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Critérios incompreensíveis do Apoiar Gás estão a deixar muitas empresas sem ajuda

Tal como está desenhado neste momento, este programa vai impedir que muitas empresas beneficiem de apoios em meses de enormes necessidades.
22 Dezembro 2022, 09h05

Em abril, o Governo criou o Programa “Apoiar Indústrias Intensivas em Gás”, com o objetivo de garantir às empresas, especialmente PME, a liquidez e o acesso a financiamento num período de instabilidade política, que se faz sentir um pouco por toda a Europa. Neste momento decorre a terceira fase de candidaturas, que podem ser submetidas até ao dia 30 de dezembro.

O regulamento do programa sofreu algumas alterações relevantes desde que foi lançado, como o alargamento da taxa de incentivo em 10 pontos para 40%, o aumento de 100 mil euros no montante máximo de apoio para 500 mil euros e a inclusão da indústria agroalimentar.

Embora positivas, estas novidades apresentadas pelo Governo não são suficientes para suprir as necessidades das empresas. O principal problema diz respeito ao período de referência, que corresponde à média dos valores pagos no ano de 2021, sendo que os aumentos registados nos gastos energéticos aconteceram sobretudo durante 2022 e, dependendo da indústria, são sazonais.

Para além disso, o apoio só é atribuído se o valor pago de um mês de 2022 for duas vezes superior à média do ano de 2021. Se em 2022 a empresa estiver a pagar valores inferiores à média de 2021, nunca vai receber dinheiro.

Os custos das empresas variam muitas vezes em função da altura do ano, e também do setor de atividade da empresa. Mas o programa Apoiar Gás é insensível a estas especificidades: há empresas que podem ter apoios em alguns meses e nenhum apoio nos meses restantes. na nossa opinião, o apoio deveria incidir sobre o aumento que as empresas tiveram comparativamente aos meses homólogos do ano de 2021, e não sobre a média.

Tal como está desenhado neste momento, este programa vai impedir que muitas empresas beneficiem de apoios em meses de enormes necessidades.

397 candidaturas: um número assustadoramente baixo

Nas anteriores fases de candidaturas deste programa apresentaram-se a concurso um total de 397 empresas, nomeadamente do setor têxtil e da cerâmica. É um número baixíssimo, não há como dizê-lo de outra maneira. E o apoio não chegou a mais empresas por dois motivos: o primeiro é o facto de o período de referência ser a média de 2021; o outro é o setor agroalimentar, consumidor intensivo de gás, não ter sido elegível nos primeiros dois avisos.

Para o setor agroalimentar, já existe uma solução: o atual aviso é retroativo, possibilitando a recuperação do montante pago desde o início. Porém, quanto ao período de referência não vemos ainda nenhuma alteração. É expectável que muitas empresas encerrem no início de 2023 devido aos custos com energia.

Esperamos que o novo Secretário de Estado da Economia, profundo conhecedor do tecido empresarial, possa promover esta alteração urgente, e que tanto impacto terá na viabilidade de centenas de empresas.

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