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Refinaria de Cabinda garante financiamento de 335 milhões de dólares

Este valor serve para assegurar a primeira fase do projeto dos 473 milhões de dólares, com o restante valor a ser assegurado pelos acionistas, estando agora assegurada a totalidade do financiamento. O projeto terá capacidade para assegurar 20% dos produtos petrolíferos consumidos em Angola.
13 Julho 2023, 10h02

A Refinaria de Cabinda garantiu o financiamento de 335 milhões de dólares (70% do total, 300 milhões de euros) que vai servir para assegurar a primeira fase de construção do projeto que tem um custo total de 473 milhões de dólares (423 milhões de euros). Os restantes 138 milhões de dólares serão assegurados pelos acionistas da companhia. Contas feitas, o projeto já assegurou a totalidade do financiamento.

A infraestrutura está a ser implementada pela Gemcorp Holdings Limited (GHL), um fundo sediado em Londres, no Reino Unido com 90% da sociedade, em parceria com a petrolífera pública angolana Sonangol (10%).

“A linha de crédito agora aprovada cobre a primeira fase de construção da Refinaria de Cabinda, a qual vai permitir o processamento de 30 mil barris de petróleo bruto por dia. Posteriormente, a segunda fase da refinaria acrescentará mais 30 mil barris/dia, elevando a capacidade total de refinação para 60 mil barris por dia”, pode-se ler no comunicado.

O documento detalha que após a conclusão da primeira fase, a refinaria deverá fornecer cerca de 10% dos derivados de petróleo refinado consumidos em Angola, valor que aumenta para 20% concluída a segunda fase.

Durante a sua construção, a Refinaria de Cabinda vai criar mais de 1.300 empregos directos e indirectos.

O financiamento de 335 milhões de dólares foi assegurado através de project finance por um sindicato bancário liderado pela Africa Finance Corporation (AFC), o African Export-Import Bank (Afreximbank) e um conjunto de instituições financeiras internacionais e locais.

O consórcio de financiamento também conta com a participação do Industrial Development Corporation (IDC) da África do Sul, o Arab Bank for the Economic Development in Africa (BADEA) e o Banco de Fomento Angola (BFA).

“Este investimento assume um papel importante na segurança energética de Angola e na criação de oportunidades de emprego local, ao mesmo tempo que promove as capacidades tecnológicas do país. Vai também contribuir para a redução da dependência do país relativamente às importações e para e responder com recursos locais às necessidades das suas empresas e dos seus cidadãos”, segundo o comunicado.

O CEO da Gemcorp, Atanas Bostandjiev, disse em comunicado que a sua empresa está “extremamente satisfeita com o investimento em curso na Refinaria de Cabinda, porque este projeto não só tornará Angola mais independente relativamente ao exterior, como alavancará a utilização dos seus recursos naturais em benefício das comunidades e da sua economia em geral. Temos beneficiado grandemente da experiência e do trabalho efectuado em estreita colaboração com a equipa da Sonangol, assim como das da Africa Finance Corporation e do Afreximbank, parceiros que partilham connosco a convicção de que esta infraestrutura será capaz de dinamizar a economia local e de mudar a vida de muitos cidadãos angolanos”.

Este acordo permite arrancar com o projeto, que vai permitir processar 60 mil barris de crude por dia e é visto como um game changer pelo seu impacto na economia economia angolana e na situação política, económica e social do enclave de Cabinda.

Com uma produção superior a um milhão de barris por dia, Angola ultrapassou recentemente a Nigéria como a principal produtora de petróleo em África, mas falta-lhe capacidade de refinação, pelo que se vê obrigada a importar combustíveis. O país conta apenas com uma refinaria do grupo francês Total, construída ainda na era colonial. Com a refinaria de Cabinda e uma outra no Soyo, que deverá iniciar a produção em 2025, a capacidade de refinação de Angola deverá mais do que duplicar até 2025, para 250 mil barris por dia. Desta forma, o país visa tornar-se auto-suficiente e também começar a exportar derivados de crude. E em Cabinda poderá nascer um polo de indústria química, devido à existência da refinaria.

O projeto contará com unidades de destilação de petróleo bruto, de dessalinização, de tratamento de querosene, oleodutos e um terminal de armazenamento que terá uma capacidade superior a 1,2 milhões de barris de petróleo bruto. Na segunda e terceira fase está prevista a construção de unidades de reformação catalítica, hidrotratamento e craqueamento catalítico. Após a conclusão do projeto, a refinaria de Cabinda vai produzir gasolina, gasóleo, gás liquefeito e querosene, entre outros.

O governo angolano tem defendido que o projeto não envolve custos para o erário, uma vez que o investimento será suportado pela Gemcorp, que é liderada pelo búlgaro Atanas Bostandjiiev (ex-Goldman Sachs).

Por outro lado, a construção da refinaria em Cabinda é vista como uma forma de melhorar as condições de vida na província e desincentivar as tentações independentistas.

A construção da primeira refinaria em Angola desde a independência do país, em 1975, tem sido uma das bandeiras do presidente João Lourenço desde 2017. O arranque da produção chegou a estar previsto para o final de 2022, mas a pandemia e a guerra na Ucrânia provocaram atrasos no projeto, segundo disse em janeiro o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás de Angola, Diamantino Azevedo.

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