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Habitação: Apesar das divergências, há “condições para consensos estruturais” entre PS e AD

Antiga ministra do PS sinaliza que os pontos de convergência com a Aliança Democrática em matéria de habitação “são muitos”, acreditando existirem condições, no médio prazo, para que haja “consensos estruturais” independentemente do resultado das eleições do próximo dia 18 de maio. Desde que, ressalvou Marina Gonçalves na conferência organizada pelo Jornal Económico e pela CMS Portugal, as soluções sejam “verdadeiramente para a classe média”.
29 Abril 2025, 10h08

Marina Gonçalves, deputada socialista e ex-ministra, reconhece que os pontos de “convergência” entre o PS e a Aliança Democrática (AD) em matéria de habitação “são muitos”, estando os dois partidos “muito alinhados” nos objetivos traçados. “No médio prazo, temos muitas condições para encontrar aquilo que o país precisa – consensos estruturais – desde que [a solução] seja verdadeiramente para a classe média, porque temos um foco e uma responsabilidade na política pública”, afirmou Marina Gonçalves esta segunda-feira na conferência “a Habitação depois de 18 de Maio”, organizada pelo Jornal Económico e pela CMS Portugal.

Ao longo do painel, no qual debateu com o deputado do PSD Gonçalo Lage, a antiga ministra da Habitação do PS sinalizou que os dois partidos divergem mais nas soluções para o curto prazo, embora reconheça que ambos concordam com a necessidade de se alargarem os apoios.

“Os pontos de convergência são muitos”, começou por dizer Marina Gonçalves, fazendo também uma autocrítica. “Nós, políticos, às vezes perdemos muito tempo a discutir quem fez mais, quem fez mais rápido”, quando na realidade PS e PSD concordam “em quase tudo” no que diz respeito à problemática da habitação em Portugal.

Depois de ouvir a secretária de Estado da Habitação na conferência, a ex-ministra socialista disse concordar “com quase tudo”, quer no diagnóstico traçado quer no caminho para resolver a crise, nomeadamente o reforço da habitação pública, o reforço das parcerias com os privados e as cooperativas, a necessidade de simplificar todo o tipo de procedimentos – “não apenas a camarária” , a estabilidade do financiamento e o “porquê de estarmos na situação em que estamos”.

“A verdade é que não estamos assim a divergir tanto, pelo contrário, diria que estamos muito alinhados no objetivo. O que acontece muitas vezes é que o alinhamento dos objetivos não se reproduz naquela que é a dimensão da discussão política e  na forma como colocamos as coisas”, assinalou Marina Gonçalves, passando a enumerar três divergências com o atual Governo que revogou o programa Mais Habitação, do PS, para o substituir pelo Construir Portugal.

A primeira divergência prende-se com o facto de a AD dizer que no último ano garantiu o financiamento que não estava garantido. “Aí sempre tive uma divergência de fundo na forma como foi apresentado o Construir Portugal. O PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] não foi o programa de habitação apresentado pelo governo [do PS]. O 1.º Direito é de 2018, a Bolsa de Arrendamento Acessível é de 2019, a pandemia foi em 2020, o PRR surge no âmbito da pandemia. Por isso, resumir e limitar a política de habitação ao PRR é errado politicamente porque não corresponde à realidade. O PRR financiou a 100%, obrigou a esta rapidez na execução, mas é uma fonte de financiamento que, no fundo veio substituir aquilo que estava previsto no 1.º Direito, e temos mais é que o concretizar”, argumentou Marina  Gonçalves.

E referindo-se ao objetivo do objetivo da AD de garantir 59 mil casas até 2030, a deputada do PS lançou a questão: “Como é que respondemos às 130 mil [em falta] que estão identificadas pelos municípios?” – , respondendo de seguida com o desafio que se coloca e que exige união de esforços.  “Temos de fazer o caminho pós PRR. O trabalho que temos de fazer em conjunto é garantir que este financiamento das políticas de habitação continua para lá das 59 mil habitações”, como, por exemplo, a proposta do PS de “usar os dividendos da Caixa Geral de Depósitos (CGD), para “garantir que temos dinheiro alocado às necessidades que os munícipios estão a identificar”.

Outra divergência com o atual Governo – “ou preocupação” – prende-se com o IVA a na construção. “A secretária de Estado já aqui disse que a medida que apresenta hoje não é a mesma que apresentava há um ano, já não é os 6% para toda a construção. Hoje olhamos para habitação a custos controlados, quer para venda quer para arrendamento e o IVA é a 6%, desde que seja para responder à classe média. Se falamos numa dimensão de desburocratizar o procedimento, também não precisa do Parlamento, podia já ter sido feito por via de portaria”. “Não é uma crítica, é uma dificuldade em perceber no que é que, afinal, estamos a divergir”, apontou a deputada, reconhecendo “complexidade em aceder” a estas medidas fiscais, como no IVA a 6%, que tem de ser melhorada.

O terceiro ponto mencionado pela antiga ministra da Habitação relaciona-se com o Alojamento Local (AL), onde os dois partidos têm “uma divergência de fundo”. Neste ponto, Marina Gonçalves lamentou que o PSD tenha criado a narrativa de que o PS “estava a culpar e a diabolizar o AL com as medidas do Mais Habitação”.

“Nunca foi essa a perspectiva, isso foi um aproveitamento político. Nunca se disse que é o AL o principal fator [da crise na habitação], mas também contribui e num momento de emergência em que temos de responder com medidas mais imediatas” como a limitação de AL. “Preferíamos que não fosse necessário pensar em medidas que são restritivas, mas é para nós uma responsabilidade pensar nisso” quando é preciso responder a uma necessidade de habitação para viver.

Apesar destas três dimensões, Marina Gonçalves fez questão de  reforçar a tónica nos “pontos de convergência” entre PS e PSD. “O financiamento na habitação pública, a necessidade de simplificar e a necessidade de, em conjunto, encontrarmos parcerias e dar confiança para que o privado seja parceiro na política pública”. “O Estado não procura lucro, procura sustentabilidade do projeto, o privado obviamente que tem uma dimensão adicional”, continuou, rematando: “Temos de encontrar instrumentos para que seja salvaguardado o interesse do privado e salvaguardado o interesse do Estado – o interesse do Estado é a classe média.”

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