A guerra na Ucrânia “tornou mais urgente a transição energética da Europa”, mas a questão não só carece ainda “de consenso” mais alargado entre todos os países da União Europeia, como precisa também de liderança política que “consubstancie o comprometimento” com essa transição em investimentos.
A opinião é de Durão Barroso, chairman da Goldman Sachs International, que, em sessão de ‘esclarecimento’ organizada por aquele grupo norte-americano, disse ainda que, não sendo recente, a transição energética é agora “urgente”.
Recordando que a transição energética era já uma preocupação ao tempo em que liderou a Comissão Europeia (entre 2004 e 2014), Barroso admitiu que só com a Convenção do Clima a questão passou para o topo da agenda política. O chairman da Goldman Sachs tem dúvidas, por outro lado, que todos os países estejam alinhados na agenda. É que, recordou, a dependência tanto dos combustíveis fósseis como dos combustíveis fósseis vindos da Rússia não é simétrica na União Europeia, o que coloca desafios que a liderança terá de resolver.
Seja como for, o processo tem de ser acelerado – sob pena de a transição energética morrer prematuramente, como efeito colateral da guerra na Ucrânia. E não só ao nível da União Europeia. Barroso tem também dúvidas sobre o alinhamento do G7, mas principalmente do G20 – onde países como a China nnão estão no mesmo ‘comprimento de onda’ dos países acidentais.
Outra evidência deste desalinhamento está no facto, disse, de “a presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen ter ido à Hungria” na tentativa de convencer o primeiro-ministro Viktor Orbán da ‘bondade’ das decisões centrais da União em termos da sua política energética. É uma espécie de ‘caso perdido’ tanto quanto se sabe: a Hungria recusa suprimir a 100% a Rússia enquanto mercado fornecedor das necessidades energéticas dos magiares.
Para Durão Barroso, há ainda, na Europa, um problema de perenidade face à transição energética. É que os investimentos no sector – que estão devidamente explanados no programa de recuperação anti-pandemia, têm de ser ganhar a qualidade de prioridade de futuro. Para que os investimentos necessários não venham a ser desperdiçados.
É neste quadro que entra a Goldman Sachs, como como dizia Kara Mangone (Head of Climate Strategy do grupo norte-americano, tem já provas dadas em termos de capacidade de transmissão aos seus clientes da ‘obrigação’ da aposta na transição energética. A lógica tem de ser a do alinhamento entre o investimento publico e privado – os governos sozinhos não chegarão lá.
Neste contexto, é preciso que, aos gestores, a transição energética seja apresentada como algo que tem racionalidade de negócio. Se assim não for, a estratégia tenderá a perder fôlego e possivelmente a ser ‘enterrada’ debaixo de prioridades mais imediatas. É para isso, subentendia-se, que a Goldman Sachs aqui está: “a trabalhar para integrar boas práticas climáticas há pelo menos 10 anos”.
Michele Della Vigna (Head of Natural Resources Research para os mercados da Europa, Médio Oriente e África, EMEA) recordou por seu turno que há ainda muito a fazer neste capítulo. E não se esqueceu de referir que os consumidores têm o direito de saber se o que consomem está ‘descarbonizado’ – ou seja, se as fontes que alimentam a produção respeitam esse alinhamento. Foi também nesse segmento que Michael Bruun (Head of EMEA Private Equity) interveio, para recordar que a população tem o direito de saber se os consumíveis são ou não produzidos em mercados com o nível de preocupações da Europa e dos Estados Unidos. É uma questão, disse, de mercados de abastecimento – que devem também ser observados ao pormenor.
Gonzalo Garcia (co-Head of Investment Banking EMEA), resumiu a questão: “estamos só no princípio”, disse, mas a envolvente não é de todo favorável. É que, para já, os investidores olham para as oportunidades de negócio como um segmento de forte vulnerabilidade, onde o retorno do financiamento carece ainda de sustentação.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com