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Madeirenses temem vaga de imigração da Venezuela

A Venecom e o Comando ConVZLA, liderados na Madeira por Ana Cristina Monteiro e Lídia albornoz, relevam ao JE a importância de existir intervenção internacional e dão conta do papel que os EUA podem ter na resolução dos problemas na Venezuela. Escalada da violência é outro cenário possível.
10 Fevereiro 2025, 07h00

A atual situação vivida na Venezuela pode levar ao regresso de madeirenses e lusodescendentes à Região Autónoma da Madeira, alertam a Associação da Comunidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira (Venecom) e o Comando ConVZLA Portugal/Madeira, ao Jornal Económico (JE).

Ambas as organizações relevam a importância de existir intervenção internacional e ainda dão conta do papel que os Estados Unidos podem ter na resolução dos problemas no país. A escalada da violência é outro cenário que as organizações temem que possa vir a acontecer.

Um estudo da Universidade Nova de Lisboa, intitulado ‘Os Portugueses na Venezuela’, de Nancy Gomes, referente a 2009, dava conta de 500 mil portugueses no país, sendo que 75% eram da Região Autónoma da Madeira.

A presidente da Venecom, Ana Cristina Monteiro, diz ao JE, que tem conhecimento de pessoas que estão a considerar regressar à Madeira (madeirenses e lusodescendentes) devido à situação que se vive na Venezuela, na sequência da tomada de posse, a 10 de janeiro deste ano, de Nicolás Maduro como presidente do país.

“Há pessoas que já nos têm contactado e que referem que estão a começar a pedir vistos de trabalho na Venezuela para vir para a Madeira”, refere Ana Cristina Monteiro. A responsável da Venecom diz que este sentimento de regressar à Região tornou-se ainda mais forte depois de Nicolás Maduro tomar tomar como presidente do país a 10 de janeiro.

“O que mostra que as pessoas de alguma forma já estão pensar que não haverá uma resolução em breve. E na verdade a situação, na Venezuela é complicada. As provas, as atas, mostram que Edmundo González Urrutia, obteve 67% dos votos [nas eleições presidenciais venezuelanas de 28 de julho de 2024]. No entanto, o Conselho Nacional Eleitoral deu vitória a Nicolas Maduro e a 10 de janeiro de 2025 Nicolás Maduro tomou posse como presidente”, explica a dirigente da Venecom.

Já a líder do Comando ConVZLA Portugal/Madeira na Região, Lídia Albornoz, diz que “acredita que vai haver um fluxo de pessoas a regressarem à Madeira” devido às “incertezas” que se vão gerar com a manutenção de Nicolás Maduro no poder.

A continuação de Nicolás Maduro no poder, reforça Lídia Albornoz, deve levar a que a Madeira tenha “mais encargos e mais pessoas a dependerem socialmente” da Região.

Ana Cristina Monteiro alerta que podem também existir efeitos face às decisões que a administração dos Estados Unidos, presidida por Donald Trump, venha a tomar na área das migrações.

Refira-se que Donald Trump tem ameaçado com deportação todos aqueles que estejam ilegais no país, algo que poderia afetar também a comunidade venezuelana e portuguesa que se encontra nos Estados Unidos.

Ana Cristina Monteiro diz que é preciso considerar que muitos desses venezuelanos que estão nos Estados Unidos, podem ser lusodescendentes, reforçando também que a comunidade lusodescendente nos Estados Unidos é “bastante forte”. Ana Cristina Monteiro alerta também que existem casos de migrantes “que estão numa qualidade quase de refugiados” nos Estados Unidos, que são da Venezuela.

Face às decisões que os Estados Unidos venham a tomar no campo da migração, Ana Cristina Monteiro diz que isso pode levar ao regresso de pessoas à Venezuela ou até para a Madeira.

