O contexto de juros elevados agravou os custos dos empréstimos, travando a procura dos portugueses por financiamento, nomeadamente para a compra de casa. Uma tendência que se reflete no negócio da banca, com a Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) a estimar que o crédito às famílias deverá continuar sob pressão em 2024. A previsão é de um crescimento de menos de 1%, apesar das tentativas do sector bancário para atrair clientes com diversas ofertas.
O relatório de avaliação de risco do sistema bancário europeu da EBA, divulgado esta semana, mostra que o crescimento do financiamento às famílias em Portugal deverá ser de 0,7% este ano. É uma melhoria face a 2023, quando os empréstimos a particulares registaram uma taxa de variação anual negativa, de 0,6% – algo que não acontecia desde 2017 -, segundo dados do Banco de Portugal, reflexo da perspetiva de que os juros vão começar a descer, mas também das medidas adotadas pelos bancos, como a oferta de crédito a taxa fixa, para aliviar este “fardo”.
Esta projeção revela, porém, uma recuperação ainda lenta de um importante segmento de negócio da banca, numa altura em que dominam as dúvidas em torno da evolução dos juros. “Apesar de os bancos centrais terem avançado com os primeiros cortes dos juros, as taxas continuam em níveis elevados e as expectativas nesta frente são cada vez mais incertas”, refere a EBA. Juros elevados que têm dificultado o acesso das famílias ao crédito, nomeadamente para a compra de casa, aumentando também as prestações dos clientes que já tinham financiamento.
O mais recente inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito realizado pelo Banco de Portugal mostrou que as instituições financeiras observaram uma “ligeira diminuição da procura por empréstimos para aquisição de habitação” por parte das famílias, uma tendência que deve ter continuado nos primeiros meses de 2024 e que também se regista do lado das empresas. Para este ano, a EBA estima que os empréstimos às empresas cresçam 4,2% – depois de terem recuado 1,1% em 2023 -, abrandando depois para 3,6% em 2025, mas acelerando novamente no ano seguinte.
É neste contexto que os bancos têm vindo a fazer várias campanhas para tentar atrair clientes e captar novos negócios, contrariando esta tendência de quebra na procura por crédito. Isto está a ser feito através do lançamento de campanhas com condições atrativas, dando vouchers na abertura de conta, isenção da comissão de manutenção durante um ano, disponibilizando transferências de crédito sem custos para o cliente ou apostando no regresso de spreads zero nos empréstimos para a compra de casa.
Este passo também está a ser dado num período em que se espera que o efeito positivo da subida dos juros na margem financeira das instituições financeiras desapareça com a descida gradual das taxas do BCE. Em Portugal, mas também no resto da Europa. “A rentabilidade dos bancos europeus aumentou significativamente em 2023, à boleia de uma grande subida da margem financeira”, refere a EBA, notando que, “de forma geral, os bancos conseguiram beneficiar da subida das taxas de juro e reforçar as suas margens”.
No entanto, “depois de uma estabilização da margem financeira em meados de 2023, alguns indicadores de rentabilidade começaram a mostrar os primeiros sinais de descida”. A mesma entidade refere que, uma vez que “as taxas de juro já devem ter alcançado o seu pico, é expectável que o cenário de taxas de juro futuro afete negativamente a margem financeira dos bancos”.
A EBA pede ainda “cautela” aos bancos europeus que enfrentam “riscos geopolíticos elevados com a incerteza em torno das taxas de juro e da economia”, notando que o rácio de crédito malparado aumentou em todos os segmentos. O relatório refere ainda que os “bancos esperam que o crédito malparado das famílias aumente em 2024 e nos próximos anos, enquanto o incumprimento das empresas deve crescer de forma mais significativa este ano e depois vai estabilizar”.
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