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Construção enfrenta com “extraordinária resiliência” carência estrutural de mão de obra

Para Reis Campos, o menor dinamismo na criação de emprego no sector entre abril e junho “não se prende com uma incapacidade de o sector de criar emprego, mas assenta, essencialmente, na dificuldade de contratação de mão de obra”.
27 Agosto 2024, 10h57

A construção tem demonstrado uma “extraordinária resiliência” face aos problemas estruturais de mão de obra, sustenta a associação setorial, apontando uma carência de 80.000 trabalhadores e lamentando as “dificuldades acrescidas” agora sentidas na contratação de estrangeiros.

“Os dados mais recentes demonstram que o nível de emprego assegurado pelas empresas do sector da construção manteve-se no segundo trimestre de 2024, quando comparado com o mesmo período de 2023, o que reflete a manutenção da capacidade do sector de gerar valor e empregar trabalhadores”, afirmou o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) numa resposta escrita enviada à agência Lusa.

Segundo Manuel Reis Campos, registou-se uma “ligeira variação negativa” de 0,8% em relação ao primeiro trimestre de 2024, mas que atribui às “dificuldades estruturais no que toca à contratação de mão de obra qualificada e não propriamente a uma dificuldade do sector em criar postos de trabalho”.

Salientando que o número estimado de trabalhadores em falta no sector da construção é de cerca de 80 mil, o dirigente associativo enfatiza que, face a este “cenário de profunda escassez, este equilíbrio no nível de emprego no sector demonstra uma extraordinária resiliência das empresas para manter a sua atividade”.

Alguns economistas ouvidos pela agência Lusa indicam que Portugal está próximo do pleno emprego, mas existem indicadores, nomeadamente o desemprego jovem e a travagem que se regista em alguns sectores, que mostram o dinamismo a esmorecer, o que pode dar um impulso menor à economia.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que a população empregada cresceu 1% no segundo trimestre, face ao período homólogo, mas entre as principais áreas de atividade só nos serviços é que se verificou um aumento. Assim, se a população empregada nos serviços aumentou 2,2%, na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca caiu 8,6% e na indústria, construção, energia e água recuou 1,4%.

Para Reis Campos, o menor dinamismo na criação de emprego no sector entre abril e junho “não se prende com uma incapacidade de o sector de criar emprego, mas assenta, essencialmente, na dificuldade de contratação de mão de obra”, que tem vindo a ser “reiteradamente identificada como o maior obstáculo ao crescimento pelas empresas de construção”.

Neste contexto, o presidente da AICCOPN lamenta que as recentes alterações à lei de estrangeiros, ao imporem restrições à imigração e à concessão de vistos, tenha vindo “dificultar a entrada de novos trabalhadores no mercado” e “acrescentar complexidade a um problema que necessita de respostas urgentes”.

Reis Campos alerta que um aumento das dificuldades de contratação de trabalhadores qualificados “poderá colocar em causa a capacidade do sector de dar resposta aos projetos de grande escala que estão em curso ou já planeados, como as obras constantes no Plano Nacional de Investimentos 2030”, o que levou a associação a definir um plano de ação, que denominou de “Construir 2030”, com medidas que visam “uma correta e atempada aplicação dos fundos europeus disponíveis”.

“No que concerne ao mercado de trabalho, com o objetivo de garantir às empresas do sector os recursos humanos necessários e devidamente qualificados, propõe-se, designadamente, uma aposta na capacitação e na inovação, tirando partido dos centros de excelência do sector, o CICCOPN e o CENFIC, a criação de uma ‘via verde empresas’ para a obtenção de vistos de trabalho, a pré-autorização de residência para vistos de trabalho e a simplificação dos processos de reconhecimento de qualificações”, concretiza.

Para a associação, estas são “medidas fundamentais que visam remover os obstáculos burocráticos e legais existentes” e “criar um ambiente mais propício e eficiente que otimize a contratação de trabalhadores, essenciais para o desenvolvimento e para a sustentabilidade do sector e de Portugal”.

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