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Centeno revela que Portugal fechou o ano com dívida pública abaixo de 100%

“A dívida pública vai voltar a menos de 100% do PIB”, disse o Governador do Banco de Portugal que assim antecipa os dados que o banco central vai divulgar nesta quinta-feira.
1 Fevereiro 2024, 09h56

Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal, fez a abertura do Fórum Banca 2024, uma conferência organizada pelo Jornal Económico e PwC. No seu discurso anunciou que ainda hoje vai ser oficialmente conhecido que a dívida pública em percentagem do PIB ficou abaixo dos 100% em 2023.

“A dívida pública vai voltar a menos de 100% do PIB”, disse o Governador do Banco de Portugal que assim antecipa os dados que o banco central vai divulgar nesta quinta-feira.

“Ficaremos a saber hoje que está abaixo dos 100%, o que não acontecia há muito tempo”, sublinhou o Governador que fez do tema da dívida o tema central da sua intervenção.

“Os resultados financeiros de Portugal têm sido positivos e o país tem cumprido a trajetória que permite a dívida pública a voltar a ser abaixo de 100%”.

A descida da dívida  “não é um epifenómeno” nem “acontece por acaso”. Pois “resulta de um esforço que começa pelo setor financeiro, passa pelas famílias, pelas empresas e, necessariamente, pelo Estado”, acrescentou.

O Governador sublinhou que a dívida caiu num contexto de crise.

“É um caminho que temos de continuar a fazer”, referiu Mário Centeno.

A sustentabilidade da dívida foi realçada pelo Governador que salientou que o país se destaca neste indicador na Europa. O Governador disse que “há um indicador particularmente significativo que tem a ver com a análise da sustentabilidade da dívida que as instituições europeias fazem regularmente e nas últimas avaliações, Portugal, nos países de média e grande dimensão, tem apenas a Alemanha com níveis de  sustentabilidade da dívida melhores”.
Centeno sublinhou que o país tem neste momento o Estado, as empresas e as famílias a reduzirem o endividamento e “a banca beneficia disso”. O incumprimento financeiro “está em mínimos históricos”, disse lembrando que “temos o maior mercado de trabalho que alguma vez tivemos em Portugal e a taxa de desemprego é historicamente baixa”.

A desalavancagem das empresas está num nível “sem paralelo” na Europa, frisou Centeno que acrescentou que as empresas conseguiram continuar a investir e estão mais capitalizadas. Como o país cresce, os resultados das empresas refletem isso e os resultados da banca refletem isso também”, continuou.

O Governador do banco central não poupou elogios à trajetória da economia portuguesa na última década. “Portugal está numa posição invejável no contexto europeu, quando comparada com a primeira crise financeira deste século”.

Mas há desafios, disse o Governador do banco central que falou do processo inflacionista que atingiu o mundo pós-Covid, o que considera ser “a maior crise de muitas décadas”.  O mundo confrontou-se com um processo inflacionista, “pois a procura reagiu mais depressa que a oferta”.

Depois veio a crise energética com a guerra da Ucrânia e a crise dos produtos alimentares. Tudo isto para dizer que passámos pelo “período mais longo de inflação nas nossas economias modernas”, referiu o economista que lidera o banco central nacional.

“A inflação está sustentadamente a convergir para os 2% e esperemos que fique nos 2%”, sublinhou Centeno.

O desafio apontado pelo Governador prende-se com a falta de crescimento da economia europeia. “A economia europeia não cresce desde o terceiro trimestre de 2022”, referiu.

O economista destacou que, não apenas na Europa, o mercado de trabalho tem contribuído para a manutenção dos níveis de rendimento, apesar da falta de crescimento do PIB. “Mas numa economia que não cresce há um ano e meio é difícil não esperar o impacto no mercado de trabalho que tem mostrado até agora resiliência e adaptabilidade”, disse o Governador.

“Numa economia que não cresce é difícil garantir que esta dinâmica não se refletirá no mercado de trabalho, e por isso todos os cuidados são poucos para preservar as condições de funcionamento do mercado de trabalho”, referiu.

“O mercado de trabalho  é maior hoje do que no período pré-Covid, o que não aconteceu nos Estados Unidos e Portugal contribuiu para este sucesso”, disse.

O “enorme crescimento” do mercado de trabalho em Portugal foi invocado pelo Governador que salientou que as taxas de participação “continuam a aumentar”.

No entanto em Portugal o grande desafio é “a procura externa” que tem uma dinâmica inferior à que teve nos tempo da troika. “A Europa não está a crescer e é o nosso maior cliente”, frisou.

“Já não vai ser a procura externa que vai alavancar o crescimento da economia”, disse o economista que referiu que a economia precisa de estímulos, e defende que a política monetária pode ajudar aqui.

“É um desafio em período de desalavancagem investir e crescer ao mesmo tempo”, frisou Centeno que realça que isso foi o que Portugal fez na última década.

Sobre a inflação disse que “está a cair mais rapidamente do que subiu” o que traduz o sucesso da política monetária.

As taxas de juro restritivas continuam a repercutir-se nas condições de financiamento e na procura e com a redução da inflação e a manutenção das taxas de referência, a taxa de juro real continuará a aumentar, destacou na sua apresentação na Fundação Calouste Gulbenkian.

“Se a inflação se mantiver no trajeto de descida é expectável que a decisão do BCE seja uma descida dos juros, rumo à normalização das taxas de juros próximo do seu nível neutral”, acrescentou Centeno.

Sobre a estabilidade financeira o responsável pelo supervisor da banca disse que o sector em Portugal teve uma transformação estrutural. “Depois de muitos anos com o ativo a cair, desde 2018 que o ativo dos bancos sobe”, referiu.

“Os resultados dos bancos vão ser a estrela das próximas semanas pela positiva”, acrescentou. O Governador voltou a frisar a redução da taxa de morosidade no crédito bancário, com o rácio de NPL a cair muito abaixo dos 5%, e lembrou os elevados rácios de capital (CET1), colocando os bancos portugueses no top5 da Europa. O Governador citou o caso de um banco (CGD) que teve o melhor teste de stress no ano passado.

Mário Centeno procurou destacar o “como chegámos até aqui?”

O pilar financeiro está no facto de o setor bancário estar no top 5 europeu (de acordo com a EBA e BCE) . Ao nível das finanças públicas é a sustentabilidade da dívida que destaca. Na poupança o destaque vai para a almofada criada para fazer face à incerteza. Por fim Centeno destacou a melhoria continuada dos ratings desde 2017.

Em jeito de conclusão, Centeno, destacou ainda que o pilar estrutural da produtividade é a educação, a que chamou a revolução silenciosa que se está a fazer, espelhada no nível de licenciados do país.

O Governador destacou o investimento, em contexto de desalavancagem; e o mercado de trabalho como suporte da recuperação económica.

(Atualizada)

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