Ana Cristina Monteiro alerta que existem situações de pessoas que se forem forçadas a sair dos Estados Unidos, “não poderão voltar” para a Venezuela devido não só à situação política da Venezuela mas também por serem identificados como opositores do regime de Nicolás Maduro.

“Podem ter problemas e por isso penso que essa decisão [que vier a ser tomada pelos Estados Unidos] também poderá ter algum efeito para a Europa, principalmente para Portugal, Espanha e Itália, que são as comunidades europeias com maior representação na Venezuela e ao nível dos lusodescendentes”, afirma Ana Cristina Monteiro.

Situação está difícil

“A Venezuela está mergulhada numa profunda crise sociopolítica, com Nicolás Maduro declarado vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, apesar da forte contestação da oposição. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), sob controlo governamental, deu a vitória a Maduro com 51,2% dos votos, enquanto a oposição, liderada por Edmundo González Urrutia, apoiado por María Corina Machado [líder da oposição venezuelana], alega ter obtido 67% dos votos com base em atas eleitorais paralelas. Esta discrepância levou a protestos massivos, repressão e uma divisão no reconhecimento internacional do Governo. María Corina Machado, embora impedida de concorrer, continua a ser uma figura central na oposição, liderando a luta pela democracia e sendo reconhecida como líder das forças democráticas pela comunidade internacional”, descreve a líder do Comando ConVZLA Portugal/Madeira na Região, Lídia Albornoz, sobre o ambiente que existe atualmente na Venezuela.

Refira-se que recentemente foi pago um prémio de 97 mil dólares para quem conseguisse encontrar Edmundo González Urritia, que em setembro de 2024, pediu exílio em Espanha. No caso de María Corina Machado, outra opositora do regime venezuelano, acabou por ser raptada, a 9 de janeiro (dia anterior à tomada de posse de Nicolás Maduro), quando se encontrava na Venezuela como parte de um protesto contra o regime, depois de ter estado escondida durante meses. María Corina Machado acabou por ser libertada.

A posição de Lídia Albornoz é também defendida por Ana Cristina Monteiro. A presidente da Venecom considera que as coisas estão “difíceis” para quem vive na Venezuela, tendo em conta que Maduro não só tomou posse como presidente do país, como também possui o controlo de todas as instituições da Venezuela.

“Nós não estamos a falar de um país onde exista democracia e separação de poderes. Na Venezuela o poder está nas mãos de uma pessoa só. Isto torna difícil às instituições serem suficientemente aguerridas para tomar uma decisão com base na lei e para fazer cumprir a lei”, afirma Ana Cristina Monteiro.

Associações pedem apoio internacional

A Venecom e o Comando ConVZLA Portugal/Madeira pedem apoio internacional face à situação que se vive na Venezuela.

Do lado da líder do Comando na Madeira, Lídia Albornoz, considera que o reconhecimento de Edmundo González Urrutia como presidente do país “poderia iniciar uma transição” contudo “enfrentaria grandes desafios” devido ao controlo que Nicolás Maduro tem sobre as instituições.

“A influência de María Corina Machado seria crucial para unificar a oposição e garantir uma transição pacífica”, diz Lídia Albornoz.

Num cenário em que o poder estivesse em Edmundo González Urrutia, com apoio de María Corina Machado, a líder do Comando ConVZLA refere que existiriam também desafios ao nível interno.

“A reconstrução económica e institucional exigiria um esforço massivo, com a oposição enfrentando resistência de grupos leais a Nicolás Maduro e uma economia em ruínas. A liderança de María Corina Machado poderia ajudar a canalizar apoio internacional e interno para a recuperação”.
Lídia Albornoz diz que a posição da administração norte-americana, presidida por Donald Trump, seria “crucial”. A líder do Comando na Madeira considera que Donald Trump “poderia intensificar sanções ou apoiar ações mais diretas, mas também enfrentaria a complexidade das relações internacionais”.
A líder do Comando ConVZLA na Madeira, refere que a administração de Donald Trump “já expressou apoio a María Corina Machado e Edmundo González Urrutia, o que pode influenciar negociações e o reconhecimento internacional”.

