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Alterações climáticas podem tornar-se a principal causa da perda de biodiversidade até 2050, conclui estudo

Estudo internacional, envolvendo investigadores portugueses das Universidades de Coimbra e do Porto mostra que as políticas atuais são insuficientes para atingir os objetivos internacionais em matéria de biodiversidade. “Precisamos de esforços renovados para fazer progressos”, adiantam.
26 Abril 2024, 15h26

A biodiversidade global diminuiu entre 2 e 11% ao longo do século XX, em resultado exclusivamente das alterações na utilização dos solos, revela um estudo publicado esta sexta-feira, 26 de abril, na prestigiada revista Science.

As projeções apresentadas nesta investigação sugerem que, até meados do século XXI, as alterações climáticas podem vir a tornar-se a principal causa da perda da biodiversidade.

O artigo científico Global trends and scenarios for terrestrial biodiversity and ecosystem services from 1900 to 2050 – o maior estudo com recurso a modelos climáticos realizado até à data – foi liderado pelo Centro Alemão de Investigação Integrativa da Biodiversidade (iDiv) e pela Universidade Martin Luther de Halle-Wittenberg (MLU), e contou com a participação de vários investigadores portugueses.

A Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES) considera que as mudanças no uso do solo são uma das principais causas para a perda de biodiversidade. No entanto, os cientistas dividem-se quanto à dimensão desse declínio nas últimas décadas. 

“Para melhor responder à questão, a equipa de investigação utilizou modelos climáticos para calcular os impactos das alterações da utilização dos solos na biodiversidade global ao longo do século XX, concluindo que “terá havido um declínio entre 2 e 11%, intervalo que abrange quatro indicadores de biodiversidade calculados por sete modelos diferentes”, refere uma nota da Universidade de Coimbra.

Os cientistas, entre os quais Carlos Guerra, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, compararam 13 modelos para calcularem o impacto das mudanças na utilização dos solos e das alterações climáticas em quatro indicadores de biodiversidade diferentes, e em nove serviços de ecossistemas. 

“A inclusão de todas as regiões do mundo no nosso modelo permitiu preencher diversas lacunas e rebater as críticas de outras abordagens que trabalham com dados parciais e potencialmente enviesados”, refere Henrique Pereira, primeiro autor do estudo, responsável pelo grupo de investigação do iDiv e do MLU e investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto. “Todas as abordagens têm os seus prós e contras, mas achamos que a nossa metodologia de modelação apresenta uma estimativa mais exaustiva das tendências globais da biodiversidade”, acrescenta. 

Recorrendo a outro conjunto de cinco modelos, os investigadores calcularam também o impacto simultâneo das alterações do uso do solo nos chamados serviços dos ecossistemas, ou seja, os benefícios que a natureza disponibiliza aos seres humanos. “No século passado, verificou-se um aumento massivo dos serviços de aprovisionamento, como a produção de alimentos e de madeira. Em contrapartida, os serviços de regulação, como a polinização, a fixação de azoto ou o sequestro de carbono, tiveram uma diminuição moderada”, refere a nota da Universidade de Coimbra.

Os investigadores analisaram ainda a potencial dinâmica de evolução da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas. Para estas projeções, integraram nos seus cálculos as alterações climáticas como um fator crescente e determinante das alterações na biodiversidade. Os resultados do estudo indicam que “as alterações climáticas vão ter um impacto negativo acrescido tanto na biodiversidade, como nos serviços dos ecossistemas. Embora as mudanças na utilização dos solos continuem a assumir um papel relevante, as alterações climáticas tenderão a tornar-se na principal causa da perda de biodiversidade até à primeira metade deste século”. 

“A avaliação do impacto de políticas concretas para a biodiversidade ajuda a identificar medidas mais eficazes para salvaguardar e promover a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas”, afirmam os investigadores. “Haverá certamente imprecisões de modelação”, acrescentam. “Ainda assim, os nossos resultados mostram claramente que as políticas atuais são insuficientes para atingir os objetivos internacionais em matéria de biodiversidade. Precisamos de esforços renovados para fazer progressos contra um dos maiores problemas do mundo, que é a perda da biodiversidade provocada pela ação humana”, concluem os cientistas.

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