“Menos ecrãs, mais vida” e “manuais digitais nunca mais” foram as frases mais entoadas por encarregados de educação e alunos que se concentraram, ao final da tarde de hoje, à entrada da Escola Básica 2,3 Martim de Freitas.
No gradeamento da escola foi também colocada uma tarja pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação, que se juntou ao protesto, na qual se podia ler “manuais digitais como complemento, nada mais”.
Nesta ocasião, o coordenador nacional do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), André Pestana, sublinhou que esta é uma escola onde os alunos estão sujeitos à utilização exclusiva de manuais digitais, no âmbito de um projeto-piloto, que “está a privar estas crianças de poderem ter manuais em papel”.
“É algo que não se compreende, porque todos os dados indicam que os pais não estão satisfeitos, os professores não estão satisfeitos e todos os países, nomeadamente europeus como a Finlândia e a Suécia, que tinham avançado com isso há anos, recuaram e estão a reintroduzir novamente os manuais em papel”, alegou.
André Pestana disse que esta é uma medida que não se compreende, pois ao nível da saúde e ao nível pedagógico “é contraditória” e “os próprios alunos, pais e professores estão insatisfeitos”.
“Por isso, só por outras razões, eventualmente económicas e de negócio, mas que não são os interesses destas crianças e destas comunidades educativas, que têm o direito de exigir acesso aos manuais em papel, que todos os estudos indicam que em, termos pedagógicos e de saúde, são mais favoráveis para a aprendizagem e para a saúde das nossas crianças”, referiu.
O coordenador do Stop aludiu ainda a estudos da área da pedopsiquiatria, que indicam que estes alunos deviam estar no máximo duas horas por dia à frente de ecrãs.
“Só com os manuais digitais, sem contar com o tempo que passam a jogar em casa e até alguns já com ‘smartphone’, supera, em larga medida, essas duas horas diárias”, alertou.
Já a representante dos pais, Catarina Alarcão, explicou à agência Lusa que 655 encarregados de educação assinaram uma petição, através da qual dão conta do seu descontentamento com este projeto de uso exclusivo de manuais digitais.
“A minha filha faz parte da turma piloto que começou em 2021 e não nos foi dada oportunidade de dizer se queríamos que os nossos filhos integrassem o projeto ou não. Foi-nos apenas comunicado em setembro, numa altura em que já ninguém podia cancelar a matrícula ou mudar os alunos de escola e, portanto, isto começou mal desde o início”, indicou.
Para esta encarregada de educação, se pretendem implementar a digitalização do ensino, deveriam assegurar que a escola tem equipamentos e infraestruturas capazes de implementar o projeto em causa.
“Os computadores não têm qualidade, não conseguem descarregar os manuais ‘offline’ e os alunos para os consultarem têm de estar ‘online’. A internet da escola não aguenta, em casa são fraquíssimas, os computadores não têm qualquer tipo de filtro e vão e vêm todos os dias para casa às costas dos alunos”, contou.
A representante dos pais revelou ainda que a mochila da sua filha pesava, na semana passada, cerca de sete quilogramas, sendo “uma mera utopia que a mochila se torna mais leve”.
O protesto contou ainda com Catarina Prado e Castro, do Movimento Menos Ecrãs Mais Vida, que vincou que a petição pretende o fim do projeto-piloto, depois de se registarem sinais de grande descontentamento desde março.
“Oitenta por cento dos pais responderam ao inquérito de menos ecrãs, mais vida, indicando que estavam descontentes com o projeto e que queriam, em março, o seu fim. Ainda assim, a direção desta escola resolveu alargar o projeto e incluiu todas as turmas de sétimo ano”, lamentou.
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