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Procurador-geral da Venezuela classifica proposta de El Salvador como cínica

Em comunicado, Saab, para quem o Presidente salvadorenho, Nayib Bukele, admitiu “manter sequestrados 252 venezuelanos”, pediu “de imediato a lista completa com a identificação” de todas estas pessoas, “o estatuto judicial” e “relatório médico de cada um”.
Tutti-Frutti
21 Abril 2025, 08h29

O procurador-geral da Venezuela classificou como cínica a proposta do Presidente de El Salvador de repatriar os 252 venezuelanos deportados por Washington em troca da libertação de “presos políticos” no país sul-americano, incluindo de nacionalidade portuguesa.

Tarek Saab exigiu no domingo, além disso, prova de vida dos 252 migrantes detidos em El Salvador.

Em comunicado, Saab, para quem o Presidente salvadorenho, Nayib Bukele, admitiu “manter sequestrados 252 venezuelanos”, pediu “de imediato a lista completa com a identificação” de todas estas pessoas, “o estatuto judicial” e “relatório médico de cada um”.

O procurador respondeu assim a uma mensagem de Bukele, publicada na rede social X, na noite de domingo, que propõe uma troca de prisioneiros com a Venezuela, sugerindo entregar venezuelanos deportados dos EUA, detidos em El Salvador, recebendo “presos políticos” na Venezuela, incluindo de nacionalidade portuguesa.

Além do luso-venezuelano Williams Dávila, encontram-se detidos por motivos políticos na Venezuela outros três cidadãos portugueses com dupla nacionalidade, afirmou a organização não-governamental Foro Penal no início de março.

Na rede social X, dirigindo-se ao Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, Nayib Bukele propõe “um acordo humanitário que inclua o repatriamento de todos os 252 venezuelanos que foram deportados [dos Estados Unidos], em troca da libertação e entrega de um número idêntico (252) dos milhares de presos políticos” detidos na Venezuela.

Na publicação, o dirigente de El Salvador elenca uma série de nomes de familiares de figuras da oposição na Venezuela, como Rafael Tudares, genro de Edmundo González, e Corina Parisca de Machado, mãe de Maria Corina Machado, de jornalistas, como Roland Carreño, e de ativistas, como Rocío San Miguel, detidos durante a repressão eleitoral do Governo em 2024.

Nayib Bukele inclui também na lista “os quatro líderes políticos que procuraram asilo na embaixada da Argentina e outros presos políticos venezuelanos”, bem como “os quase 50 cidadãos detidos de outras nacionalidades: norte-americana, alemã, dominicana, argentina, boliviana, israelita, chilena, colombiana, equatoriana, espanhola, francesa, guianesa, neerlandesa, iraniana, italiana, libanesa, mexicana, peruana, porto-riquenha, ucraniana, uruguaia, portuguesa e checa”.

O luso-venezuelano Williams Dávila, o único cidadão português de dupla nacionalidade sob custódia das autoridades cuja identidade é conhecida, foi detido em 08 de agosto de 2024, após as eleições presidenciais de julho desse ano na Venezuela.

Antigo governador de Mérida, Williams Dávila, 73 anos, foi detido na Plaza los Palos Grandes (leste de Caracas) por homens armados, após uma vigília pelos presos políticos, em que participaram centenas de pessoas.

Portugal, a União Europeia e a Organização de Estados Americanos e a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos têm exigido a libertação do luso-venezuelano.

Nayib Bukele escreveu na publicação que “a única razão pela qual estão na prisão é por se terem oposto” a Maduro “e à sua fraude eleitoral”.

O chefe de Estado salvadorenho termina o texto referindo que o Ministério dos Negócios Estrangeiros de El Salvador “irá enviar correspondência formal” ao Governo venezuelano.

O Governo dos Estados Unidos chegou a um acordo com Nayib Bukele para enviar os imigrantes detidos nos Estados Unidos para o Centro de Confinamento de Terroristas, uma prisão de alta segurança sobre a qual tem havido alegações de abusos dos direitos humanos.

Como parte do acordo, cujos pormenores específicos não são conhecidos, Washington pagará a El Salvador seis milhões de dólares (5,28 milhões de euros) por ano para apoiar o sistema prisional daquele país centro-americano.

No total, os Estados Unidos enviaram mais de 200 imigrantes, na sua maioria venezuelanos, para esta prisão, acusando-os de pertencerem ao grupo criminoso transnacional Tren de Aragua.

De acordo com uma análise publicada na semana passada pela agência de notícias Bloomberg, 90% dos mais de 200 homens que os Estados Unidos detiveram em El Salvador não têm registo criminal em solo norte-americano.

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