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Respostas Rápidas: O que está em causa nas buscas realizadas pelo Ministério Público?

O Ministério Público, através do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), e a PSP estão a realizar esta terça-feira mais de 40 buscas no âmbito da investigação aos negócios de hidrogénio e lítio. Diligências centram-se em São Bento, em vários ministérios e residências de atuais e antigos ministros.
7 Novembro 2023, 13h41

Buscas, detenções e reuniões. O panorama político nacional encontra-se esta terça-feira no centro das atenções do Ministério Público e da Polícia de Segurança Pública, por suspeitas de crimes a envolver negócios de hidrogénio e lítio. O primeiro-ministro António Costa já esteve reunido com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tendo ambos já cancelado os compromissos que tinham para o dia de hoje.

Onde estão a ser realizadas as buscas?

O Ministério Público através do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e a PSP estão a realizar esta terça-feira mais de 40 buscas. As buscas decorrem na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, e também nos Ministérios do Ambiente e da Ação Climática e das Infraestruturas. Também as residências do ministro das Infraestruturas João Galamba e do ex-ministro do Ambiente Matos Fernandes estão a ser alvo de diligências, bem como a Câmara Municipal de Sines.

Em comunicado, a PGR avança ainda que no âmbito de inquérito dirigido pelo Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), estão a ser realizadas diligências de busca para identificação e apreensão de documentos e outros meios de prova de interesse apara a descoberta da verdade”.

A PGR dá conta que foram autorizadas 17 buscas domiciliárias, cinco buscas em escritório e domicílio de advogado e 20 buscas não domiciliárias, designadamente em espaços utilizados pelo chefe do gabinete do primeiro-ministro; no Ministério do Ambiente e da Ação Climática, no Ministério das Infraestruturas e na Secretaria de Estado da Energia e Clima; na Câmara Municipal de Sines; e na sede/espaços de outras entidades públicas e de empresas.

O que está na base da investigação do MP?

No âmbito da investigação estão negócios de hidrogénio e lítio em Portugal. A investigação, que a PGR acompanha desde 2019, analisou os contratos realizados para a exploração de lítio em Montalegre e do projeto de hidrogénio verde em Sines.

Em causa poderão estar, designadamente, “factos suscetíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência”. Segundo a PGR, estão a ser investigados factos relacionados com: as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas); um projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, apresentado por consórcio que se candidatou ao estatuto de Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu (IPCEI); o projeto de construção de “data center” desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus.

Quem são os envolvidos neste processo?

“Público” avança que entre os detidos estão Diogo Lacerda Machado, empresário conhecido como “melhor amigo” de António Costa, e Vítor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro, bem como o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas. Foram também detidos dois executivos de empresas ligadas ao caso.

Deverão ser constituídos arguidos alguns nomes ligados a António Costa, como o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e o antigo ministro do Ambiente, Matos Fernandes.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o presidente da APA, Nuno Lacasta, foram constituídos arguidos, aponta a PGR.

Qual a reação de São Bento?

O gabinete do primeiro-ministro confirma as buscas em São Bento, em específico ao “gabinete do chefe de gabinete do primeiro-ministro”. No entanto, optou por não comentar a detenção do chefe de gabinete Vítor Escária.

Em resposta ao Jornal Económico, a assessoria afirmou que “não comentamos a ação de justiça”.

O que dizem os partidos e especialistas políticos?

O PCP considerou, esta terça-feira, que devem ser apuradas e retiradas as “devidas consequências” na sequência das buscas no Ministério Público que envolvem o chefe de gabinete de António Costa e dois ministros do atual Governo.

“Sobre as notícias de buscas relacionadas com o processo dos negócios do lítio e hidrogénio, envolvendo o Governo, o PCP considera que devem ser concluídos os apuramentos e retiradas as devidas consequências das conclusões a que se chegar”, disse o partido liderado por Paulo Raimundo ao Jornal Económico.

Já o presidente do Chega, André Ventura, pediu a demissão do ministro das Infraestruturas, João Galamba, na sequência das buscas do Ministério Público que envolvem membros do Governo.

Em declarações à “SIC Notícias”, André Ventura vincou que apesar da informação disponível “ainda ser curta”, o atual ministro das Infraestruturas “tem de sair já” do Governo.

Ventura também recordou que partido tinha considerado a nomeação de João Galamba, à data da posse, uma “ofensa à justiça” dada a informação “que já circulava” sobre o caso.

Por sua vez, o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, considerou que António Costa não reúne condições para continuar a ser primeiro-ministro e apela à sua demissão. “Não podemos ter um primeiro-ministro em funções com o seu círculo íntimo detido ou arguido num processo desta gravidade”, disse Rui Rocha sobre as buscas desta manhã do Ministério Público, que envolvem membros do Governo.

Para a Rui Rocha, “se o primeiro-ministro não tem um padrão ético, que imponha a sua demissão neste momento”. Então, a IL faz “um apelo ao Presidente da República”, pedindo a dissolução da Assembleia da República.

“Se isto, de facto, tiver as proporções que se adivinham que podem ter, em condições normais e numa Europa civilizada, levaria à demissão do primeiro-ministro. Isto é, o próprio primeiro-ministro deveria tirar consequências políticas daquilo que se passou, caso se confirme a gravidade dos factos agora indiciados”, refere em declarações ao Jornal Económico, o politólogo José Palmeira.

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