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A tempestade perfeita

Nunca foi tão desafiante como hoje ter a responsabilidade de gerir uma frota automóvel.
26 Maio 2022, 18h41

Nunca foi tão desafiante como hoje ter a responsabilidade de gerir uma frota automóvel.

O contexto é adverso, em permanente mutação e com um horizonte de incertezas absolutas. Os novos desafios são crescentes e carecem de opções estratégicas que ultrapassam o domínio da própria empresa e têm eco no modelo social.

Esta carta tem por objetivo partilhar uma reflexão sobre os desafios que atormentam a missão do Gestor de Frota e apresentar um leque de sugestões que os podem ajudar nesta tempestade perfeita.

Os três grandes desafios
A missão do Gestor de Frota pode resumir-se a assegurar a gestão de mobilidade da empresa (operacional e dos colaboradores), ao mais baixo custo, com elevados padrões de qualidade e garantindo um elevado nível de satisfação interna e externa.

No contexto atual, esta definição parece mais um enredo da nova sequela da “Missão Impossível”. Impossível não será, mas é desafiante. É importante ter presente que os desafios agora enfrentados são globais, pelo que cada um não está só com o seu problema.

Como em todas as crises, o que se espera de um Gestor é que tenha a habilidade para interpretar as condições de contexto, prever as tendências futuras, identificar as diferentes opções e tomar as melhores decisões possíveis. É muito difícil, mas não é impossível.

Sem prejuízo de realidades próprias de cada setor de atividade, podemos sintetizar o contexto atual em 3 grandes desafios:

I. Agravamento de custos
A conjugação da crise pandémica, com a crise dos semicondutores e chips, a guerra na Ucrânia e os recentes lockdowns na Ásia criaram um verdadeiro tsunami nas cadeias de abastecimento de matérias-primas e componentes, bem como uma escalada vertiginosa nos custos energéticos e de transportes.

Como consequência direta, no setor automóvel temos uma forte contração da oferta, com impactos em termos de:

– Aumento dos preços dos automóveis.

– Não garantia de preços por parte dos fabricantes e importadores.

– Redução dos descontos de quantidade.

– Pressão inflacionista que criou a necessidade de ajustamentos da política monetária e que estão desde já a ter impacto no agravamento das taxas de juro (já bem visíveis nas maturidades superiores a 3 anos).

– Aumento dos preços dos combustíveis e da eletricidade.

II. Alargamento dos prazos entrega
No fim do dia, um automóvel é uma linha de montagem onde são incorporadas milhares de peças, de centenas de fornecedores, com fábricas em vários países. Estas linhas de montagem viraram um verdadeiro puzzle, um quebra-cabeças para quem tem de assegurar que todas as peças estão disponíveis.

O resultado não podia ser mais perturbador:

– Os prazos de entrega mais que quadruplicaram, passando de 60 a 90 dias para 7 a 12 meses.

– Há modelos para os quais hoje não se aceitam encomendas e há versões de determinados modelos com prazos de entrega bem superiores a 1 ano.

– Os prazos de entrega deixaram de ser garantidos.

– Os prazos estimados são constantemente revistos.

– Algumas marcas estão a condicionar a definição do preço à data de entrega que, como dissemos, não conseguem garantir.

III. Transição energética
A questão da sustentabilidade ambiental dos transportes já era uma realidade e um grande desafio coletivo, mas a recente crise energética veio acelerar a consciencialização dos gestores para a eletrificação das frotas.

Nesta matéria os desafios também são grandes e as dúvidas avolumam-se:

– Que viaturas da frota são suscetíveis de “migrar” já para soluções elétricas?

– As autonomias atualmente existentes são já aceitáveis?

– Os Híbridos são uma solução ou o adiar do problema?

– Instalação de postos de carregamento. Quantos postos e com que potência?

– A potência instalada nas instalações é suficiente?

– Gestão das soluções de carregamento fora da empresa (domicilio dos colaboradores e rede pública).

Cinco sugestões abrangentes
Ninguém consegue prever quanto tempo e qual a magnitude final desta tempestade perfeita, mas há alguns consensos. Acredita-se que este cenário não vai melhorar nos próximos 12 meses e que a situação ainda vai piorar antes de melhorar.

As crises são assim. Sabemos como começam e nunca sabemos como e quando acabam. Por isso se fala cada vez mais num novo normal, que afeta as reflexões e decisões dos Gestores de Frota. Ficar parado e não decidir não é solução. Quando não há soluções ideais há a melhor solução possível.

