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Possível participação de russos nos Jogos Olímpicos de Paris gera discórdia entre Ucrânia e organizações internacionais

Como é habitual com o conflito na Ucrânia, a polémica passou as fronteiras russas e ucranianas e o assunto polarizou-se com organismos internacionais a favor da postura do COI, e alguns dos principais aliados de Kiev em oposição frontal à medida.
4 Fevereiro 2023, 16h56

A possível participação de atletas russos e bielorrussos nos próximos Jogos Olímpicos de Paris em 2024, protegida pelo Comité Olímpico Internacional (COI), foi, esta semana, um novo motivo de discórdia entre as organizações internacionais e a Ucrânia e os seus aliados, à medida que a guerra avança imparável para o seu primeiro aniversário.

Com a eclosão da guerra na Ucrânia, o COI tomou várias medidas com o objetivo de apontar o dedo diretamente à Rússia, e à sua aliada Bielorrússia, pela invasão da Ucrânia. O principal órgão olímpico proibiu os atletas de ambos países de participarem em eventos desportivos sob os símbolos nacionais.

Agora, com os Jogos Olímpicos de Paris no horizonte, o COI optou por considerar a participação de russos e bielorrussos no evento, sempre respeitando a proibição de exibição das suas bandeiras, para que o desporto recupere a sua “missão unificadora”, afirmou o presidente do COI, Thomas Bach.

Esta proposta, longe de aproximar Ucrânia e Rússia, significou uma nova fonte de discórdia entre os dois países, que chegaram apenas a acordos pontuais, de exportação de cereais e fertilizantes e várias trocas de prisioneiros, nos mais de onze meses que o conflito assola o Leste da Europa.

A partir de Kiev, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e alguns dos seus principais funcionários, como o ministro das Relações Exteriores, Dimitro Kuleba, ou o assessor presidencial Mikhailo Podoliak frisaram que a proposta ameniza a agressão contra a soberania nacional e a integridade territorial do seu país.

Enquanto Zelensky optou por um discurso mais suave, incentivando o COI a “reconsiderar” a sua proposta, o ministro das Relações Exteriores versou sobre vínculos entre atletas russos e militares, e o assessor presidencial acusou o Comité Olímpico de ser “promotor de guerra, assassinato e violência”.

Diante das acusações, o COI insistiu que, caso realmente participem, os atletas russos e bielorrussos comparecerão aos Jogos Olímpicos de Paris sempre cumprindo as referidas sanções desportivas que, dizem, “não são negociáveis”.

Na quinta-feira foi publicado um documento que respondia a questões sobre a polémica e no qual clarificavam que a participação dos atletas russos e bielorrussos poderia ocorrer já em competições na Ásia e durante este ano, sem nunca se referir os Jogos Olímpicos de Paris.

“Em nenhum dos documentos publicados pelo COI se encontram referências aos Jogos Olímpicos de Paris para atletas com passaporte russo ou bielorrusso”, realçou a organização, indicando que por agora “não é possível especular” sobre os participantes de Paris.

No entanto, observou que, em qualquer caso, estamos falando de atletas “neutros” que respeitariam as “condições rígidas” estabelecidas para evitar a exibição de símbolos nacionais, bem como o cumprimento dos regulamentos antidoping.

Divisão de opiniões a nível internacional

Como é habitual com o conflito na Ucrânia, a polémica passou as fronteiras russas e ucranianas e o assunto polarizou-se com organismos internacionais a favor da postura do COI, e alguns dos principais aliados de Kiev em oposição frontal à medida.

A favor da proposta do COI destacam-se as Nações Unidas, que apoiaram os esforços da organização para facilitar a participação de atletas russos e bielorrussos e colocando fim à “discriminação” que suponha a sua exclusão dos eventos desportivos. “Os atletas não deveriam ser discriminados pela sua nacionalidade”, apontaram esta semana membros da ONU.

Contudo, ONU e Ucrânia concordam na necessidade de evitar a todos os custos que os eventos desportivos possam de alguma forma tornar-se numa espécie de plataforma a partir da qual Moscovo, através dos seus atletas, exponha ao mundo a sua postura anti-Kiev.

Enquanto decorria a polémica, a Casa Branca saiu na quinta-feira em apoio ao COI na sua proposta, desde que a participação de atletas russos e bielorrussos ocorra sob bandeira neutra e evite representar o Estado agressor, a Rússia, e o seu principal aliado, a Bielorrússia.

No lado oposto da balança estão os próprios atletas ucranianos e aliados de Kiev, que se alinham com a posição de Zelensky e seus dirigentes para repreender o COI por uma medida com a qual consideram que a guerra ainda em curso está sendo levada de forma leve e se beneficia de dinheiro manchado com “sangue dos ucranianos”.

Talvez um dos principais sinais de apoio à Ucrânia tenha vindo do Comité Olímpico da Letónia, cujo presidente, Zorzs Tikmers, garantiu que, se os atletas russos e bielorrussos participarem do evento olímpico, a delegação da Letónia não comparecerá à competição em Paris.

Também a partir de Riga, o primeiro-ministro da Letónia, Krisjanis Karins, qualificou a posição do COI de “imoral” e acusou o órgão desportivo de traçar atalhos e buscar truques para que atletas russos e bielorrussos possam participar nas competições, ignorando a guerra declarada pelo seu país.

Por seu lado, a Polónia, outro dos países mais beligerantes com a Rússia e o principal apoio da Ucrânia, levantou a possibilidade de “boicotar” o evento olímpico em Paris se os atletas russos e bielorrussos comparecerem.

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