Após a polémica detenção de José Sócrates no caso Marquês, Mário Soares foi das visitas mais frequentes ao ex-líder do Partido Socialista. Em entrevista, ontem à noite, ao programa 360º da RTP, Sócrates lembrou o percurso de luta política de Soares, mas também a presença do socialista neste momento particular” da sua vida.
Preferindo “enaltecer a memória do homem público de Mário Soares”, o ex-primeiro ministro português acabou por reconhecer que o percurso político do ex-líder socialista – com uma importância fundamental na “construção de uma cultura de companheirismo político” – se confunde com o “homem encantador do ponto de vista pessoal”.
Sócrates reconheceu razão a Mário Soares, em divergências passadas: “tive com Mário Soares divergências dentro do Partido Socialista – quando entrei para o PS eu era da oposição à direção do Partido, era mais próximo do ex-secretariado – mas hoje olho para trás e para esse momento e reconheço que Mário Soares tinha toda a razão na sua luta, coisa que na altura eu pensava que não tinha”.
Confessou, ainda, que a aproximação entre os dois aconteceu com a candidatura de Mário Soares às presidenciais de 2006 e “foi a partir daí que começámos a estar mais vezes juntos”, recordando que “ o que Mário Soares fez por mim no último ano, nos últimos dois anos, nunca o esquecerei. Estará sempre no meu coração. Mas isso são sentimentos pessoais”.
“Foi sempre alguém que lutou pela sua convicção, pelo seu ponto de vista”, acrescentou José Sócrates. “Mas nunca deixou de defender os seus adversários políticos quando isso era necessário. E isso deu-lhe uma grandeza que lhe permitiu ter uma coleção de amigos muito diversificada e muito rica”.
O ex-primeiro ministro, Q ue chegou a visitar o ex-presidente português no Hospital num momento que descreveu como “apaziguador”, sublinhou a luta de Soares pela liberdade e democracia, com influência “não apenas em Portugal” mas naquela que ficou conhecida como a terceira vaga de democracia na Europa. “Conseguiu transformar velhos inimigos em leais adversários”, sustenta Sócrates como a melhor forma de descrever o projeto político de Mário Soares para a democracia portuguesa após o 25 de abril.
José Sócrates elogiou-lhe a influência da liderança no Partido Socialista, sustentando que “moldou e formou a cultural política” do partido. O antigo líder do PS é descrito ainda como “amante do risco”, gostando de “ir contra a corrente, contra o pensamento dominante e isso fazia dele uma personagem encantadora”. “Ele tinha a estética da rutura”, defendeu na entrevista.
Em declarações à TVI24, o ex-primeiro ministro atribuiu-lhe ainda o título de “político mais importante e mais influente da segunda metade do século XX no nosso país”. Para o ex-líder do PS, “Mário Soares foi um político em primeiro lugar, um combatente. Um combatente pela liberdade” e que “não tem paralelo na história recente”.
Ainda à TVI24, José Sócrates defendeu que Soares “nunca foi paternalista e nunca aceitou o paternalismo como uma linha política”.
Para Sócrates, “era muito fácil não gostar de Mário Soares, mas era muito mais fácil adorar Mário Soares”, proferiu à RTP. “Ele não gostava nem dos indiferentes – nunca foi indiferente a nada – nem daqueles que fazem uma carreira política de tal forma transversal, querendo agradar a todos”.
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