Os custos e tarifas do comércio internacional, principalmente por navio, caíram no ano passado, mas essa tendência está a mudar de forma rápida e inesperada depois do início das tensões securitárias no Mar Vermelho – que na prática interditaram a utilização do Canal do Suez. Segundo as contas dos especialistas, largamente difundidas pela comunicação social, o frete de um contentor do porto de Xangai, na China, para o porto de Roterdão, nos Países Baixos, custa 4.400 dólares, mais 160% que no dia 1 de janeiro passado – há menos de três semanas.
Qualquer indicador que analise os custos e taxas do comércio marítimo regista uma rápida recuperação desde o início do ano. Por exemplo, o índice de frete da Bloomberg, refere o jornal espanhol “El Economista”, que mede o preço do aluguer de espaço num navio, subiu 90% desde 1 de janeiro – o que contrasta com a tendência de 2023, quando os preços do transporte de carga caíram 35% devido às fracas previsões macroeconómicas.
Agora, contratar um contentor de 40 pés (o mais comum no comércio porto-a-porto e adaptável aos caminhos de ferro e aos camiões) custa 3.070 dólares, o dobro do registado no final de 2023, de acordo com o índice de preços WCI elaborado pela Bloomberg com dados da consultoria marítima Drewry. Ou seja, supera qualquer valor médio registado numa escala global nos últimos doze meses e está nos patamares mais altos desde novembro de 2022.
Este aumento drástico dos preços deve-se à redução do tráfego marítimo através do Mar Vermelho e do Canal do Suez – a rota mais curta entre a China e a Europa. A alternativa é percorrer todo o continente africano, o que significa mais custos de combustível e mais tempo de navegação (quase o dobro). Viajar pelo sul de África pode reduzir a procura de contentores em 12%, de acordo com o banco de investimentos Stifel, citado pelo “El Economista”.
Do mesmo modo, “os prémios dos seguros podem aumentar em resposta aos ataques no Mar Vermelho e no Golfo de Áden”, disse a Alliance Global Partners num ‘research’ que o JE publicou esta quarta-feira.
Para piorar, há que referir que a tradicional rota (mais curta) entre a China e os Estados Unidos seria cruzar o Canal do Panamá, mas a seca que assola este país reduz a quantidade de água dessa passagem artificial na América Central, o que também gera atrasos e aumentos nos preços comerciais.
Resta saber se este aumento médio de 160% em menos de três semanas – para viagens entre Xangai e Roterdão – agrega apenas o aumento dos custos associados, ou se as empresas de transportes decidiram fornecer a si próprias um prémio extra. Para todos os efeitos, quem ganha é quem mantém relações comerciais entre a Europa e os Estados Unidos: a rota entre Roterdão e a costa oeste dos Estados Unidos mantém-se sem qualquer mudança significativa até agora.
Vários analistas já fazem contas para perceberem se haverá um aumento nos lucros das empresas de navegação este ano devido aos novos preços. “O cenário atual pode adicionar vários milhões, mesmo que a tensão dure apenas duas ou três semanas”, disse Alan Baer, gestor da empresa de logística internacional OL.
Assim, no curto prazo, isso pode gerar um pico na inflação, segundo a Bloomberg, que aumentaria se os preços dos combustíveis também recuperassem, algo que não aconteceu até agora em 2024 com o barril de Brent abaixo de 88 dólares, mas que os analistas preveem para os próximos meses.
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