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Que se passa com o acordo de paz em Gaza?

Por breves instantes, o mundo acreditou que havia um acordo de paz em Gaza. Horas depois, Israel deu início à investida sobre Rafah, tal como estava ‘prometido’ há várias semanas. Entenda melhor tudo o que está em causa neste processo.
8 Maio 2024, 07h30

Há um acordo de paz para Gaza?
Não.

 

Porquê?

Porque Israel acusa o Hamas de ter forjado uma versão “suavizada” (segundo uma autoridade israelita não identificada mas citada pela imprensa) do acordo, pelo que a sua concordância não é considerada válida. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a última proposta do Hamas para um acordo de cessar-fogo foi “destinada a sabotar a entrada das nossas forças em Rafah. Isso não aconteceu”. “Israel não permitirá que o Hamas restaure o seu domínio perverso na Faixa”. Israel não permitirá que reabilite as suas capacidades militares para continuar a nossa destruição”. “Israel não pode aceitar uma proposta que põe em risco a segurança dos nossos cidadãos e o futuro do nosso país”, insistiu Netanyahu.

 

As negociações continuam?

Sim – sem que se perceba bem porquê ou para quê. Netanyahu diz que instruiu a equipa de negociação israelita no Cairo a “permanecer firme” nas condições de Israel para a libertação dos reféns e na segurança.

 

Isso quer dizer exatamente o quê?

Quer dizer que Israel não assinará nenhum acordo de paz com o Hamas enquanto não destruir a organização. Dito de outra forma: Israel só assinará um acordo de paz quando não houver do outro lado ninguém para o assinar. Mas o gabinete de crise ‘vende’ outra perspetiva: após o início das operações de combate em Rafah, o ministro Benny Gantz afirmou, citado pela imprensa israelita, que, embora Israel esteja disposto a “continuar e expandir” os combates “conforme seja necessário”, Telavive ainda está aberta a um acordo que possa resgatar os reféns. Segunda-feira, “iniciámos uma operação militar na área de Rafah, que continuará e se expandirá conforme seja necessário. Em qualquer fase a que possamos chegar a um esboço para o regresso dos reféns, vamos fazê-lo. Essa tarefa tem a maior prioridade”. ”As nossas conquistas, mesmo que demorem muito tempo a serem alcançadas, devem ser estratégicas – e o regresso dos reféns é o primeiro objetivo estratégico, ao lado da necessidade de remover a ameaça do Hamas e garantir que tal ameaça não reapareça.”

 

Quais são as ‘linhas vermelhas’ de que Israel não abdica?

Exatamente a destruição do Hamas – única forma, diz o gabinete de crise israelita, de garantir uma paz duradoura e a segurança total dos seus cidadãos. Depois disso, há ainda a firme intenção de resgatar os reféns – qualquer que seja o número dos que ainda se encontram vivos. Mas as duas linhas de ação parecem largamente incongruentes entre si.

 

Entretanto, o que se passa em Rafah?

Israel continua a campanha militar para capturar a travessia de Rafah para o Egipto. “Um passo muito importante” para destruir as capacidades militares restantes do Hamas, refere Netanyahu.

 

O que dizem os países que suportam Israel?

Os Estados Unidos afirmam estar convencidos que, tal como Israel lhe anunciou, a operação em Rafah é limitada e projetada para evitar que armas e fundos sejam contrabandeados para Gaza, disse o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby.

Por seu turno, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock (do partido Verdes), advertiu Israel face ao lançamento de “uma grande ofensiva contra Rafah”. “Alerto fortemente contra a realização de uma grande ofensiva contra Rafa”, escreveu numa rede social. “Um milhão de pessoas não podem desaparecer no ar. Elas precisam de proteção. Elas precisam urgentemente de mais assistência humanitária”, acrescentou, exigindo que “as passagens fronteiriças de Rafah e Kerem Shalom sejam reabertas imediatamente”.

O Ministério das Relações Exteriores da França disse que o país não concorda com a decisão de Israel sobre o lançamento de uma ofensiva em Rafah, acrescentando que o deslocamento forçado de uma população civil constitui um crime de guerra.

 

E os que não o suportam?

Os ataques terrestres de Israel a Rafah um dia depois de o Hamas ter afirmado aceitar uma proposta de cessar-fogo, mostram que Telavive não está a agir de boa fé, afirma o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia, acrescentando que Israel deve retirar-se imediatamente da cidade. O porta-voz turco Oncu Keceli diz que a operação de Israel ocorre “no meio de um desenvolvimento positivo para acabar com a destruição e o massacre em Gaza” e afirma que o status quo em Rafah e a passagem de fronteira devem ser restaurados sem demora. “Uma ofensiva em Rafah afetará não só a região, mas o mundo inteiro. Israel deve retirar imediatamente do lado de Gaza da passagem fronteiriça de Rafah”. O presidente turco, Recep Erdogan, assumiu recentemente a defesa dos palestinianos como uma causa nacional e posicionou-se como parte interessada – mas não conseguiu ‘um lugar’ à mesa das negociações – onde continuam sentados apenas o Qatar, o Egipto e os Estados Unidos.

Do seu lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se com veemência sobre a invasão de Rafah por Israel. Guterres junta-se a outros líderes mundiais na sua oposição a uma operação militar contra a cidade no sul de Gaza – onde pontifica a China, por exemplo. “A China apela firmemente a Israel para que atenda aos vários pedidos da comunidade internacional, pare de atacar Rafah e faça tudo o que estiver ao seu alcance para evitar uma crise humanitária mais grave na Faixa de Gaza”, declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian.

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