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Zurich diz que tem vindo a “sentir a pressão da inflação, especialmente em ramos como o automóvel”

Os efeitos da inflação “fizeram-se sentir fortemente”, admite a seguradora, que sublinha que o impacto pode “pôr em causa a própria rentabilidade do ramo”. Sobre o resgate de PPRs sem penalização até ao final do ano, a Zurich Portugal considera que é fundamental apoiar os consumidores e permitir que utilizem as poupanças em “momentos mais difíceis”.
23 Maio 2024, 17h27

A inflação tem pressionado o sector segurador nos últimos anos, como reconhece a Zurich Portugal em declarações ao Jornal Económico. O ramo automóvel é um dos ramos em que essa pressão tem sido mais sentida. “Nestes últimos anos, temos vindo a sentir a pressão da inflação, especialmente em ramos como o automóvel, em que os efeitos se fizeram sentir mais fortemente”, vinca Rosário Lima, a Chief Claims Officer da Zurich Portugal. “Este impacto pode, inclusivamente, pôr em causa a própria rentabilidade do ramo se não forem feitas as necessárias correções tarifárias”.

As afirmações da Zurich Portugal surgem na sequência da divulgação do relatório de sinistralidade de 2023 da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), que assinala os aumentos em todos os indicadores, exceto no índice de gravidade, comparativamente ao ano de 2022. Em 2023, foram reportados mais de 2.180 acidentes (mais 6,7% do que em 2022) e mais cinco vítimas mortais (mais 1,1%). O Jornal Económico procurou saber como a Zurich tem respondido a esta subida na sinistralidade. “A nossa atuação tem-se centrado sobretudo na prevenção, através de campanhas de sensibilização para as boas práticas de condução e divulgação dos efeitos devastadores dos acidentes, junto dos nossos clientes. Outra medida que tomamos é a premiação dos bons condutores, com condições mais vantajosas no seguro automóvel, através da aplicação de bónus e descontos na apólice quando estamos perante bons históricos de sinistralidade”, salienta Rosário Lima.

Questionada sobre o impacto da sinistralidade nos prémios de seguro, a responsável da Zurich Portugal diz que “existe normalmente uma correlação entre o aumento de acidentes e o aumento das indemnizações a suportar pela seguradora. Quando assim acontece, é necessário fazer uma avaliação cuidadosa e proceder a ajustamentos sempre que seja exigido, assegurando a rentabilidade financeira das seguradoras e o necessário equilíbrio entre os prémios recebidos e o custo a suportar com sinistros”.

Aumento dos comportamentos de risco dos condutores

A ANSR destaca, no seu relatório de sinistralidade, que em 2023 registou-se um aumento na circulação rodoviária face ao ano anterior, referindo que, por esse motivo, há um “acréscimo no risco de acidentes”. Mas Rosário Lima ressalva que o agravamento da sinistralidade se deve a uma conjugação de fatores que “não estão relacionados apenas com o aumento da circulação rodoviária”, e aponta outras variáveis, como o aumento do comportamento de risco por parte dos condutores. “Observamos, cada vez mais, o uso de telemóvel, a condução sob o efeito de álcool e substâncias psicotrópicas, velocidade excessiva, aliada à falta de fiscalização e controle das nossas autoridades policiais. Também a falta de manutenção dos veículos, nomeadamente a verificação do estado dos pneus e travões, pode ter influência neste aumento da sinistralidade”.

Um dos dados que também sobressai, no relatório de sinistralidade referente a 2023, é o crescimento dos acidentes com motociclos, bicicletas e trotinetes. “É uma tendência que decorre nomeadamente do aumento de circulação destes veículos, em especial entre os mais jovens e em percursos mais curtos. Também observamos uma utilização crescente para fins lúdicos e turísticos, sobretudo quando o destino é o centro da cidade”, refere a Chief Claims Officer da Zurich Portugal.

A prevenção desempenha um “papel crucial, senão mesmo o único, na mitigação da sinistralidade e na diminuição do número de sinistros”, defende Rosário Lima. “Temos de continuar a aumentar a intervenção nesta área, como se tem vindo a fazer, mas os resultados ainda não são os desejados. Temos uma jornada a percorrer pela frente”, adverte.

Resgate dos PPR para enfrentar “momentos mais difíceis”

Num contexto de aumento do custo de vida para as famílias, a Zurich Portugal reconhece que “em determinadas famílias” pode haver a necessidade de procurarem menos seguros, como explica Ana Paulo, a Head of Life e Membro do Conselho de Administração da Zurich Companhia de Seguros Vida. “Observamos a tendência de concentrar a procura apenas nos seguros obrigatórios, reduzindo coberturas e capitais seguros”.

Inquirida se as seguradoras podem ter de apostar em soluções low cost, Ana Paulo frisa que o “mais frequente, mais até que as soluções low cost, é a procura de soluções a preços mais acessíveis no mercado, o que potencia a circulação dos clientes entre seguradoras”. A responsável ressalva, aliás, que a literacia financeira e a crescente consciencialização dos clientes “tornam-nos mais preparados nas suas escolhas, fazendo com que procurem seguros que os protejam mais”, dando como exemplo o crescimento significativo dos seguros de saúde nos últimos anos.

Relativamente à possibilidade de os clientes poderem resgatar os PPR sem penalização até ao fim do ano, Ana Paulo enfatiza que, “no contexto de crise económica que vivemos, é fundamental apoiar os consumidores e permitir que utilizem as suas poupanças em momentos mais difíceis”. “Claro que a utilização deste tipo de poupança poderá colocar em risco o complemento de reforma no futuro, mas possibilita aos clientes ultrapassarem esta fase mais crítica, de modo a criarem condições de recuperação no futuro”.

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