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António Saraiva: “Somos um país adiado”

A conferência ‘Forma Futura – uma reflexão sobre a construção’, em Leiria, encerrou com uma intervenção do presidente da Transfor, que regressou ao lugar de combatente pelo desenvolvimento: sem medo de apontar o que está errado.
28 Novembro 2023, 13h17

As razões estão à vista de todos, mas a sua formulação não costuma surgir: “Somos um país adiado”, disse António Saraiva, presidente do Conselho Estratégico da Transfor na intervenção que marcou o encerramento da conferência ‘Forma Futura – uma reflexão sobre a construção’, organizada pelo Jornal Económico e pela Transfor, que decorreu no Teatro Miguel Franco, em Leiria esta terça-feira, 28 de novembro.

O que está em causa, reforçou o anterior presidente da CIP, “é a ineficácia do Estado regulador” nos seus mais diversos braços ‘tentaculares’ – mas cuja ineficiência resulta em primeira ordem “da falta de estratégia, de rumo”. Num contexto em que “estamos inundados de legislação europeia, adulterando as especificidades portuguesas” e continuamos a pagar “aquilo que foram os erros cometido no tempo da Troika”, António Saraiva não compreende como, apesar de todos os diagnósticos – que vão todos no mesmo sentido – ainda há evidências que continuam a marcar a economia. “Temos três grandes reformas que continuam por fazer: administração pública, justiça e a reforma fiscal”.

Por uma razão difícil de entender – mas talvez radique exatamente no facto de “não termos um rumo definido” – o poder político sabe que é assim, mas persiste em manter as ineficiências bem vivas junto do tecido empresarial. “Ou removemos obstáculos na estrada do desenvolvimento ou não nos conseguiremos desenvolver”, afirmou. Não apenas no sector objeto do encontro, “mas todo o país”.

Evidentemente que a internacionalização é uma das formas de sair do ‘atoleiro’, mas “para internacionaliza é preciso dimensão e capital”. Recordando que um vasto número de grandes empresas do sector da construção desapareceu”, as que restam confrontam-se agora com o sector bancário. E tudo parece contribuir para a ineficiência. António Saraiva deu o exemplo costumeiro do parecer prévio de uma obra. “Porquê um parecer prévio? Para evitar a morosidade processual; o problema é que a banca não arrisca [conceder crédito] com o parecer prévio”. Um exemplo claro de um mecanismo que serve para resolver um problema que cria outro problema um pouco mais a jusante. Ou, dito de outra forma: ou há uma reforma que seja isso mesmo, uma reforma, ou os ‘remendos’ acabarão por não servir para nada.

De qualquer modo, António saraiva preferiu acabar a sua intervenção de encerramento com uma nota positiva: “o sector tem futuro? Tem.” África é um desses caminhos, mas não só: “outros continentes que têm oportunidades”.

“Temos futuro, mas está comprometido por práticas governativas. A liberdade dada aos lobos representa a morte das ovelhas. Os moderados vamos dando liberdade e o radicalismo vai tomando o poder. É na cidadania exigente que podemos conseguir que os processos e a administração pública sejam desenvolvidos”, afirmou – num contexto em que os radicalismos estão na linha da frente do debate político.

“Não é sentados no sofá” que o país irá para a frente – “senão, estaremos daqui a cinco anos ou menos a discutir as mesmas coisas. Não podemos adiar mais o país. Esta conferência pretende precisamente despertar consciências”, concluiu.

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