O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira recebeu ao final da manhã o Presidente da República francesa na sede da autarquia, a quem lembrou que o também presidente de França, o General Charles de Gaulle, foi um dos mais acérrimos defensores do primado da Europa enquanto motor da liberdade e da democracia global. Rui Moreira recordou assim o facto de De Gaulle ter decido – numa altura e forte tensão entre a Europa e os Estados Unidos – retirar a França do perímetro da NATO. A França regressaria sob Sarkozy, mas o espírito ‘independentista’ talvez não se tenha perdido.
Macron – que finalizou a sua intervenção com um “viva a amizade entre os dois nossos países” – reafirmou o primado da Europa, mas não quis deixar de referir que os tempos são novamente de desafios. Referia-se ao contexto europeu que resulta da alteração profunda da postura norte-americana, protagonizada pelo presidente Donald Trump, face à guerra na Ucrânia. Macron tem protagonizado a reação da Europa – que apesar de tudo é isso mesmo: uma reação – tendo desenvolvido diversos esforços para agregar uma resposta europeia aos desafios que emanaram, nestas últimas cinco semanas, da Casa Branca.
O tema tem sido transversal às conversas que Emmanuel Macron tem mantido com as autoridades nacionais, nomeadamente com o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro Luís Montenegro.
Depois de assomar a uma das varandas da Câmara Municipal do Porto – onde ouviu um conjunto de crianças a desejar-lhe “bom dia”, Macron e Montenegro assinaram um Tratado de amizade e cooperação entre as duas repúblicas. Foram de seguida assinados outros acordos, nas áreas da língua, juventude, desporto, ciência, ensino superior, cultura, cinema, polícia, defesa e cooperação económica.
Na conferência de imprensa, onde Montenegro recebeu Macron com um “cher Emmanuel” – e onde os assuntos internos estavam arredados à partida, o primeiro-ministro português reforçou que “a França é um dos mais importantes parceiros de Portugal”, nomeadamente na defesa. “Acréscimo de investimento”: é dessa forma que o país encara a sua posição em termos de defesa, que deverá seguir no sentido não do aumento da despesa, mas precisamente do investimento. Um segundo eixo de importância para as duas repúblicas tem a ver com a energia – que tem de ser “produzida a baixos custos”, para “gerar uma economia europeia mais competitiva”. Montenegro referiu ainda um terceiro eixo, o da língua – um tema que chegou a ser, para os franceses, um tabu, antes de ‘perderem a guerra’ com o inglês. Inteligência artificial e tecnologia têm também estado, disse o primeiro-ministro, no topo da agenda e “da mesa de trabalho” dos dois países.
Montenegro defendeu, para a Ucrânia, a “construção de plataformas comuns entre a Europa, os Estados Unidos e o Canadá”, que, “baseada no direito internacional”, encontre uma solução conjunta – num contexto em que “a França tem sido sempre um parceiro de construção de pontes”.
Para Macron, que já antes tinha referido a conjugação de interesses entre os dois países na “aventura” que tem juntado os dois países, mostrou-se novamente satisfeito pelo aumento do número de franceses que vivem em Portugal – e que já serão mais de 50 mil – e pela presença em França de mais de dois milhões de descendentes de portugueses.
Macron disse, como antes Montenegro, que a “aventura europeia” precisa de Portugal, de França, como dos outros, e de entendimentos que cumpram a função de desenvolver a economia e o bem-estar das populações, mas também a sua segurança. “Soberania tecnológica”, lembrou o presidente francês – para insistir que o investimento na defesa é agora fundamental. “É muito importante investir na defesa e na segurança, mas fazê-lo na Europa” e não em outras partes do mundo. “Estamos na vossa casa como na nossa”, disse.
Sobre as tarifas que vêm da Casa Branca (25% sobre as importações da União), Macron foi claro: “são uma tolice” – nomeadamente porque as duas economias estão profundamente ligadas, sendo certo, recordou, que o défice é realmente do lado dos Estados Unidos, mas apenas por uma margem que não devia ser preocupante para os Estados Unidos. “É preciso sermos lúcidos”, afirmou. Seja como for, a solução é, disse, a independência na cooperação – resta saber-se se, do lado de lá do Atlântico, volta a haver vontade para essa cooperação.
Luís Montenegro lembrou que “se houver aumento de tarifas nas trocas comerciais entre a Europa e os Estados Unidos, isso só será bom para os restantes blocos”. Até porque, face às tarifas impostas, terá de haver uma resposta ao mesmo nível, o que “colocará em causa todo o equilíbrio comercial” global que existia até agora.
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