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Boris Johnson, o primeiro-ministro que chegou atrasado ao combate à Covid-19

Foi preciso o exemplo do resto da Europa e uma severa carta subscrita por 229 cientistas (a 14 de março) para Boris Johnson se convencer que a imunidade coletiva não era opção. Ironicamente, para ele próprio foi tarde demais.
27 Março 2020, 12h26

Ironia das ironias, o homem que chegou a colocar a hipótese de uma solução social para a pandemia da Covid-19 – como se faz com as crianças que são atiradas à força para dentro de um quarto onde esteja uma outra criança infetada com sarampo – está infetado. Depois de se introduzir na casa real – o príncipe Carlos também está infetado – a pandemia chega assim ao topo da hierarquia política britânica.

A primeira tentação do chefe do executivo britânico foi apostar na chamada ‘imunização de rebanho’, que pressupunha que a infeção de grande parte da população desenvolveria uma imunidade coletiva com o objetivo de proteger todos os cidadãos. Johnson esteve assim preciosos dias a perder tempo, antes de ser obrigado a admitir que a opção chinesa – a chamada ‘supressão’, que é a estratégia de rompimento com a cadeia de contágio pela distanciação social de toda a população – seria a mais acertada.

Até então, as escolas não fecharam, o comércio também não, os museus idem, os serviços públicos e privados nem pensar e quando aos bares – Johnson chegou a ser fotografado no interior de um – nem era bom colocar a ideia.

Numa carta aberta publicada no sábado, 14 de março, 229 cientistas, entre matemáticos e geneticistas, pediram a Johnson que tomasse medidas mais restritivas, já que a disseminação, mesmo que supostamente controlada da doença, iria colocar o Serviço Nacional de Saúde sob demasiado stress e assim “arriscar mais vidas do que as necessárias”. Os subscritores pediam uma ação semelhante à acionada nos restantes países europeus e deixavam fortes críticas a Johnson.

Johnson teve ainda de ouvir da oposição – apesar de o Partido Trabalhista andar ‘entretido’ com a substituição de Jeremy Corbyn – clamar pelos atrasos que, numa primeira instância e numa altura em que toda a Europa já tinha apontado para o distanciamento, já se verificavam no caso britânico.

Talvez para limpar a face, e ao mesmo tempo que admitia que os britânicos iriam ‘copiar’ o que o resto do mundo estava a fazer, Boris Johnson veio a público explicar que o seu governo conseguiria reverter os efeitos da pandemia em apenas 12 semanas. A oposição voltou a ficar admirada e pareceu não estar nada convencida.

Mas, em resposta, Johnson – que ainda estava em estado de graça depois de ter acabado de apresenta um orçamento para 2020 claramente expansionista – avançou finalmente com medidas ‘a sério’: uma injeção direta de 30 mil milhões de libras (cerca de 32 mil milhões de euros) em dinheiro para os empregadores, o equivalente a 1,5% do PIB britânico. E este é apenas o valor de que o Estado britânico vai abdicar temporariamente (até ao final do ano fiscal) em impostos. A acrescentar a isto, haverá ainda mais dinheiro para outros apoios que se verifiquem necessários, mesmo que parte dele jã esteja inscrito no Orçamento para 2020.

Entretanto, desde segunda-feira que o Reino Unido está, como todos os restantes países da Europa, a viver em severa restrição de todos os movimentos sociais – só os admitindo em casos urgentes ou de comprovada necessidade.

A culminar a semana, surge agora a notícia de que Boris Johnson está infetado, sendo o primeiro chefe de Estado ou de governo da Europa a entrar na triste lista.

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