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Paulo Rangel apresenta candidatura com críticas a Rui Rio e desafios a António Costa

“Não me conformo com um partido que está à espera de que o poder socialista se afogue no pântano ou caia de podre”, disse o eurodeputado que pretende ser eleito pelos militantes sociais-democratas nas diretas de 4 de dezembro. E garante estar preparado para triunfar nas legislativas de 2023 sobre o PS, que culpa por duas décadas de estagnação em Portugal.
  • Paulo Rangel
15 Outubro 2021, 18h11

O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel fez a apresentação oficial da sua candidatura à presidência do PSD com fortes críticas à oposição feita por Rui Rio e desafios a António Costa, dizendo estar preparado para vencer o líder socialista nas próximas legislativas. Como primeira medida caso venha a ser eleito pelos militantes do seu partido nas diretas marcadas para 4 de dezembro, Rangel disse que irá propor o regresso dos debates quinzenais com o primeiro-ministro na Assembleia da República.

“É absolutamente incompreensível que a atual liderança do PSD tenha, em conivência com o PS, abolido os debates quinzenais”, disse Paulo Rangel numa sessão realizada em Lisboa, realçando a sua experiência de antigo líder parlamentar para atestar a importância política desses momentos e apontando a decisão como “um erro enorme para a saúde da democracia” e um exemplo dos erros cometidos por Rui Rio ao longo dos últimos dois anos.

“Enquanto candidato a líder não me conformo com um partido que está à espera de que o poder socialista se afogue no pântano ou caia de podre”, realçou Paulo Rangel, dizendo que o PSD “não pode ser o partido da espera e tem de ser o partido da esperança”.

Quanto à possibilidade de o processo eleitoral em curso no PSD chocar com a possibilidade de legislativas antecipadas, num cenário em que não seja possível a aprovação da proposta de Orçamento do Estado para 2022, garantiu que não só considera isso “muito improvável” como a data das eleições diretas decidida no conselho nacional social-democrata realizado nesta noite de quinta-feira daria tempo para definir quem lideraria o partido num eventual confronto eleitoral. E, apesar de admitir que também o congresso do PSD poderia ser antecipado, Rangel salientou que a sua realização entre 14 e 16 de janeiro poderia mesmo contribuir para a campanha eleitoral.

A apresentação de Paulo Rangel, que deixara a primeira confirmação da candidatura na noite anterior, durante um congresso nacional em que Rui Rio saiu derrotado no que toca à marcação das eleições diretas e não confirmou se irá recandidatar-se a um terceiro mandato, arrancou com o eurodeputado a garantir que tem “todas as condições para unir o PSD”, devolvendo-lhe a vocação maioritária e conduzindo-o à vitória nas legislativas de 2023 com uma solução governativa estável.

Desafio da mobilidade social

Como grande desígnio dessa governação apontou a necessidade de reverter o “traço persistente” que identifica em Portugal enquanto “sociedade aristocrática e elitista, com grande resistência à mobilidade social” e em que “elites de todos os tipos”, sejam económicas, sociais ou culturais, continuam a reproduzir-se num ciclo de promiscuidade, cunhas e compadrio.

Criticando os “últimos 20 anos de estagnação resultantes de políticas socialistas”, marcados pela crise do défice excessivo e pela bancarrota que culminou na intervenção da troika, Paulo Rangel disse que as últimas décadas “ampliaram o enorme fosso na sociedade portuguesa”, revertendo a “revolução social” que durante o cavaquismo “lançou as bases de uma grande e forte classe média”. Em sua opinião, após as “duas décadas perdidas”, os portugueses vivem pior do que no início deste século, à medida que vários países recém-entrados na União Europeia ultrapassaram Portugal em indicadores sociais e económicos.

Sem poupar o “descalabro do PS socratista”, o candidato à presidência do PSD lançou um ataque à “agenda ideológica fundamentalista e radical do PS costista, agora refém dos extremos de esquerda”, em que os serviços de saúde “claudicam quase todos os dias”, a educação perde qualidade e exigência e as políticas ambientais parecem “orientadas para oportunidades de negócios de ocasião”, levando a que “ninguém consiga acreditar na capacidade regeneradora dos abundantes fundos comunitários” à disposição do Executivo de António Costa.

Entre outras críticas à governação socialista, Rangel deixou claro que o PSD que venha a ser liderado por si será “inflexível na defesa da independência dos tribunais e na liberdade de imprensa sem limites”, marcando diferenças entre a igualdade solidária preconizada pelos sociais-democratas e o igualitarismo que aponta ao PS.

Avisos ao Chega e à Iniciativa Liberal

Para que o PSD se venha a apresentar como a força partidária capaz de colocar Portugal “na rota do crescimento acelerado”, Paulo Rangel defendeu que terá como sua primeira tarefa enquanto líder promover o diálogo e consenso entre os mais variados quadrantes que dão “riqueza ideológica a um partido que vai do centro-esquerda até ao limite da direita moderada”. E, mesmo prometendo que abrirá o partido a quem não o apoie ou que o enfrente nas eleições diretas, não deixou de apontar que a atual direção nacional “fomentou um espírito de facção”.

Quanto ao estilo de oposição, Rangel assegurou que não defende que seja “ruidosa e trauliteira”, preferindo-a “credível e responsável”, mas deixou claro que “não pode ser silenciosa”. Referindo-se ao tom “por vezes arrogante” por parte do atual primeiro-ministro, o candidato à liderança social-democrata realçou que é preciso ser “firme, certeiro e consequente” ao fazer oposição. Algo que manifestamente não reconhece a Rui Rio, apontando três exemplos de “oportunidades perdidas” nos últimos dias, nomeadamente quanto ao “caos nos hospitais”, a “tentação tentacular do PS” quanto às ordens profissionais e, acima de tudo, o Orçamento do Estado. “Porque fomos os últimos a expressar o nosso juízo?”, inquiriu, mesmo reconhecendo que nesta sexta-feira Rio acabou por ter uma “opinião forte e clara de voto contra”.

Paulo Rangel prometeu uma “alternativa mobilizadora” e com uma “agenda reformista” em que o PSD lidere uma maioria que possa envolver “partidos e movimentos que vão do centro-esquerda até ao limite da direita moderada”, deixando a ideia de que mais depressa o PAN seria integrável num seu futuro executivo do que o Chega. Por outro lado, numa passagem do seu discurso que pareceu ter a Iniciativa Liberal como destinatário, Rangel defendeu um PSD “liberalizador mas não liberal”, na medida em que essa liberalização não deverá significar que “os interesses que colonizam o Estado venham a colonizar a sociedade”.

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