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Portugal deverá atingir “novo normal” na medicina intensiva na terceira semana de março

O presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, João Gouveia, alerta que a medicina intensiva em Portugal ainda é muito frágil e que “o novo normal” vai obrigar a ter 285 camas dedicadas a doentes com Covid-19 e 629 para doentes com outras patologias.
Hospital de Santa Maria
22 Fevereiro 2021, 16h58

O presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, João Gouveia, defendeu esta segunda-feira que “o novo normal” vai obrigar a ter 285 camas dedicadas a doentes com Covid-19 e 629 para doentes com outras patologias. O especialista alerta que a medicina intensiva em Portugal ainda é “muito frágil” e que só na terceira semana de março poderá ser atingido um número que permita tratar todos os doentes.

“A capacidade possível e que podemos manter para ter a nossa resposta em termos de Covid e em termos de situações não Covid é à volta das 914 camas a nível nacional, número esse que foi proposto na rede de referenciação de medicina intensiva e que está praticamente atingido ou poderá ser atingido até ao final do primeiro semestre”, referiu, na reunião epidemiológica do Infarmed, em Lisboa.

A capacidade instalada chegou às 1.424 camas em medicina intensiva, no pico, face às 629 que existiam em janeiro de 2020 e às 1021 de março desse mesmo ano. Mas, segundo João Gouveia, esse capacidade “não pode ser mantida”. “Necessitávamos de ter mais 448 especialistas em medicina intensiva e mais 2.173 enfermeiros, de maneira a conseguir manter esta capacidade só em termos de recursos humanos”, disse.

Para dar resposta aos doentes Covid e não-Covid nos hospitais públicos, João Gouveia indica que Portugal tem 629 camas atribuídas as patologias não Covid e 285 camas que podem ser utilizadas para doentes com Covid-19, sendo que a taxa de ocupação não deve ser superior a 85%. “Estamos a dizer que podemos ter em medicina intensiva 242 doentes em simultâneo para conseguirmos dar resposta” a todos os doentes, explicou.

Isto obriga a haja uma incidência reduzida (inferior a 480-240 novos casos por 100 mil habitantes em 14 dias), um Rt [índice de transmissibilidade] inferior a 0,7, uma taxa de positividade dos testes realizados inferior a 7-8%, a realização atempadas dos inquéritos epidemiológicos (com atrasos inferior a 30%), internamentos abaixo dos 1.500, vacinação a “excelente ritmo” e a vigilância epidemiológica das novas variantes.

“A situação da medicina intensiva em Portugal é ainda muito frágil. Temos uma capacidade instalada que é enganadora, não é real. Depende sobretudo de recursos humanos que não são da medicina intensiva e que são precisos noutros locais para podermos continuar a nossa atividade normal”, frisou.

João Gouveia disse que o máximo de doentes com Covid-19 que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) aguenta para dar resposta também aos doentes com outras patologias é de 242 doentes e avançou que esse número só poder ser atingido na terceira semana do mês de março.

João Gouveia salientou que, em termos de camas para medicina intensiva por 100 mil habitantes, Portugal estava “na cauda da Europa quando começou a pandemia”, devido a um “subinvestimento crónico em saúde”. Em 2012, o número de camas para medicina intensiva por 100 mil habitantes em Portugal era de apenas 4,2. O valor subiu, em 2016, para 6,2 e, segundo o especialista, foi “um bocadinho melhor” em 2020.

“Apesar deste défice crónico, fomos capazes de tratar na primeira vaga mais de 10% dos doentes internados em termos hospitalares, com uma demora média francamente elevada, superior à dos outros doentes habitualmente internados em medicina intensiva com pneumonias de outra etiologia (…), e com uma taxa de mortalidade à saída do hospital de 27%, perfeitamente comparável com outros países europeus com melhores condições”, disse.

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