A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) denunciou nesta quarta-feira, 11 de março, que teve conhecimento de que o Hospital de Santa Maria “pretende não colocar em isolamento os profissionais de saúde que tiveram contacto direto com os casos diagnosticados com COVID-19”. Alerta surge dep+ois de terem sido conhecidos dois casos confirmados de doentes que estavam internados neste hospital há vários dias e que estiveram contacto com outros doentes, médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.
“Pretende que se mantenham ao trabalho, com máscara”, alerta a FNAM em comunicado, acrescentando que “trata-se de um comportamento inaceitável por parte de um dos maiores hospitais do país, que se designa como hospital de referência”. A FNAM recorda que “qualquer cidadão em situação de contacto direto com caso diagnosticado com o COVID-19 tem indicação de permanecer em quarentena”.
A reacção da FNAM surge no dia em que se ficou a saber que o Hospital de Santa Maria detectou o novo coronavírus em dois doentes internados e que já levou também à contaminação de uma enfermeira-chefe. Tal como o JE noticiou hoje um destes doentes estava internado há mais de uma semana, e ventilado, numa sala com três outros doentes, alguns dos quais tiveram, entretanto, alta.
Na segunda-feira houve uma alteração dos critérios da definição de caso suspeito. No âmbito desta alteração, os doentes com pneumonia cuja origem é desconhecida devem ser testados à covid-19. Foi na sequência da aplicação desta regra que os dois casos – dois homens com mais de 60 anos – foram detectados.
Médicos, enfermeiros, familiares e outros doentes estão a ser testados
Para a FNAM “não se compreende como é que uma Administração Hospitalar toma para si decisões que são do foro da Autoridade de Saúde, mais ainda pretendendo impor aos seus trabalhadores medidas discriminatórias em relação a qualquer outra pessoa”. Em comunicado, esta estrutura sindical salienta que “é uma atitude que desrespeita os direitos dos profissionais de saúde e de risco para a população, as recomendações da DGS e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC)”.
“A FNAM não será complacente com qualquer falha de segurança que ponha em risco os médicos, outros profissionais de saúde e a população”, conclui.
Os responsáveis hospitalares estiveram hoje a avaliar quais serão os contactos dos dois doentes que terão de ser igualmente submetidos à análise, numa lista onde estão familiares, doentes, médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.
A unidade hospitalar já emitiu um comunicado onde assegurou estar a seguir todas as indicações para chegar às ligações com os doentes em causa.
O objetivo imediato é impedir a propagação do vírus dentro do hospital. Recorde-se que foi assim, com o contágio dentro de uma unidade hospitalar, que o surto em Itália teve início.
O JE sabe também que pessoal médico e de enfermagem já sinalizou ruptura de stock de equipamentos de protecção individual como batas e máscaras. E asseguram que não existe perspetiva de reposição.
59 casos confirmados em Portugal
São mais 18 casos em relação aos 41 que tinham sido confirmados até terça-feira, registando-se o maior aumento diário de pessoas infetadas desde o início da epidemia em Portugal. Das 59 pessoas com a infeção, 57 estão internadas.
Segundo o boletim epidemiológico da DGS, divulgado esta manhã, há 59 casos confirmados de coronavírus (COVID-19) em Portugal: 36 no Norte, três em Coimbra, 17 em Lisboa e três no Sul do país.
Há 471 casos suspeitos e 83 esperam resultados laboratoriais. A região do Alentejo e as ilhas não têm casos confirmados de COVID-19.
De acordo com a DGS, há ainda 3.066 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde, um aumento face aos 667 divulgados na terça-feira.
Existem pelo menos seis cadeias de transmissão ativas em Portugal. Pelo menos 12 casos foram importados: dois de Espanha, nove de Itália e um da Áustria ou Alemanha. Esta última informação ainda está a ser investigada pelas autoridades de saúde.
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