[weglot_switcher]

Bancos portugueses com lucros elevados e em Espanha caminham para fusões

A banca foi protagonista nesta terça-feira, último dia de abril, não só pelos bons resultados dos bancos portugueses (Santander Totta e BPI) e os menos entusiasmantes na vizinha Espanha (Santander e CaixaBank), mas também pelo primeiro passo dado rumo a uma fusão bancária, com o BBVA a apontar ao Sabadell.
2 Maio 2024, 07h30

Num dia em que a banca teve especial protagonismo, nomeadamente com a proposta de fusão do BBVA em Espanha ao seu rival mais pequeno Sabadell, os lucros do Santander Totta e do BPI registam uma subida significativa no primeiro trimestre. No caso do Santander Totta, os lucros subiram  58,4%, para 294,4 milhões de euros e, no BPI, o lucro consolidado ascendeu a 121 milhões de euros, o que traduz um aumento de 43% face ao período homólogo. Sendo que em Portugal os lucros do BPI somaram 112 milhões, mais 52% que um ano antes, assente no aumento dos proveitos core, com a margem financeira a crescer 19% para 245 milhões.

No Santander Totta, a margem financeira disparou num ano 64,4% para 440,6 milhões de euros.

Em termos de rentabilidade dos capitais próprios, o Santander leva vantagem sobre o concorrente BPI, ao reportar um ROE (Return on Equity) de 27,2%, acima do verificado no mesmo período do ano passado (19,7%).

Já no BPI, a rentabilidade em Portugal (medida pelo RoTE) fixou-se em 17,2%.

Quando olhamos para o malparado, o banco liderado por Pedro Castro e Almeida reportou um rácio de NPE (non performing exposure), ou crédito malparado, de 1,8%, que traduz uma redução em 0,3 pp face ao mesmo período de 2023, sendo a cobertura por imparidades de 86,2%.

Já o banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa, revela um rácio de crédito de NPE (Non-Performing Exposure) em 1,6% com cobertura de 98% por imparidades.

O BPI revelou um detalhe: o aumento do rácio de crédito reestruturado, não incluído em NPE, é de 1,2%, subindo face a 0,8% um ano antes. Mas o administrador Francisco Matos, questionado na conferência de imprensa, sublinhou que o aumento de créditos renegociados não vai levar a aumento de NPE.

O custo do risco de crédito do BPI melhorou ligeiramente para 0,15%, um nível considerado reduzido.

No Santander Totta, o custo do risco reportado é de 0,14% e, apesar de estar num nível reduzido, revela uma degradação face ao período homólogo do ano anterior.

Questionado sobre se é um sinal de que há mais créditos a entrarem em imparidade, o Santander Totta respondeu ao Jornal Económico que “não, porque os dados do custo do crédito estão em média móvel de quatros trimestres e os dados do 1º trimestre de 2023 captam a recuperação de créditos que ocorreu em 2022”.

“Apesar da rápida e pronunciada subida das taxas de juro, nos anos de 2022 e 2023, a qualidade da carteira de crédito não foi afetada, beneficiando em grande medida do baixo desemprego, assim como da atuação proativa por parte dos próprios clientes na gestão dos seus créditos. Em resultado, o rácio de NPE situou-se em 1,8%, uma redução em 0,3pp face ao mesmo período de 2023”, acrescenta o banco.

Questionado sobre se a esperada redução das taxas de juros vai afetar os resultados dos próximos trimestres, o Santander Totta referiu ao JE que a “evolução dos resultados depende de vários fatores, sendo a taxa de juro um deles”.

“Os resultados alcançados no primeiro trimestre decorrem da nossa atividade recorrente e da transformação comercial e digital que temos vindo a executar nos últimos anos”, diz o banco, acrescentando que “a evolução dos resultados nos próximos trimestres vai depender, não só, da evolução das taxas de juros, mas também do andamento do nosso negócio, nomeadamente na evolução dos recursos, do crédito e da captação de novos clientes”.

O Santander Totta sublinhou o “crescimento forte de clientes no primeiro trimestre”, referindo ainda que “o número de clientes ativos e digitais manteve uma trajetória de crescimento, com incrementos significativos (mais 57 e 60 mil, respetivamente, face ao período homólogo)”.

“Este aumento de clientes refletiu-se igualmente numa maior transacionalidade, ultrapassando mais de um milhão de operações diárias de compras e pagamentos”, acrescenta o banco liderado por Pedro Castro e Almeida.

“Temos pela frente um ano desafiante, em que podemos antecipar uma normalização das taxas de juro do mercado e um alisamento da margem financeira. Mantemos uma posição financeira sólida e uma capitalização confortável, que nos permite continuar a dar um impulso ao crescimento das empresas portuguesas e apoiar os portugueses em cada passo das suas vidas”, defendeu por sua vez o CEO do Banco BPI.

João Pedro Oliveira e Costa não antevê que “possa haver sobressalto com a descida dos juros”, mas acredita que o BCE vai iniciar a descida dos juros, o que terá um impacto positivo na economia, nas família e nas empresas.

A próxima reunião do BCE para decidir as taxas de juro vai ocorrer no dia 6 de junho.

“Acreditamos que os lucros em 2024 vão ser mais baixos, mas eventualmente não ficarão tão abaixo como o BPI previa”, disse o  CEO.

No balanço, o BPI reportou que a carteira de crédito a empresas cresceu 6% num ano para 11,6 mil milhões de euros. A quota de mercado no crédito a empresas situou-se em 11,2%. Do outro lado do balanço, os recursos totais de clientes aumentaram 3% num ano (ou seja, +1,1 mil milhões de euros) totalizando 38,4 mil milhões no primeiro trimestre, com quotas de mercado estáveis.

