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Marques Mendes: “a maior parte dos atos de gestão da CGD não podem ser julgados porque já prescreveram”

“O segredo bancário é para proteger os depositantes e os devedores que cumprem. Não os incumpridores”, defendeu o comentador este domingo. Marques Mendes lembrou que a maioria dos atos de gestão da Caixa não podem ser julgados criminalmente porque prescrevem ao fim de dez anos. Também não poderão ser julgados pelo Banco de Portugal por causa do prazo de prescrição.
27 Janeiro 2019, 21h58

Na sua intervenção na SIC, que começou a ser transmitida em Paço d´Arcos, Luís Marques Mendes começou por elogiar o facto de Portugal ir receber as Jornadas Mundiais da Juventude em 2022. “É uma grande notícia para os católicos, e no caso deste Papa, também para os não católicos”.

Mas também é uma boa notícia para Portugal, defendeu explicando que “teve um peso na escolha a relação de Portugal com África (lusófona e francófona). Vai ser uma semana em junho de 2022 que vai trazer mais pessoas de todo o mundo que o Euro 2004″, disse.

Depois rapidamente passou ao tema da semana. A auditoria à Caixa Geral de Depósitos (CGD) confirma que “entre 2005 e 2010 foi um verdadeiro regabofe. Foi um caso de polícia”, disse Marques Mendes.

“Se um cidadão anónimo pedia à Caixa um pequeno empréstimo, exigiam-lhe couro e cabelo – hipoteca, aval, fiança, tudo. Já para emprestar milhões a alguns “figurões” do regime, nesses anos, eram só facilidades. Emprestavam milhões sem garantias. Uma indecência” qualificou o comentador.

“Mas também acho uma vergonha a luta partidária em torno deste tema. Sobretudo entre PSD e PS. É que todos têm culpas no cartório. Era mais edificante corrigir o que há a corrigir para o futuro em  vez de estarem neste pingue-pongue de acusações e contra-acusações”, disse Marques Mendes.

Finalmente, disse que  “é uma vergonha o abuso que se faz do segredo bancário. O segredo bancário é para proteger os depositantes e os devedores que cumprem. O segredo bancário não é para encobrir incumpridores, gestores irresponsáveis e más práticas de gestão”.

“Por isso, a primeira obrigação do Estado (Ministério da Finanças) era divulgar versão definitiva da auditoria à Assembleia da República e ao país, quanto muito suprimindo os nomes dos beneficiários para que tudo fique clarificado”, defendeu.

O principal responsável para Marques Mendes tem um nome: José Sócrates. Foi durante o seu Governo que se praticaram “os atos mais ruinosos” e foi ele que “patrocinou”.

No plano da supervisão, o grande responsável é o Banco de Portugal, então liderado por Vítor Constâncio. “Nunca viu nada mas deu o aval a gestores irresponsáveis, como Armando Vara”, rematou.
Para Marques Mendes, no plano da gestão, as grandes responsabilidades pertencem às Administrações lideradas por Santos Ferreira e por Faria de Oliveira.

“E, agora, o que fazer?” Questiona o comentador, que responde que “há sobretudo duas tarefas essenciais. Ir atrás dos incumpridores, porque ainda há muito dinheiro que pode ser recuperado. Depois é preciso agir sobre aqueles administradores que manifestamente se prove que tiveram falhas e que têm de ser chamados à sua responsabilidade”, disse Marques Mendes que defende que “se impõe fazer uma nova Comissão de Inquérito Parlamentar, porque a anterior acabou em águas de bacalhau.

O comentador, que é advogado de profissão, explicou ainda que “em boa verdade algumas destas matérias deviam dar processos-crime por gestão danosa. Mas na prática já prescreveram, excepto aqueles que já estão a ser investigados no âmbito da Operação Marquês”.

“Provavelmente alguns gestores teriam em cima deles processos de contra-ordenação do Banco de Portugal, mas também já prescreveram”, disse ainda o comentador.

As responsabilidades criminais e contraordenacionais já estão prescritas, revela Marques Mendes, para defender que é preciso uma nova Comissão de Inquérito para se “apurarem, ao menos, responsabilidades políticas, institucionais e operacionais”. Se os partidos não fazem isso “acabam a ser cúmplices desta vergonha nacional”.

Hoje também o advogado Manuel Magalhães de Silva, na sua página do Facebook, chamava a atenção para a prescrição do atos.

“Diz-se, os factos mais escandalosos terão ocorrido entre 2005 e 2007, sem que alguém, até agora, tenha sido constituído arguido. Com prazos de prescrição (criminal e, consequentemente, civil) para os crimes que poderão ter ocorrido – gestão danosa, corrupção e figuras semelhantes – que serão, no máximo de dez anos, que clima de, no mínimo, frustração se estará a criar quando se exige investigação rápida e punição/responsabilização dos implicados?! É que a passagem para 15 anos do prazo de prescrição de corrupções e afins, bem como de fraude na obtenção de subvenção ou subsídio, só entrou em vigor em 02 de março de 2012! E vigora, ainda, a regra da lei mais favorável. Resta o “albergue espanhol” do branqueamento de capitais, que tem pena de 12 anos e prescrição de 15 desde 2004”, escreveu o advogado Manuel Magalhães e Silva. A prescrição que foi agora também lembrada pelo comentador político da SIC.

Primeiro-ministro anda irritado

“O PM anda muito irritado, com os nervos à flor da pele, perturba-se com facilidade”, disse Marques Mendes citando o caso caso do Bairro da Jamaica, e da resposta de António Costa sobre a sua cor da pele.

Na opinião do comentador essa irritação tem a ver com três coisas. “Primeiro, António Costa alimentou a ideia de ter uma maioria absoluta e vê esse objectivo a fugir-lhe cada vez mais. Apesar de a economia estar a crescer e de o PSD estar no estado em que está. Isso perturba-o. Segundo António Costa anda saturado politicamente da geringonça, e particularmente com o Bloco de Esquerda. Mas não vê alternativa para o futuro. Isso enerva-o”, disse.
Em terceiro lugar “António Costa sabe que vai ganhar eleições, mas sem maioria, com dificuldades e desgaste da geringonça ele já se está a ver num papel de Guterres 2, com um pântano.  Tanto mais que, com o abrandamento da economia, o tempo das “vacas gordas” está a terminar. É que governar em tempo de vacas magras e sem maioria pode ser um desespero”.

 

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