.

Analisando a operação, o analista Steven Santos, do Banco BiG, considera que é “uma operação para simplificar a estrutura corporativa e organizacional da EDP, dar mais liberdade na gestão operacional e financeira destes negócios, apesar de já terem a maioria na EDP Brasil”.

“Ainda assim como tem acesso a financiamento junto do seu principal acionista – a China Three Gorges – e junto de fundos soberanos conseguiram levantar a liquidez necessária para comprar a parte que ainda não detinham na EDP Brasil, acabam por aproveitar esta situação de mercado, em que muitos títulos estão ainda deprimidos ou com cotações inferiores às que conhecemos nos últimos anos, para no fundo adquirir a totalidade do negócio, e assim menos complexidade, menos custos de ter uma empresa em bolsa, menos dispersão e mais foco e mais capacidade para executar”, de acordo com o diretor das áreas de Corretagem e de Plataformas de Trading do banco BiG.

“Vejo [a operação] com bons olhos, faz sentido estratégico para a EDP, contando que tem essa facilidade em aceder a financiamento, sem ter de ir ao mercado, sem ter de emitir obrigações, sem ter que fazer aumentos por outra via ou outro instrumento. Tendo acesso a financiamento por via de acionistas, ou entidades como fundos soberanos, estão a aproveitar o momento do mercado para ficar com a totalidade do negócio”, disse o analista Steven Santos no programa “Mercados em Ação” da JETV.

Já o analista Mário Martins destaca que o prémio sobre a EDP Brasil, quando a OPA foi lançada, era “considerável” em relação ao “preço na altura”.

“No início de março, quando anunciaram a operação, foi considerada pelos investidores como uma operação muito positiva. Teve uma boa aceitação. Com o passar dos tempos, a subida da Ibovespa e do índice de energia elétrica (IEEX), a oferta parece cada vez menos interessante. Há uma perda substancial de interesse”, segundo o administrador da ActivTrades Brasil.

Olhando para a potencialidade do mercado brasileiro, destaca que o país é responsável por 2% do consumo mundial de energia, um “valor expressivo”. Com presença em três estados brasileiros, São Paulo, Espírito Santo e em Santa Catarina (através de uma participação na Celesc). “O estado de São Paulo é o maior em termos de população. A EDP ter uma presença em São Paulo é importante”. Sobre Santa Catarina, destaca que é o estado com “maior desenvolvimento no Brasil, acima da média”.

“O Brasil tem uma presença muito forte de energias renováveis”, destacando o peso da energia hidroelétrica, considerando que há um “grande crescimento ainda a ser feito” em termos de solar e eólica. “O conhecimento e know-how da EDP pode dar um desenvolvimento mais forte” à ofensiva brasileira nas energias renováveis.

“Em princípio, não precisam de recorrer a financiamento. Podem utilizar esse dinheiro para investir, sem se endividar”, afirmou sobre o aumento de capital.

Sobre a presença da China Three Gorges no mercado brasileiro, destaca que a chinesa tem “presença direta no mercado de produção” brasileiro. “Para os dois é importante a junção de forças, se a EDP sozinha tentasse fazer esta operação, o investimento de capital seria tão grande que ia impedir que a EDP fizesse investimento no core do negócio. Desta forma, liberta capital para poder atuar no core business”.

Mário Martins também destaca que as “empresas em bolsa são mais visíveis, mas a EDP já é conhecida no mercado, todos sabem quem é”.

Passando a deter “controlo absoluto”, o grupo EDP vai “poupar dinheiro na distribuição de dividendos. Há uma poupança de capital”. “A decisão é boa. A EDP fica mais ágil, não precisa de estar a pedir autorização para decisões estratégicas e ainda poupam no pagamento de dividendos. É positivo para a EDP”, resume.

Sobre a exposição da EDP ao real brasileiro, Mário Martins destaca que a “exposição cambial é sempre problemática” e que no caso de uma “moeda emergente” é “ainda mais preocupante”.

Destacando que o real tem vindo a valorizar depois da desvalorização sofrida durante a pandemia – de quase sete reais/dólar para 4,60 reais/dólar – aponta que “previsivelmente não existe condicionante económica a curto prazo”.

O analista também aponta que a taxa de juro no Brasil “continua muito elevada”, com a Selic nos 13,75%. E, ao contrário do resto do mundo, a “inflação está relativamente controlada”. “Desse ponto de vista, o real não será um peso para a EDP no curto prazo”, apesar da desvalorização de quase 90% nos últimos 20 anos.

“A Argentina está numa situação muito pior. O plano Menem, para a paridade do peso com o dólar, foi um descalabro completo. Se acontecer algo semelhante com a economia brasileira, vai ter efeitos muito adversos no investimento no país, mas não vejo nenhum indicador económico que aponta para uma transformação do Brasil na Argentina”, considera.

Os investidores tinham até às 18 horas de segunda-feira para fazerem a manifestação de interesse na OPA. “Ainda pode acontecer, os pequenos investidores revoltarem-se e dizerem que não aceitam os termos da OPA. Não é muito provável porque a maior parte já manifestou o seu interesse e foi manifestado ainda numa altura em que ainda era favorável para os pequenos investidores. Não é muito provável que sejam suficientes para reverter a OPA. Mas pode sempre acontecer e é uma possibilidade em cima da mesa, embora remota”, dizia o administrador da ActivTrades Brasil ao JE na tarde de segunda-feira, destacando que, assim que é feita a manifestação de interesse, os investidores já não podem recuar.

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