A redução das emissões de carbono é um tema incontornável da atualidade por todo o mundo. As formas de lá chegar são regularmente debatidas pelas mais altas patentes, nacionais e internacionais. Mas certo é que este é um objetivo de todos, rumo a uma rotina mais sustentável para as gerações mais jovens e, claro, para as futuras. É neste contexto que surge a mobilidade elétrica, que proporciona formas de viajar mais amigas do ambiente e que, garantidamente, veio para ficar.
Helena Silva é CTO do Centre of Engineering and Product Development (CEiiA) e, em entrevista à JE TV, refere que estamos perante “um crescimento e uma aceleração inevitáveis”, inclusive em Portugal. O país vindo a revelar-se “uma referência ao nível do modelo de mobilidade elétrica” sendo pioneiro a nível de “uma rede de carregamento interoperável a nível nacional”, mas agora falta fazer mais e melhor, sublinha.
“A neutralidade carbónica em 2050” é uma meta que o próprio governo português prometeu tudo fazer para alcançar, mas Helena Silva diz que é necessário acelerar o processo, tendo em vista as várias formas de mobilidade suave. Para tal, será necessária vontade das empresas, mas existem mais fatores que devem convergir no mesmo sentido, desde logo o “incentivo da política pública”, assim como a criação de uma agenda de investigação e desenvolvimento que consiga dar suporte” a estas tendências. Ora, Portugal tem diante de si uma “oportunidade” única para o fazer, salienta a responsável.
É que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) permitirá avançar neste capítulo, com importantes investimentos a fazer, garante. Para tal, sublinha, é da maior necessidade “colocar os investimentos naquilo que é importante para o país e tendo em conta as condições base”, ainda mais no atual contexto de guerra na Europa e de uma crise energética à vista. Helena Silva reitera que o momento para apostar na mobilidade elétrica é “agora”. A guerra que assola o território ucraniano terá consequências nefastas um pouco por todo o mundo, mas também poderá gerar oportunidades, que devem ser agarradas. De acordo com a análise da CTO do CEiiA, “a mobilidade elétrica pode ser mais eficiente no contexto de uma crise energética”, olhando a novas formas de fazer a rotina diária, com avanços tanto no veículo individual, mas também através de novas formas de mobilidade nas cidades. A “eletrificação dos transportes públicos”, associada à sua “integração na cidade, na infraestrutura e com os utilizadores” seria um passo em frente, na procura de novos modos de mobilidade na cidade.
Helena Silva refere ainda que o sector energético está a fazer “novos investimentos em novas fontes de energia, como o hidrogénio e o lítio e está a procurar ajustar-se a estes novos paradigmas”, sem esquecer que, já em 2035, deixarão de ser vendidos veículos a combustão na Europa, o que é garantia da necessidade de muitas empresas do sector procederem a mudanças acentuadas nas suas formas de vender. “As empresas do sector energético estão a trabalhar, quer em novos modelos de negócio, quer em novos vetores energéticos”, por forma a acompanhar as tendências do mercado, assim como ir ao encontro daquilo que os consumidores procuram – mobilidade mais sustentável. Prova disto é o número crescente de compras de carros elétricos em Portugal, com os preços a cair e a rede de carregamentos a tornar-se cada vez mais abrangente e disponível.
A CTO do CEiiA lança o mote para potenciar, junto das pessoas, o alcance destas novas tecnologias. Há que “incentivar as pessoas para usarem novos modos de mobilidade. É importante para apoiar as cidades a atingir as metas e trazer para a vida das pessoas o poder de contribuir para a neutralidade carbónica”, lembra a responsável, alertando que é preciso uma mudança os “comportamentos”.
Sobre o discurso em torno da reindustrialização europeia, e em particular sobre o papel português nessa jornada, Helena Silva diz que “muitas vezes existe falta de acreditar que é possível, no nosso país, desenvolver novos produtos que tenham origem na nossa indústria e que sejam liderados por empresas portuguesas, porque nós não somos um país tradicionalmente produtor. Somos um país que produz para terceiros. Não temos tradição de produzir produtos próprios e a questão aqui é que estes novos paradigmas de mudança também são oportunidades para reposicionar as cadeias de valor a nível internacional e penso que se houve alguma altura nos últimos anos que isso poderá acontecer, penso que é esta altura”, destaca.
Mesmo que exista muita vontade por parte da indústria “tem que haver também apoio e incentivo da política publica e também haver uma agenda de investigação e desenvolvimento que consiga dar suporte a esse desenvolvimento”, reforça. “Se há altura certa para isso acontecer, terá de ser agora, neste turbilhão entre a questão das alterações climáticas, uma guerra a acontecer na Europa e os ensinamentos da pandemia.”
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