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40 hotéis oferecem quartos aos profissionais de saúde

Lisboa tem seis hotéis com 230 quartos prontos para acolher gratuitamente médicos e enfermeiros que estão na linha da frente da batalha contra a Covid-19. Em todo o país, 40 hotéis integram esta iniciativa, oferecendo um total de 1.600 quartos.
4 Abril 2020, 15h00

Portugal tem 1.600 quartos prontos para receber os profissionais de saúde agregados num pipeline de 40 hotéis. A informação é dada ao Jornal Económico por Cristina Siza Vieira, vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), revelando que estão disponíveis seis hotéis em Lisboa com 230 quartos, de um total de 383, para receber os profissionais dos hospitais Curry Cabral, São José, Dona Estefânia e Santa Maria.

“Fizemos um protocolo com os prestadores de serviço de eletricidade, gás, água e telecomunicações, para estando os hotéis a oferecer gratuitamente estes quartos aos profissionais de saúde eles não terem os custos destes serviços enquanto estão nos hotéis que são períodos mínimos de 14 a 28 dias”, refere Cristina Siza Vieira. A responsável fala num “esforço brutal”, da associação no sentido de equipar o hospital de campanha de Santa Maria com mais de três mil bens, não esquecendo os mais de 64 mil bens doados e recolhidos “por todo o país, através de uma parceria que fizemos com uma startup de Braga e que já foram distribuídos no hospital de campanha de Ovar”.

Ajudar os profissionais de saúde foi o método que as unidades hoteleiras encontraram para fazer face à grave crise que o setor atravessa devido à pandemia do coronavírus. “Neste momento não há atividade. As fronteiras estão fechadas e os hotéis estão encerrados. Existem alguns que ainda têm os últimos clientes à espera de voo para sair, mas 90% dos hotéis estão fechados”, explica Cristina Siza Vieira. Questionada sobre como poderá a indústria recompor-se desta crise, a responsável frisa que essa é a “one million dollar question”, mostrando-se confiante “de que possamos encontrar tratamentos e uma contenção desta epidemia o mais rapidamente possível para podermos retomar a nossa atividade”.

A vice-presidente da AHP salienta que “há uma grande preocupação com o futuro e é por isso que as ajudas do Estado são fundamentais, assim como uma interação entre a União Europeia”, acrescentando que “neste momento é necessário gerir as pessoas que o Governo encontrou para dar apoio às empresas, socorrermo-nos de todas as vias de apoio financeiro, fiscal e bancário para conseguir encontrar uma operação equilibrada do ponto de vista da tesouraria e aguentar, porque não há mesmo outra hipótese”.

Quando o mercado hoteleiro voltar ao ativo, Cristina Siza Vieira acredita que Portugal e os outros países estarão “em circunstâncias muito análogas, com a “vantagem” de sermos um destino turístico reconhecido. Vamos ter de concorrer como os outros e tentar novamente encontrar o nosso lugar ao sol”, refere.

Turismo residencial com perdas acima de 50%
Afetado por esta crise pandémica encontra-se também o turismo residencial. Pedro Fontaínhas, presidente da Associação Portuguesa de Resorts (APR) afirma que o impacto no setor “é muito sério”. Um inquérito feito aos associados da entidade na semana revelou que o volume de negócios terá quebras de 50% face a 2018. Contudo, “passou uma semana e o cenário está a agravar-se, já praticamente ninguém acredita que o pico do vírus seja em abril, o que era um pressuposto importante para esses cálculos de perdas, que provavelmente vão ser muito superiores a 50%”, diz o responsável da APR. A juntar a isto “todas as nossas empresas associadas e outras do setor que não são nossas associadas estão neste momento a recorrer massivamente ao lay-off, que em alguns casos atinge 95% das forças de trabalho”, diz Pedro Fontaínhas.

Todo este cenário está a causar estragos nos negócios que estavam em curso já que “as empresas debatem-se com a impossibilidade de formalizar escrituras, os notários estão fechados, não é possível reconhecer uma assinatura” e tudo isso está a “criar uma pressão bastante forte nas tesourarias porque as vendas de imobiliário têm um peso de 80% ou mais nas receitas anuais destas empresas”.

Sobre a forma como o setor pode minimizar os estragos, o líder da APR afirma que aquilo que “as empresas estão neste momento a fazer é tomar todas as medidas ao seu alcance para reduzir custos e poderem sobreviver”, salientando que “antes de setembro não teremos nada parecido com normalidade e é possível que ela só aconteça daqui a um ano. Preparamo-nos para um longo período de crise”, enfatiza. No entanto, Pedro Fontaínhas explica que não basta ser Portugal a recuperar, “precisamos que os mercados dos nossos clientes também recuperem”, sendo que 70% são de nacionalidade estrangeira com os ingleses a representarem 30% dessa ‘fatia’.

Pedro Fontaínhas diz que as medidas do Governo são positivas, mas que “ainda são muito insuficientes e em alguns casos carecem de mais detalhes”, sublinhando que a associação já preparou um conjunto de medidas que considera “urgentes”, como o “relançamento de instrumentos de competitividade nacional na captação e fixação de investimento estrangeiro, com os Vistos Gold e o regime dos residentes não habituais”, conclui.

Artigo publicado no Jornal Económico de 03-04-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor

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