Em 2024, as previsões para a procura de petróleo sofreram uma alteração inesperada: num ano em que parecia que o consumo ia ser muito mais fraco que o normal devido ao abrandamento do crescimento económico, agora tudo aponta para uma procura superior à oferta, gerando uma escassez e uma consequente pressão sem alta sobre os preços. A força da economia dos Estados Unidos e de outras (como a Índia, por exemplo), está a ‘puxar’ os preços. Mas não só: também os problemas sentidos nas rotas do Mar Vermelho – atacadas pelos houthis do Iémen, estão a pressionar no mesmo sentido.
A questão é, neste momento, saber-se quando o pico no consumo de combustíveis fósseis será atingido – ou seja, quando é que a procura deixará de crescer para estagnar, ou para contrair. Os recordes históricos atingidos em 2023 não eram esperados: segundo a Agência Internacional de Energética (AIE), a procura foi de cerca de 101,1 milhões de barris por dia, e para os primeiros três meses de 2024 a agência prevê que volte a crescer mais 1,7 milhões de barris por dia – depois de ter crescido mais 1,4 milhões no primeiro trimestre. Os preços do barril já subiram quase 12% em 2024.
De acordo com cálculos da Vitol, uma das maiores traders de energia do mundo, a configuração de novas rotas alternativas para o Mar Vermelho aumentou a procura global de petróleo em 100 mil barris por dia, com os navios a serem obrigados a transitar pelo Cabo da Boa Esperança
Na semana passada, em Houston, Texas, foi realizado um dos eventos mais importantes do mercado de energia, a conferência CERAWeek da S&P Global, um encontro que foi marcado por repetidas alusões dos grandes players do sector à força da procura global. “Devemos abandonar essa fantasia de esquecer o petróleo e o gás e investir nesses recursos adequadamente, refletindo previsões realistas da procura”, disse Amin Nasser, CEO da Aramco, citado por vários jornais.
Russell Hardy, CEO da Vitol, confirmou que a empresa está tem teto esperado da procura em observação até o início de 2030, devido às menores expectativas para a adoção de veículos elétricos.
Entretanto, um estudo da consultora BCG prevê quatro cenários possíveis para o assunto. A crise no Mar Vermelho tem gerado impactos globais no sector do transporte marítimo de mercadorias e, consequentemente, no comércio global. De acordo com o estudo “Scenarios for Container Shipping in the Red Sea Crisis”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG). há quatro cenários possíveis para o seu desfecho – resolução imediata, continuidade em 2024, término no início de 2025 ou prolongamento durante o próximo ano e consequente crise regional.
O transporte marítimo no Mar Vermelho é responsável por 12% do comércio mundial e 40% do comércio entre a Ásia e a Europa. Com a intensificação dos ataques dos houthis, desde outubro de 2023, os transportadores já desviaram 80 a 90% dos seus navios da rota Extremo Oriente-Europa para sul, através do Cabo da Boa Esperança, aumentando em 30% o tempo de navegação para o Norte da Europa e com aumentos mais significativos para o Mediterrâneo Oriental, face ao período pré-crise.
“A crise no Mar Vermelho tem tido impacto substancial no comércio mundial, aumentando os prazos de entrega das mercadorias, bem como os custos de transporte, afetando negativamente as empresas e economias mais expostas”, afirma Carlos Elavai, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa, citado em comunicado.
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