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O MBA já não é o que era ou a fábula da raposa e das uvas que estão verdes

Francisco X. Froes analisa o estado da arte, faz o contraponto entre MBA e Mestrados e olha para o mercado internacional, apontando a perda de competitividade nacional face, por exemplo, à vizinha Espanha que tem três MBA entre os 20 melhores do mundo.
21 Março 2025, 15h29

Tive a sorte de tirar o meu MBA aquando do recém-constituído programa conjunto Nova-Wharton. Extraordinária iniciativa do Professor Alfredo de Sousa que, assim, conseguiu catapultar a área de gestão da, também recém-criada, Nova, para a frente da corrida com a Católica. A qualidade do ensino, provinda dos métodos usados e qualidade dos professores americanos que cá vinham passar as últimas da gestão, permitiu criar uma mole dos mais destacados académicos, gestores e empresários que passaram a pontificar em Portugal. Dessa extraordinária experiência e sabedoria emanante, viriam a beneficiar as licenciaturas e mestrados, entretanto criados. Catapultando também estes para o topo da tabela Nacional, entenda-se. Wharton, cujo MBA se apresenta, este ano, em 1º no ranking do FT, com o da Nova- -Católica que, entretanto, se juntaram, em 74º. Triste.

Liderar é inspirar pelo exemplo. Ter a coragem de assumir uma visão e daí não tirar o foco até a concretizar. E como nunca nada está 100% concretizado, nunca daí tirar o foco. A obsessão de George Washington, Steve Jobs, Gandhi. Dizem os mais avisados: “Um programa partilhado por duas escolas rivais dificilmente vai ter um grande investimento de qualquer uma, e o investimento necessário para um MBA top 20 é, mesmo, muito grande”. Também se ouve: os Mestrados são mais rentáveis do que o MBA. Certo.

Se o enorme investimento é feito na marca e qualidade do produto premium, ajuizado é que parte dessa rentabilidade, a maior, seja passada, usufruída, recuperada, pelos mestrados abaixo. Para onde escorre essa mesma qualidade. E porque em maior quantidade, maior capacidade têm de captação. Retire-se, deixe-se morrer, o MBA numa escola, e os prospetos da qualidade dos seus mestrados seguirão o mesmo caminho. Mais tarde ou mais cedo. “Uma escola de negócios sem um forte programa de MBA não é uma escola de negócios de nível internacional”, dizia-me, no outro dia, o João Pena, CEO da Arboris, um dos nossos MBA- Nova-Wharton, entenda-se.

“O MBA já não é assim tão importante” (porque será que o FT lhes dá o peso que têm nos rankings?). “Mestrados, sim”. (Os últimos dois anos das antigas licenciaturas, comercializados, e bem, a preço premium). Também se ouve. Ignorando o facto da qualidade destes vir dos outros. Como na F1. Porquê o investimento? Tal como no MBA, por questões de marca e qualidade do produto. Rentabilidade direta, é difícil. Vinda de um, dois carros. Tal como no MBA. Mas é desse investimento que escorre a rentabilidade conseguida tanto pela marca, como pelos avanços tecnológicos em segurança e desempenho. Mercedes, Ferrari, Renault. Cintos de segurança, travões de disco, consumos, tudo escorrega do topo. Os carros não-F1, como os mestrados não-MBA, são, então, mais rentáveis.

“Não podemos competir com os americanos”, também se houve. Bom. Os nuestros hermanos, sempre mais aguerridos, corajosos, batalhadores (ainda hoje me pergunto como, graças as Deus, os conseguimos manter sempre (ou quase) do lado de lá da fronteira) têm três MBA, entre os 20 melhores. Resultado? As propinas cobradas nos mestrados são quatro vezes superiores às nossas. Aqui se aventa a fábula de Esopo, da raposa e das uvas que estavam verdes, porque não ao seu alcance, até que ao afastar-se, ouvindo um barulho de algo a cair, de imediato, se vira, na esperança das ditas, quando, afinal, era apenas um ramo.

Temos 55 mil PME em Portugal. Qualquer uma podendo usufruir da qualidade de gestores de topo. Entre dois candidatos do mesmo nível intelectual, emocional, valores, competência, consistência, um MBA outro Mestre, diga-me, meu claro leitor, qual escolheria. Sendo sua, a empresa. As matérias ensinadas são as mesmas. Mas no primeiro é donde originam, no segundo onde terminam. Professor do MBA, não gosta de ensinar no Mestrado. Professor de Mestrado, ambiciona ensinar no MBA. Método de ensino. No 1º, ambiente de pressão tão próximo da realidade quanto possível, onde o depressa e bem não há quem não é argumento plausível, face ao tempo e qualidade do trabalho do grupo do lado. No 2º, diferente.

Se a opção do caro leitor for MBA, a sua empresa terá que ser uma das 875 Grandes Empresas de Portugal para ter capacidade de recrutar da Wharton, INSEAD ou IESE. Sendo uma das mais de meia centena de milhar PME, essa capacidade recrutamento não a tem. De fora fica a possibilidade de usufruto da qualidade de gestão daqueles.

Igual questão põem os candidatos: “para ter um MBA de topo, tenho que ir para fora? Pagar, investir o que não posso?” Pergunta-se: não é o mercado suficiente apelativo para nele se investir? O mesmo servir? Não podemos ter, de novo, um MBA de topo em Portugal? Aos preços de cá? Com todos os benefícios do escorrer da sua qualidade para os Mestrados, assim elevando também a qualidade, valor e preço destes? A bem do ensino, economia, sociedade? Antes, era possível. Que o digam as centenas de empresas onde os mesmos proliferam e das suas qualidades de gestão usufruem.

Bem sei que são raras, pessoas como o Professor Alfredo de Sousa. Com a capacidade de ver as coisas como elas são e não como gostaríamos que fossem e assim definir um ponto válido de partida, estabelecer uma visão clara, objetiva e mensurável, liderando pela inspiração do exemplo. Mas o que é por muitos visto como um problema é, afinal, uma enorme oportunidade. 

A quem de direito.

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