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João Cotrim de Figueiredo: “Temos que abraçar as responsabilidades e oportunidades que o Parlamento dá”

O novo presidente do Iniciativa Liberal explicou, dias antes da convenção deste domingo em que foi o candidato único à liderança, até agora ocupada por Carlos Guimarães Pinto, que um dos grandes desafios do partido passa por manter a irreverência na comunicação de ideias e conciliá-la com a maturidade do projeto político agora representado na Assembleia da República.
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    Miguel A. Lopes/Lusa
9 Dezembro 2019, 06h35

Quando Carlos Guimarães Pinto anunciou a decisão de se afastar da liderança do Iniciativa Liberal (IL) viu-se perante o facto consumado de ter de avançar?

A partir do momento em que o Carlos não foi eleito deputado pelo Porto era muito difícil, por muito amigo que seja dele, exigir-lhe mais sacrifícios. Foi um ano muito difícil para o Carlos Guimarães Pinto e a muito do que ele fez se deve aquilo que o IL conseguiu em outubro. Foi ele que levou o partido às costas e temos muita pena de o ver sair da liderança – mas não do partido, pois continuamos a contar com a colaboração dele em vários aspetos. Mas percebemos que tinha de ser uma mudança de ciclo, e a partir do momento em que havia uma representação parlamentar, e um interesse mediático maior no Parlamento, a solução só poderia ser esta.

As vossas diferenças são sobretudo de estilo ou também de conteúdo político?

Sobretudo de estilo. Este partido une muito as pessoas à volta de ideias e de projeto, o que faz com que pessoas com estilos e percursos de vida diferentes possam falar com a mesma convicção e o mesmo entusiasmo sobre os mesmos temas, as mesmas políticas e os mesmos objetivos. E é por isso também que o protagonismo de quem quer que seja que ocupe esta cadeira de presidente da IL nunca será tão grande quanto noutros partidos. Não precisamos disso, e em certo sentido preferimos que sejam as ideias a falar por nós do que ter protagonismo pessoal.

A comunicação do partido continuará a ter a mesma irreverência e imaginação?

Isso é fundamental. O partido tem que abraçar as responsabilidades e oportunidades que o Parlamento dá, mas ao mesmo tempo preparar-se para os embates políticos e eleitorais que aí vêm, de forma a aproveitar as oportunidades de crescimento. Quer dentro do partido quer fora temos de saber aproveitar este momento de enorme importância histórica para nós e para o país. Em ambos os casos isso exige manter o que de bom nos trouxe até aqui – e a irreverência, a criatividade e a capacidade de surpreender estarão certamente no centro disso – ao mesmo tempo que ganhamos uma maior maturidade, pois temos agora que tomar posições públicas sobre assuntos que ainda não tivemos oportunidade de aprofundar ideologicamente. Vamos ter que montar uma estrutura, e isso estará a presidir à orgânica votada no domingo, centrada na produção e aprofundamento de conhecimento. Pode ser uma necessidade de conhecimento para daí a um mês ou dois estar a debater no Parlamento algo que necessite de aprofundamento politico-ideológico, mas também pode ser uma ideia que ideologicamente está sólida e em que é preciso ver como a transformamos numa iniciativa legislativa. É este fluxo que num partido de ideias é quase belo e dá unidade.

Está preparado para contar com uma oposição interna?

Não sei se oposição interna, mas diferenças de opinião é coisa que existe todos os dias. Nunca considerámos que isso fossem facções. É normal, e é dessa discussão e confronto de ideias permanente que saem coisas mais solidificadas e também alguma irreverência. Ninguém se sente aqui dono de uma verdade definitiva. Sabe que vai ter de justificar aquilo que diz, e as posições que toma, e que o pressuposto com que lança uma discussão pode ser questionado por qualquer membro, mesmo que tenha entrado há 15 dias.

As autárquicas ainda vêm longe, e não serão certamente o desafio mais fácil para um partido que ainda está a iniciar-se. Já há ideias sobre qual será a vossa abordagem?

É difícil responder com exatidão, pois estamos a sair para o terreno agora, mas a ideia é apresentar listas no maior número de concelhos possível, sempre sujeitas a duas importantes condições: que a pessoa que dê a cara pelo Iniciativa Liberal seja de facto um liberal, com competência para poder desempenhar a função a que se esteja a candidatar, e que tenha uma perspetiva liberal da gestão autárquica. As pessoas olham para as autarquias, que têm não sei se 90 ou 100% do orçamento vindo do Estado central, e perguntam como se faz uma política liberal, e nós dizemos que é uma espécie de declinação local daquilo que esperamos ver à escala nacional, que é um concelho em que as pessoas se sintam mais à vontade para interagir, que não fiquem dependentes da câmara – como em muitos acontece, a nível de emprego e não só –, que as energias dessa população possam ser soltas por alguém que encara a câmara como dinamizador e facilitador das escolhas das pessoas muito mais do que um cacique que distribui benefícios para recolher lealdades.

Marcelo Rebelo de Sousa merece o apoio do IL para a recandidatura à Presidência da República?

Marcelo Rebelo de Sousa não é um liberal e isso limita o nosso interesse e disponibilidade para prestar esse apoio. Olhamos para as presidenciais, que ainda vêm longe, como uma oportunidade de reafirmar, no nosso ambiente constitucional de semipresidencialismo, como seria uma atitude liberal. Havendo pessoas capazes de representar essa postura, seriam essas que gostaríamos de apoiar.

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