Os Países Baixos – região conhecida desde sempre pela sua tolerância relativamente aos judeus perseguidos por uma parte substancial da Europa – continuaram ao longo do fim-de-semana a ser palco de fortes conflitos que começaram após o jogo de futebol entre o Ajax de Amesterdão e o Maccabi de Telavive, que teve lugar na passada sexta-feira. Segundo as agências noticiosas, a polícia neerlandesa prendeu este domingo mais de cem manifestantes pró-palestinianos que desafiaram a proibição de manifestações em Amesterdão.
Centenas de manifestantes reuniram na Praça do Dam, no centro da cidade proferindo palavras-de-ondem como “Palestina Livre” e “Amesterdão diz não ao genocídio”, em referência à guerra em Gaza. Um tribunal local ratificou a proibição do Conselho Municipal, que interditou a organização de qualquer manifestação pelo menos até à próxima quinta-feira, na tentativa de acabar com os protestos. Mas os manifestantes voltaram à rua e a polícia interveio. Os detidos foram levados para os arredores da cidade, disse a porta-voz da polícia, Ramona van den Ochtend, sem confirmar quantos foram efetivamente presos. Pelo menos um manifestante foi levado de ambulância para um hospital, juntando-se a um grupo de pelo menos cinco pessoas que ficaram feridas na sexta-feira
Os organizadores do protesto disseram numa mensagem nas redes sociais que estão indignados com o enquadramento da agitação em torno da partida de futebol como antissemita e recusaram a proibição dos protestos. Recusamo-nos a permitir que a acusação de antissemitismo seja usada como arma para suprimir a resistência palestiniana”, escreveram.
Quatro pessoas permanecem detidas por suspeita de atos violentos, incluindo dois menores, e outras 40 pessoas foram multadas por perturbação da ordem pública, incluindo vandalismo. Os israelitas que faziam parte do de apoiantes do Maccabi queimaram uma bandeira palestiniana e usaram paus, canos e pedras nos confrontos com os oponentes.
O chefe de polícia local, Olivier Dutilh, disse ao tribunal no domingo que a proibição dos protestos ainda era necessária, pois os incidentes que apelidou de antissemitas continuaram ao longo de sábado e domingo. Os Países Baixos – destino de uma parte substancial dos judeus portugueses que foram perseguidos pela Inquisição a partir da sua expulsão, em 1496 – têm registado o aumento nos incidentes com israelitas ou face a interesses israelitas. Chamar-lhes antissemitismo é, evidentemente, distorcer aa sua natureza e tentar aproximar os manifestantes de práticas que não estão na órbita das suas preocupações.
A partida de futebol entre as seleções francesa e israelita, que será realizada na noite de quinta-feira, 14 de novembro, no Stade de France, em Saint-Denis (Paris), acontecerá com um sistema de segurança “extremamente reforçado”, garantiu o chefe da polícia de Paris, Laurent Nuñez, no domingo. A partida estava há muito identificada como “de risco” pelas autoridades (do futebol e pela polícia), mas os acontecimentos em Amesterdão colocam ainda mais pressão sobre o encontro.
O sistema escolhido pela polícia parisiense é “muito incomum” para um encontro de seleção, reconheceu Nuñez, citado pela imprensa francesa. Quatro mil policiais e gendarmes serão mobilizados – “em comparação com os 1.200 a 1.300 para os jogos da seleção francesa quando um estádio está cheio” – não só para o interior do recinto desportivo como para os seus arredores e nos transportes públicos de Paris. O RAID, a unidade de elite da polícia nacional, será responsável pela segurança da equipa israelita, “em estreita colaboração” com as autoridades do país de origem, disse ainda Laurent Nuñez. “O ministro do Interior disponibilizou-me os meios de força de segurança interna que nos permitirão ser extremamente reativos e evitar qualquer perturbação da ordem pública, seja por ocasião da partida, seja nas imediações da partida, ou no caminho dos espectadores que irão para a partida”, disse. Os controles também serão “extremamente reforçados”, com uma dupla verificação de identidade, e “busca e revista” no perímetro de segurança mantido pela polícia a seguir à entrada do complexo desportivo.
Segundo as mesmas fontes, venderam-se para já cerca de 20 mil bilhetes para a partida, muito longe dos 80 mil lugares do Stade de France – o que é uma excelente notícia para as forças da ordem. Emmanuel Macron assistirá à partida de futebol, informou o Palácio do Eliseu à Agência France-Presse (AFP) este domingo. Segundo o gabinete do Presidente da República, trata-se, em particular, de “enviar uma mensagem de fraternidade e solidariedade após os intoleráveis atos antissemitas que se seguiram à partida em Amesterdão”. As autoridades israelitas pediram no domingo que os adeptos evitassem ir ao jogo. “O Conselho de Segurança Nacional recomenda que os israelitas no exterior ajam com precauções (…) especialmente durante a próxima semana, e evitem por completo ir a eventos desportivos e culturais em que israelitas participam, especialmente a próxima partida da equipa de futebol em Paris”, dizia um comunicado oficial daquele organismo.
“Grupos que querem atacar israelitas foram identificados em várias cidades europeias”, disse ainda o Conselho de Segurança Nacional, citando Bruxelas, grandes cidades britânicas, Amesterdão e Paris. A organização também recomendou que os israelitas no exterior “não promovam sinais israelitas ou judeus reconhecíveis, inclusivamente pedindo um táxi por meio de uma aplicação” reconhecível. Em Amesterdão, no sábado, vários táxis foram parados por manifestantes que queriam identificar os utilizadores da aplicação.
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