Partilhamos 5 sugestões abrangentes que podem ajudar os Gestores de Frota a definir o rumo:

1. Estenda os contratos existentes
A mobilidade da empresa não pode ser comprometida, pelo que em última instância a extensão dos contratos acaba por ser a melhor opção. Permite ganhar tempo e conter o aumento dos custos.
Os confinamentos e os modelos híbridos de trabalho (teletrabalho) reduziram os km percorridos, pelo que esta é uma boa oportunidade para rentabilizar as poupanças obtidas.

2. Antecipe as encomendas
Limitar a solução à extensão de contratos é um erro. A maioria das extensões de contratos é feita por 1 ano o que, dados os prazos de entrega previstos, exige que a encomenda das novas viaturas seja feita desde já.

A perda de um a dois meses nas decisões pode implicar custos acrescidos e tempos de espera ainda maiores. Quando as coisas não estão bem, tendemos a acreditar que o tempo ajudará a resolver. Nesta fase não existem muitas dúvidas de que decidir mais cedo será sempre melhor do que mais tarde.

3. Introduza viaturas elétricas
A transição para a mobilidade elétrica não se fará, naturalmente, de uma só vez. Os incentivos fiscais, a que se junta agora o agravamento substancial do preço dos combustíveis, criaram o contexto ideal para dar início ao processo de eletrificação da frota.

Comece por avaliar os circuitos da frota operacional do last mile. A eletrificação das viaturas comerciais está atrasada, mas o tiro de partida já foi dado e são muitas as empresas que já estão hoje a avaliar seriamente esta opção e os números vão crescer nos próximos meses.

As autonomias apresentadas, de sensivelmente 300Km, são já bem suficientes para circuitos urbanos e sub-urbanos. Uma utilização mais intensa pode requerer carregamentos a meio do dia, mas em muitos casos um único carregamento noturno, a baixo custo e sem conflitos de potência instalada, é suficiente.

As viaturas de função também merecem uma atenção especial. Nos últimos anos a opção pelos Híbridos Plug-in tem sido rainha, por força dos benefícios fiscais, mas é hora de analisar a opção elétrica. A grande maioria dos colaboradores fazem uma utilização em trabalho inferior a 100Km por dia e os que utilizam a viatura em deslocações casa/trabalho fazem em média 40Km diários.

Avalie quem tem condições de carregar a sua viatura no seu domicílio. No orçamento deste ano foi prevista uma verba de 500m€ para incentivos à instalação de carregadores elétricos em condomínios multifamiliares. Há cada vez mais utilizadores que assumem a vontade de ter uma viatura elétrica, por razões ambientais, de conforto, modernidade e economia. Sejam 5% ou 10% dos colaboradores, é um começo que serve de piloto, que satisfaz os inovators e introduz um rumo de sustentabilidade na empresa.

4. Avalie prazos de contrato diferentes dos tradicionais
Tradicionalmente os contratos de renting têm maturidades de 4 anos. No atual quadro de crise e de disrupção tecnológica, o Gestor de Frota deverá avaliar outras opções menos comuns.

Para quem acredite que este agravamento de condições deverá estar resolvido a curto/médio prazo e que a disrupção tecnológica vai acelerar, a opção por prazos de 2 a 3 anos pode ser a solução, ainda que com um eventual custo acrescido no curto prazo.

Para quem antecipa que este contexto adverso está para durar (e eventualmente agravar), valerá a pena avaliar soluções a 5 ou 6 anos.
Novos contextos exigem novas abordagens e, muito provavelmente, novas soluções.

5. Seja flexível na escolha das marcas e modelos
A rigidez na escolha das marcas e modelos tem habitualmente um custo que, nesta fase, pode ser agravado pelas limitações ao nível das entregas.

Recomenda-se uma maior atenção às previsões de prazos de entrega, antes de se optar por determinada marca e modelo. A realidade das marcas não é toda igual e, mesmo numa determinada marca, a realidade dos diversos modelos é diferente.

A escolha dos opcionais também requer um cuidado especial. A escolha de determinado opcional pode implicar um agravamento do prazo de entrega de mais de 6 meses.

É nos momentos difíceis que as melhores soluções se fazem notar ainda mais. Não há receitas milagrosas, nem uma panaceia para todos os males, mas há decisões a tomar e umas são melhores do que outras.

Ao Gestor de Frota cabe a decisão final.

A nós cabe a função de partilhar toda a informação disponível e apresentar soluções que ajudem o Gestor de Frota a tomar as melhores decisões.

A missão é difícil, mas não é impossível!

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