Um novo relatório de um comité especial da ONU acusa Telavive de aplicar métodos de guerra consistentes com genocídio, usando a fome como arma contra populações civis, enquanto a Human Rights Watch alerta para a limpeza étnica em curso no norte da Faixa, onde o exército tem vindo a expulsar populações das suas residências sem qualquer intenção aparente de as deixar regressar.
O primeiro relatório, da autoria do comité especial da ONU, fala numa campanha sistemática e “intencional” de privação de direitos fundamentais, como o acesso a água, comida e combustível, aos civis palestinianos, levando os redatores a considerarem esta conduta “consistente com as características de genocídio”.
“Com o seu cerco a Gaza, destruição de ajuda humanitária, a par de ataques direcionados e assassinato de civis e trabalhadores humanitários, e apesar dos apelos repetidos da ONU, das ordens vinculativas do TIJ e das resoluções do Conselho de Segurança, Israel está deliberadamente a causar morte, fome e ferimentos graves”, lê-se no relatório. Estas conclusões ficam em linha com a avaliação da ONU de que a fome generalizada está iminente no norte do enclave.
O relatório destaca ainda que, até fevereiro, as forças israelitas haviam bombardeado a Faixa de Gaza com mais de 25 mil toneladas de explosivos, “o equivalente a duas bombas nucleares”.
Também esta quinta-feira, a HRW argumenta que as evidências no terreno mostram que Telavive está a avançar com uma política de “limpeza étnica” no norte da Faixa de Gaza ao expulsar forçosamente civis de suas casas sem qualquer intenção de os deixar regressar – uma conduta que constitui outro crime de guerra.
O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Levy, afirmou esta segunda-feira que aos civis palestinianos do norte de Gaza seria permitido regressar a suas casas, embora sem estipular prazos. Com parte do território cercado há mais de um mês (a zona do campo de refugiados de Jabalia) e a esmagadora maioria das infraestruturas destruídas ou danificadas de forma crítica, é incerto como se processaria este regresso.
Em sentido contrário, a ministra dos colonatos, Orit Strock, ameaçou abandonar o governo caso as forças israelitas retirem do enclave palestiniano, argumentando que Israel “tem de apreender mais terras em Gaza para que o Hamas perceba que há um preço que não estão dispostos a pagar”.
Os dois relatórios surgem no dia após Josep Borrell, líder da política externa europeia que tem sido das vozes mais críticas no seio da UE das ações de Israel, ter defendido uma suspensão do diálogo com o país pela sua conduta em Gaza e um conjunto de oito organizações humanitárias terem lançado um alerta quanto ao agravar da situação humanitária no enclave, apesar da data limite apresentada pelos EUA para as forças israelitas ter já passado.
Recorde-se que a administração Biden havia colocado um prazo de trinta dias a Israel para melhorar a situação humanitária, apontando 19 medidas concretas para Telavive seguir – das quais, segundo o levantamento de um conjunto de oito organizações pela defesa dos direitos humanos no terreno, apenas quatro foram “parcialmente ou inconsistentemente implementadas”. Ainda assim, Washington anunciou não alterar a sua política relativamente ao seu maior aliado, garantindo apoio militar e político “inabalável” apesar das acusações de crimes de guerra e violações da lei internacional e norte-americana.
A ofensiva israelita em Gaza já matou pelo menos 43.736 pessoas, a maioria crianças e mulheres, com a faixa etária entre os cinco e os nove anos como a que regista maior mortalidade. Além destes mortos, pelo menos 103.370 pessoas ficaram feridas.
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