Em Portugal, nos últimos anos, assistiu-se a um aumento da atribuição de benefícios sociais aos colaboradores, traduzindo o papel “fundamental” da política de benefícios extrassalariais no sucesso das empresas.
Na análise a esta evolução, Tiago Almeida Veloso, tax partner da consultora Baker Tilly, reforça que este fenómeno “coincidiu com o desinvestimento do Estado nas suas funções na área da saúde, educação e proteção na velhice, em consequência da crise económica”, impulsionando o aumento das preocupações sociais das empresas, o qual foi sendo alavancado pelos benefícios fiscais. O especialista defende assim que um pacote de benefícios sociais especificamente adaptado aos recursos humanos de uma organização não só potencia o seu sucesso, otimizando os encargos com estas políticas, como aumenta a satisfação dos trabalhadores e potencia a retenção do talento.
O grande desafio que as empresas enfrentam atualmente, defende Tiago Almeida, é o de a política de atribuição de benefícios não ser devidamente valorizada pelos trabalhadores. Logo, ao definirem as suas estratégias, as empresas devem ajustar os benefícios em função das necessidades daqueles a quem se destinam. E exemplifica: “Todos antecipamos que um jovem trabalhador sem filhos em nada valorizará a disponibilização de um seguro de vida ou de apoios à infância, podendo, ainda, pouco valorizar a atribuição de um seguro de saúde. Pelo contrário, um trabalhador com filhos menores, muito valorizará a atribuição de um seguro de vida, de tickets infância ou de educação e a possibilidade de estender ao agregado familiar o seguro de saúde”.
Neste contexto, acrescenta ainda, surgiram os planos de benefícios sociais flexíveis, como “ferramentas fundamentais” para a competitividade das organizações e para reter o talento.
Em seu entender, um pacote de benefícios sociais atrativo é uma vantagem competitiva efetiva no mercado laboral. “Naturalmente que não basta às empresas simplesmente disponibilizar os benefícios aos trabalhadores, é necessário que estes percecionem o real valor das políticas de benefícios sociais”, reforça, salientando ser crucial que a empresa invista nas ferramentas de comunicação interna, garantindo que os trabalhadores conhecem os benefícios sociais a que têm direito e percecionem as vantagens económicas.
O poder da escolha
Nesta sua análise, Tiago Almeida considera que os planos de benefícios sociais flexíveis são a grande tendência, já que permitem ao trabalhador escolher, de entre um conjunto de benefícios, previamente estruturado pela empresa, aquele que melhor se adapta à sua situação pessoal e familiar. Estes planos já foram inclusive validados pela autoridade tributária, tendo sido devidamente enquadrados no normativo fiscal existente, aproveitando de todos os benefícios fiscais aplicáveis. “Ainda assim, ao contrário de outros países europeus, ainda falta em Portugal um enquadramento legislativo específico, na perspetiva laboral, que permita o desenvolvimento e aprofundamento dos benefícios que podem ser atribuídos em planos desta natureza”, alerta o especialista.
Quanto às preferências dos colaboradores, elenca entre os mais requisitados os seguros (saúde, vida e de acidentes pessoais); os produtos de complemento de reformas; os apoios à infância e educação; comparticipações para o passe social, mas chama a atenção para a crescente valorização dada aos apoios para lares e apoios às despesas de saúde. Sendo que, para os trabalhadores mais jovens, as comparticipações em formação académica e profissional estão no topo das preferências.
Num futuro próximo, Tiago Almeida afirma que podem esperar-se desenvolvimentos no que respeita a ofertas de mobilidade. “Embora não assumam valores por trabalhador materialmente significativos, um dos benefícios com maior aceitação é a comparticipação do passe de transporte público. Contudo, a operacionalização de tal benefício acarreta custos administrativos significativos, face ao elevado volume de documentação envolvido. Para tal, seria relevante a introdução de meios de pagamento que permitam, em exclusivo, aceder a serviços de mobilidade, reduzindo-se os custos administrativos associados a este benefício – à semelhança do que ocorreu com os cartões de refeição”, conclui.
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