A relação aluno-escola é cada vez mais problemática. Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) procura ajudar-nos a perceber porquê. Há 20 anos, quando Portugal participou pela primeira vez no “Health Behaviour in School-aged Children” (HBSC), 13,1% dos adolescentes dizia não gostar da escola. Atualmente, a percentagem é de 29,6%. Ou seja, em duas décadas, a insatisfação triplicou.
A comida do refeitório é a principal razão apontada para não gostar da escola, mas o que verdadeiramente faz soar todos os alertas é o número de jovens para quem o pior de tudo são as aulas. Encontram-se neste grupo 35,3% do universo de 6.997 jovens do 6º, 8º e 10º ano das 387 turmas dos 42 agrupamentos de escolas do ensino regular abrangidas pela investigação de Margarida Gaspar de Matos, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.
Pior ainda do que não gostar da escola é estar cansado e sentir-se triste. De acordo com o estudo, 17,9% dos jovens sentem-se exaustos quase todos os dias, 12,7% manifestam problemas em dormir e 5,9% dificuldades em suportar tanta tristeza.
O problema poderá não ter origem em fatores externos, como indicia a elevada taxa de jovens que diz não ter instigado práticas de bullying nos dois últimos meses (90%). Idênticos são os números do ciberbullying.
Segundo o estudo, a maioria diz-se feliz. Uma afirmação que contrasta com o elevado número de alunos – um quarto dos inquiridos – que diz ter tido comportamentos autolesivos, pelo menos, uma vez durante o último ano. Destes, mais de metade (58,7%) acrescenta ter-se magoado nos braços.
A linha de horizonte dos adolescentes portugueses é muito curta, o que é outro dado inquietante. Mais de metade dos inquiridos (54,8%) do 8º e do 10º ano responde “não” à pergunta sobre se pretende continuar os estudos na universidade e um terço diz que tem fracas expetativas sobre o futuro profissional ou não sabe responder. Há oito anos, 69,3% admitiam que pretendiam prosseguir estudos universitários, uma quebra de 15 pontos percentuais.
Mais de metade dos adolescentes (51,6%) considera-se mau aluno e justifica a apreciação com o facto de não ter boas notas. Mais uma vez a escola surge no banco dos réus por várias razões. A larga maioria, 87,2%, invoca excesso de matéria, 84,9% diz que esta é aborrecida e para 82% é difícil. Já 77%, aponta a avaliação como o principal problema.
O estudo sobre os estilos de vida revela também que nos tempos livres, 56,6% dos adolescentes portugueses usa o telemóvel, 46,9% ouve música e 35,7% aproveita para dormir. Mais de metade (50,7%) diz que não tem tempo para desenvolver mais atividades de lazer. Se a vida na escola é desmotivadora, fora dela não parece mais interessante. Metade dos inquiridos diz que raramente ou nunca lê, 80% participa em atividades de voluntariado, 65,7% se envolve em atividades religiosas e 86% raramente ou nunca tem intervenção associativa ou política.
O estudo da OMS é realizado em 44 países e deverá ser apresentado dentro de um ano.
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