Já o Santander Totta revelou que o crédito a clientes ascendeu a 46,6 mil milhões de euros (+9,6% em termos homólogos). Mas o crédito hipotecário reduziu-se em 1,5% face ao período homólogo, enquanto o crédito ao consumo ficou praticamente inalterado, beneficiando de uma progressiva recuperação dos novos volumes de crédito.

Por sua vez os recursos de clientes ascenderam a 43,8 mil milhões de euros, o que traduz uma redução de 2,3% face ao mesmo período de 2023, largamente explicada pelo comportamento dos depósitos, que caíram 4,7% para 35,5 mil milhões de euros, mas que foi compensada pela diversificação das poupanças para recursos fora de balanço, os quais cresceram 10,1% neste período.

Confrontado com o facto de o crédito à habitação estar a cair e os depósitos terem descido 4,7%, o Santander Totta diz que “esta é a variação homóloga, que ainda está influenciada pela dinâmica do início de 2023”.

“Neste primeiro trimestre do ano registámos um aumento nos volumes de crédito e de recursos comparativamente ao final de 2023. O número de clientes ativos e digitais manteve uma trajetória de crescimento, com incrementos significativos (mais 57 e 60 mil, respetivamente, face ao período homólogo), tendência com impacto positivo no negócio do banco. É de lembrar também a diversificação de recursos para instrumentos financeiros fora de balanço, cujo volume cresceu 10,1%, para 8,2 mil milhões de euros”, acrescenta o banco.

“Dito isto, o Santander continuará a seguir a sua estratégia de apoio aos seus clientes e à economia nacional, apostando na inovação, tecnologia e simplificação dos seus produtos e estando sempre disponível para apoiar projetos que tragam valor acrescentado ao país e economia”, conclui.

Os bancos espanhóis donos do Santander Totta e do BPI também apresentaram lucros do primeiro trimestre na passada terça-feira.

No Santander, segundo a MTrader, “o esforço do banco para expandir a banca de investimento aumentou as despesas no 1.ºtrimestre, ofuscando rendimentos de empréstimos mais fortes do que o esperado”. O resultado líquido cresceu 10,9% em termos homólogos, para 2,85 mil milhões, “mas recuou 2,8% em base sequencial, ficando um patamar levemente inferior ao antecipado pelos analistas (2,89 mil milhões)”, refere a análise do Millennium BCP Investment Banking.

A margem financeira expandiu-se 7,7% face ao trimestre antecedente, para 11,98 mil milhões, sustentada pelo forte desempenho do retalho em mercados-chave, como Espanha e Brasil.

Os custos também aumentaram 7%.

Já sobre o CaixaBank, o MTrader destaca que o banco espanhol reportou um produto bancário de 3,5 mil milhões no primeiro trimestre, acima do esperado, com margem financeira a superar as estimativas, o que resultou em lucros também acima do expectável. O BPI contribuiu com 242 milhões para a margem financeira do grupo.

O rácio de rentabilidade do CaixaBank, ROE, foi de 11,4%, praticamente em linha com a estimativa dos analistas.

Posto isto, os analistas do Citi Group referem que, “apesar dos números reportados, a falta de guidance para 2025 desapontou”, e defendem que a crescente expetativa do mercado que antecedeu os resultados, e que se revelou na valorização da cotação do título, fez com que a performance revelada no trimestre já estivesse refletida na cotação atual.

Resultado, os dois bancos cotados na Bolsa de Madrid sofreram uma queda da cotação, no CaixaBank de 3,24% e no Santander de 3,74%, isto no fecho da sessão de bolsa de terça-feira.

Na banca espanhola, a juntar à resposta negativa aos números de Santander e o Caixabank, esteve ainda a queda dos títulos do BBVA, perante notícias de que está de olho numa eventual OPA ao Sabadell.

O BBVA confirmou que entrou em contacto com o Banco Sabadell para explorar uma possível fusão. Esta união poderá tornar-se numa das maiores fusões bancárias dos últimos anos na Europa.

A possível fusão do BBVA e do Banco Sabadell significaria a criação de um gigante financeiro com 986.924 milhões de euros em ativos, com dados do final do primeiro trimestre de 2024.

A XTB revela que, com esta operação, o BBVA recupera a primeira posição por volume de ativos em Espanha, um dos seus principais mercados e um dos que mais cresceu nos seus últimos resultados.

Para perceber a dimensão da operação, é preciso ter em conta que o BBVA tem uma capitalização bolsista de cerca de 60 mil milhões de euros, ao passo que o Sabadell tem um valor de mercado de cerca de 10 mil milhões de euros. São ambos bancos cotados.

Já os analistas do Jefferies, sobre a fusão BBVA/Sabadell, têm uma análise com o sugestivo título “Well Done is Better than Well Said”, numa clara alusão ao facto de já ter havido uma tentativa falhada de fusão entre os mesmos bancos em 2020.

No país vizinho já foram divulgados os resultados do primeiro trimestre de 2024 de sete bancos espanhóis (Santander, BBVA, Caixabank, Banco de Sabadell, Bankinter, Abanca e Kutxabank). A DBRS considera os resultados “muito fortes” no primeiro trimestre, impulsionados pelo aumento da margem financeira, comissões mais elevadas e melhoria do custo do risco. “Qualidade de activos estável devido a uma dinâmica económica interna melhor do que o esperado em 2024”, refere a DBRS.

Em Portugal, esta quinta-feira, é a vez do Novobanco apresentar as suas contas do primeiro trimestre, depois de o Banco Montepio, o BPI e o Santander Totta já o terem feito.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.