A presidente da Venecom, Ana Cristina Monteiro, defende que deve existir apoio internacional face à situação que se vive na Venezuela, de modo a que se “sensibilize” Nicolas Maduro e a sua equipa “para o cumprimento do que foi a voz do povo”, que elegeu Edmundo González Urrutia como seu presidente.

Ana Cristina Monteiro alerta também que ameaças de reforço das sanções económicas contra a Venezuela podem “aprofundar um pouco mais o isolamento internacional” do país, trazendo consequências para a população, que no entender de Ana Cristina Monteiro, são aqueles “que vão sofrer diretamente” com tudo isso.

Já a líder do Comando ConVZLA na Madeira, Lídia Albornoz, alerta também para a consequências de Nicolás Maduro continuar no poder na Venezuela.

“Nicolas Maduro poderia manter o poder, apoiado por forças militares e aliados internacionais como a Rússia e a China, mas isso provavelmente aprofundaria o isolamento internacional da Venezuela, com sanções ainda mais severas sob a presidência de Donald Trump“, defende Lídia Albornoz.

Organizações temem escalada de violência

Ana Cristina Monteiro teme também uma escalada da violência entre o povo da Venezuela e o Governo de Nicolás Maduro.

“Não gostaríamos que isso acontecesse mas penso que podemos chegar a um momento em que as pessoas fiquem cansadas desta espera, ou desistam, o que pode levar a violência ou protestos, o que consequentemente pode levar a uma maior repressão do Governo contra as pessoas. Embora Nicolás Maduro tenha tomado posse como presidente, ele não foi o escolhido pela população para ser o presidente. É isso que dizem as actas. Nicolás Maduro está a tentar passar a página, como se nada disso fosse importante. E eu penso que isso pode trazer uma escalada de violência”, diz Ana Cristina Monteiro.

Este tipo de cenário é descrito também por Lídia Albornoz caso Nicolás Maduro se mantenha no poder.

“A repressão contra a oposição, incluindo figuras como María Corina Machado, poderia aumentar, potencialmente levando a mais violência e protestos. A situação poderia escalar para níveis de insurreição ou até intervenção externa”, alerta Lídia Albornoz.

Ana Cristina Monteiro volta a insistir que a solução poderá passar pela diplomacia, ao nível internacional, para que sejam encontradas soluções que não só “satisfaçam os interesses de todos”  mas que também “faça cumprir” a voz do povo.

“Continuamos a considerar que é importante o reforço do apoio internacional. Não só para o reconhecimento de Edmundo González Urrutia como presidente da Venezuela mas também, para através da diplomacia, fazer cumprir o que foi a decisão do povo”, reforça Ana Cristina Monteiro.

Lídia Albornoz reforça, que num cenário em que Nicolás Maduro se mantenha no poder, a pressão internacional, especialmente dos Estados Unidos, “poderia forçar Nicolás Maduro a negociar concessões, talvez para novas eleições ou para aliviar a pressão económica”. A líder do Comando ConVZLA na Madeira salienta que a influência de Donald Trump “poderia ser decisiva” mas exigiria uma “diplomacia complexa, considerando os interesses geopolíticos” em jogo.

A responsável pelo Comando ConVZLA na Madeira reforça que a Venezuela “está numa situação crítica” com a “possibilidade de mudança” de Governo se Edmundo González Urrutia e María Corina Machado conseguirem legitimidade internacional, ou a continuação de um regime sob Nicolás Maduro, que “pode agravar ainda mais” a crise.
“A posição dos Estados Unidos, com Donald Trump à frente, será determinante, mas a resolução da crise venezuelana requer uma abordagem multilateral e cuidadosa”, diz a responsável pelo Comando ConVZLA na Madeira.
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