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ATP quer acesso ao crédito sem especulação de taxas e comissões bancárias

Mário Jorge Machado, da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, quer que as linhas de crédito cheguem à economia real sem a interferência dos bancos ao nível das taxas e comissões. Mario Draghi, ex-governador do BCE, disse precisamente o mesmo.
26 Março 2020, 12h19

Num quadro em que os bancos europeus conseguem empréstimos a juros negativos junto do Banco Central Europeu (BCE) – por cada 100 euros levantados ficam a dever pouco mais de 99 – a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) exige que as instituições financeiras cumpram a decisão de que as linhas de crédito criadas sejam “de facto utilizadas sem o aproveitamento por parte dos bancos, com especial atenção às taxas e comissões praticadas”.

Num comunicado assinado pelo presidente, Mário Jorge Machado, a associação chama a atenção para o facto de não ser altura de as instituições financeiras pretenderem ganhar com as medidas que estão a ser colocadas no terreno para benefício de todos. Aliás, o próprio Mario Draghi, anterior presidente do BCE, veio hoje dizer que os bancos devem emprestar dinheiro sem juros – ganhando ainda assim a taxa negativa de levantamento de dinheiro no banco central – como forma de o enorme esforço financeiro que está a ser preparado pela Comissão Europeia chegar a quem dele mais precisa: a todos.

“O financiamento previsto terá de facto de chegar às empresas que realmente precisam”, diz Mário Jorge Machado. Para isso, a ATP quer que, na área respeitante ao mecanismo entre bancos e o Banco de Portugal, “uma moratória dos pagamentos devidos e sem registo de incumprimento, bem como a diluição ao longo de quatro ou cinco anos do correspondente pagamento, para evitar o estrangulamento de tesouraria no momento da retoma da atividade”.

Entretanto, um inquérito lançado pela ATP junto das empresas do setor permite concluir que 59% dos inquiridos esperam ter já no mês de abril uma redução superior a 50% no seu volume de negócios, enquanto 26% prevêem uma redução entre 30% a 50%. Estes dados aumentam, na ótica da ATP, a importância da flexibilização imediata do Lay-off como forma de mitigar o aumento da pressão sobre os subsídios de desemprego nos próximos meses.

“Com 82% das exportações de têxteis e vestuário em Portugal destinadas ao mercado europeu e os restantes 18% exportados para o mercado extraeuropeu, a indústria têxtil e vestuário e os 7,7 mil milhões euros por ano por ela gerados encontram-se agora fortemente ameaçados”, refere comunicado oficial.

O sector depara-se com sucessivos adiamentos e cancelamento de encomendas por parte dos clientes, que em alguns casos não chegam a pagar encomendas já recebidas, “uma tendência com um profundo impacto ao nível dos recebimentos e das receitas, sobretudo num cenário onde os custos fixos permanecem”.

Destes custos fixos, “merecem-nos especial destaque os salários dos trabalhadores, que poderão estar em risco a curto prazo. Numa indústria estratégica para a economia portuguesa e que emprega 138.750 pessoas, a ATP adverte que sem o acautelamento dos rendimentos dos trabalhadores a retoma adivinha-se muito difícil”.

É por isso urgente a regulamentação do processo de aplicação do lLay-off simplificado. Reivindicado junto do governo há 15 dias, “este mecanismo fundamental quer-se imediatamente disponível e operacional para permitir a sobrevivência das empresas.

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