Os sucessivos cortes de juros anunciados pelo Banco Central Europeu (BCE) estão a reduzir de forma expressiva a rentabilidade oferecida pelos depósitos a prazo. Atenta às movimentações da autoridade monetária da Zona Euro, a banca está até a antecipar novas descidas das taxas, diminuindo os juros das aplicações financeiras a um ritmo mais rápido. De tal forma que a remuneração média dos depósitos a 12 meses está já quase um ponto percentual abaixo da Euribor para o mesmo prazo.
Depois de um período de subida dos juros para travar a escalada da inflação, o banco central liderado por Christine Lagarde já cortou as taxas por cinco vezes, situando-se agora nos 2,75%. Um movimento que tem impacto nas Euribor, com a taxa média a um ano a atingir os 2,525% em janeiro, face aos 3,532% no início do ano passado. Enquanto esta tendência tem vindo a permitir um alívio nas prestações da casa, do lado da poupança traduz-se numa redução da rentabilidade do dinheiro amealhado.
Entre os 13 bancos analisados pelo Jornal Económico (JE), o juro médio oferecido nos depósitos a prazo a um ano com um investimento mínimo de até cinco mil euros era de 1,605% no final do mês passado. Há um diferencial entre as taxas de mercado e os juros que são pagos pelos bancos nos depósitos a prazo, o que é normal, mas essa margem é, neste ciclo de taxas, crescente. O setor está a pagar 0,92 pontos percentuais a menos face à Euribor para o mesmo prazo. A título de exemplo, em outubro este diferencial era de 0,77 pontos percentuais.
Esta tendência de descida dos juros deverá prosseguir, uma vez que Christine Lagarde diz estar “confiante de que a inflação irá atingir o nosso objetivo de 2% ao longo deste ano”. E já está a está a ditar uma menor atratividade dos depósitos bancários, levando os portugueses a procurarem alternativas. Isto apesar de os depósitos serem de longe o produto financeiro preferido pelos portugueses, com o “stock” a alcançar um recorde de 192,7 mil milhões de euros no final de 2024.
À medida que os bancos cortam nas taxas, muito dinheiro tem vindo a rumar para Certificados de Aforro: nos últimos três meses do ano entraram 856 milhões de euros nestes títulos de dívida pública destinados ao retalho, mais do que compensando a saída de 171,2 milhões nos nove meses anteriores. Está a fazer brilhar também os chamados Planos Poupança Reforma (PPR), que cresceram quase 50% no ano passado. Também os produtos de capitalização aumentaram 41,4%, ajudando a impulsionar, por exemplo, os lucros do BPI que alcançaram um recorde em 2024.
PPR e produtos de capitalização ganham força
“Captámos mais poupanças, com particular destaque para o investimento em fundos e seguros de capitalização, onde registámos um crescimento de 10%”, disse João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do banco, notando que “somos um país que está claramente envelhecido”, com dificuldades de produtividade e as “pessoas estão mais conscientes disso”. É nesse sentido que o banco tem “feito muitas campanhas sobre este assunto e chamado a atenção para a importância destes produtos” de poupança que são, neste momento, mais rentáveis que os depósitos.
“Houve, de facto, uma maior procura por este tipo de produtos de poupança das seguradoras”, afirmou fonte oficial da Associação Portuguesa de Seguradores ao JE, notando que é preciso “pôr esta evolução em perspetiva com o período que a precedeu, que foram dois anos de produção excecionalmente deprimida, condicionada por um contexto de taxas de juro menos favorável”. Este crescimento, refere a associação, “compara mesmo com um dos anos mais fracos das últimas décadas nesta área de negócio (o ano de 2023), sendo que o volume de contribuições registado em 2024, não obstante esta expansão, permaneceu abaixo do de 2021”.
“Ainda assim, foi uma recuperação expressiva, que sinaliza um reposicionamento competitivo dos produtos das seguradoras neste mercado da poupança”, sublinhou a entidade liderada por José Galamba de Oliveira depois de apresentar os números provisórios de 2024 no mês passado.
“Os produtos das seguradoras (sejam os seguros de capitalização, sejam os PPR) têm uma vocação natural para horizontes de poupança mais alargados, e nos últimos anos, por razões conjunturais, tiveram uma concorrência forte de produtos de curto prazo, como os depósitos”, afirmou, acrescentando que a “evolução desta conjuntura em 2024, nomeadamente a descida significativa das taxas de juro dos depósitos a prazo, deu então maior espaço à expansão destes produtos de seguros de longo prazo, com especial incidência nos produtos com garantias de capital e/ou rendimento”.
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