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O ser humano no centro da organização

A gestão de recursos humanos deve ter como ideia-chave a “capacidade de ouvir” e estratégias para um impacto positivo. Mas como contribuir para uma organização mais feliz? A resposta foi debatida pelos líderes das empresas reconhecidas pelo Top Employers Institute em 2024 que se reuniram numa “Conversa ao Pequeno-Almoço” para trocar saberes e experiências.
4 Março 2024, 12h14

“Nas tendências para 2024 encontra-se o ser humano no centro da organização, sendo que as pessoas olham cada vez mais para o projeto em que trabalham e possibilidade de crescimento”, começou por afirmar Joana Pita Negrão, People & Culture Executive Diretor da NOVA School of Business and Economics, no encontro matutino que aconteceu, no final de fevereiro, no Hotel do Palácio do Governador, em Belém, Lisboa.

Uma visão estratégica que corresponde aos critérios da certificação do Top Employers Institute, que distingue empresas que contribuem para o desenvolvimento de melhores condições de trabalho e impacto positivo nos colaboradores. “Os principais critérios são abrangentes na área da gestão de pessoas. A abordagem é holística, mas existem duas dimensões principais, uma delas relacionada com a forma como se impacta positivamente os colaboradores a nível global e outra que analisa a política estratégica dos departamentos de gestão de pessoas e como se estão a estruturar para se posicionarem no sentido de potenciar a motivação e talento”, explicou Marisa Santana-Martins, Regional Acount Manager – Country Representative em Portugal.

As pessoas estão cada vez mais focadas na ideia de ter um propósito, uma palavra que antes não era muito utilizada, mas que foi repetida nas intervenções dos vários líderes neste pequeno-almoço organizado pelo Top Employers Institute, Jornal Económico e Forbes.  “Que palavra é esta que está cada vez mais em voga?” , questionou a responsável da SBE. “Antigamente as empresas lideravam os processos de recrutamento, decidiam quem queria recrutar, que tipo de competências, quando era a entrevista e a que horas. Neste momento, os candidatos são cada vez mais interventivos ao longo do processo de recrutamento. Questionam logo na entrevista qual é o propósito da organização e como podem crescer, quais as políticas de bem-estar e os modelos de flexibilidade”, acrescentou.

 

Maurício Marques, Head of HR da Natixis em Portugal, referiu a importância da consistência de práticas, inovação e propósito na política de gestão de pessoas através de uma abordagem em que se avalia não só o trabalho direto, mas também o contexto geral. É importante dar voz aos trabalhadores para que a cultura da empresa se possa aproximar das expetativas e realizações de quem lá trabalha, com inquéritos anónimos sobre o que é pertinente para cada pessoa. “Às vezes caímos no erro de pensar que sabemos o que alguém quer ou espera”.

Uma ideia com a qual Maria Tavares Leal, Head of People & Culture no Santander Portugal, concorda: não devemos supor os desejos dos outros. A responsável acredita que é necessário ajudar empresas e pessoas a prosperar, considerando que “um dos pontos principais da responsabilidade dos Recursos Humanos é conseguir ter colaboradores motivados”, sem deixar de lembrar que cada um de nós “é o CEO da sua própria carreira”. É também essencial personalizar, porque o que vai facilitar as condições de vida a uma mãe com filhos menores não é o mesmo que espera uma jovem, sem encargos familiares, que gosta de praticar desporto ou um trabalhador com mais idade que precisa de apoiar os pais idosos.

E o que se espera hoje não é o mesmo do passado, as expetativas reformularam-se e a sociedade está a redefinir-se. A pandemia veio mudar mentalidades, por exemplo no que concerne ao trabalho remoto ou até à coragem para transformar radicalmente o modo de vida. Audrey Marques, Head of Engagement & Employee Experience da Capgemini, sublinha que existem novas tendências no mundo laboral: “Hoje trabalhamos com diferentes nacionalidades e culturas, podemos trabalhar do estrangeiro e os líderes estão cada vez mais inclusivos seja no que se refere a impulsionar as igualdades entre homens e mulheres ou a integrar pessoas com deficiência nas empresas, apesar de ainda existir um longo caminho para percorrer”.

Susana Nunes, diretora de Recursos Humanos & Comunicação Interna da DECO Proteste, lançou a frase “saber é poder” para lembrar que é importante dar a conhecer internamente aos colaboradores o que se está a fazer para o bem-estar, o balanço entre a vida profissional e pessoal, a flexibilidade de horários e desenvolvimento das pessoas, porque o salário emocional também conta. “O mais importante é termos uma organização feliz”.

Mas como corresponder às expectativas individuais no contexto geral para atingir a felicidade no trabalho? Apesar da questão ser complexa, Inês Pimentel, Chief People Officer Arrow Global Portugal, acredita que “ouvir as pessoas é fundamental”. A transparência na comunicação é igualmente uma força motriz, exemplificando com uma iniciativa que teve muito sucesso nesta organização: a literacia financeira para os colaboradores, numa época em que as pessoas se debatem com a crise do mercado habitacional e inflação.

Nesta “Conversa ao Pequeno-Almoço”, o tema da Inteligência Artificial (IA) também esteve em cima da mesa. Filipa Figueira, HR Associate Director da MSD Portugal, lembrou que a evolução tecnológica está a mudar a indústria. “Existe a premissa de que a indústria farmacêutica é tradicional, mas esta ideia não corresponde à realidade.” A IA está na moda, “com tudo o que representa desde os medos aos desafios e à forma de trabalhar.  O caminho que está a ser traçado a nível tecnológico implica a transformação do próprio modelo de negócio.”

Maurício Marques, da Natixis Portugal, lembrou que as mais recentes tecnologias estão a revolucionar o mercado de trabalho, exemplificando com as ferramentas de IA para a seleção de candidatos capazes de estabelecer um match inicial entre as competências requeridas pela empresa e os currículos. “A IA é a nova Internet e permite um processamento de dados mais eficaz e a otimização de processos”.

Francisca Buccellato, Head of Brand, Communication & CSR da NTT Data Portugal, considera que não existe forma de encurtar caminho para a adaptação das empresas à nova realidade que exige uma implementação interna segura e ética. “A IA não vai parar, é um sim ou sim, temos de acompanhar o progresso tecnológico sem colocar nenhum cliente em risco, temos de nos reinventar porque caso contrário vai ser difícil ter um papel daqui a dez anos com as funções que desempenhamos atualmente.”

 

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