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Dois estados? Depois da guerra, “podemos sentar-nos a discutir”

Israel está unicamente focado em ganhar a guerra. O país não quer ser responsável pela Faixa de Gaza, mas o embaixador não é definitivo sobre a possibilidade de dois Estados na região. Acredita que é preciso acabar com as veleidades nucleares do Irão, mas prefere não abordar o tema da existência de armas nucleares israelitas. Quanto a Netanyahu, a política fica para mais tarde.
  • Cristina Bernardo
24 Novembro 2023, 12h01

Shlomo Ben-Ali, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros à época da segunda intifada, escreveu um dia que “Israel é o único estado na história que armou os seus inimigos para obter segurança”. Como comenta?
É uma declaração muito interessante. Não li o livro, mas se entendo o seu sentido, refere-se ao Acordo de Oslo [assinado em 1993], quando os israelitas e os palestinianos começaram um processo tendente a encontrar uma solução para o conflito entre ambos. Durante esse processo, nós criámos a Autoridade Palestiniana, a sua polícia – demos-lhes armas. Aliás, uma das críticas internas em Israel em relação ao governo da altura foi precisamente que lhes foram dadas armas – que acabaram por ser usadas contra nós. Era suposto serem usadas para se protegerem a eles próprios, para criarem um país palestiniano. Aliás, é precisamente o que o Hamas está neste momento a fazer com o financiamento que é enviado para a Faixa de Gaza. Nós saímos de Gaza, demos a Gaza um estatuto: não há ocupação em Gaza. Começámos a financiá-los, assim como a comunidade internacional. Dinheiro para construírem o seu Estado, escolas, hospitais, para construírem uma vida saudável para as pessoas. Até têm um aeroporto em Gaza.

Acha que o gastaram noutras coisas?
O Hamas tomou conta das ruas. Pegaram em todo esse dinheiro e investiram-no em armas, na construção de túneis subterrâneos – para os usarem para atacarem Israel. É uma frustração: todo este esforço para os palestinianos construírem o seu espaço, em vez disto que está a acontecer. Todas as vezes o resultado é o ataque contra nós. E isso coloca-nos numa situação de enorme frustração.

Acha que em 2004, quando Yasser Arafatmorreu, Israel perdeu uma oportunidade de fazer a paz, depois do falhanço de Oslo?
A oportunidade perdeu-se em 2000, não em 2004. Em 2000, Ehud Barak [primeiro-ministro entre 1999 e 2001] ofereceu a Arafat a possibilidade do fim do conflito, quando ofereceu a devolução de 97% do território ocupado [para além dos limites estabelecidos pela comunidade internacional]. Ofereceu tudo a Yasser Arafat e Arafat declinou a oferta e entrou em intifada com Israel. É o que dizem sobre os palestinianos: não perdem uma oportunidade de perderem uma oportunidade. Essa foi outra oportunidade que perderam: acabarem com o conflito, terem o seu estado, fazerem dele o que quisessem, evoluírem. Decidiram colocar a diplomacia de parte e regressarem à violência. E foi aí que se perdeu a oportunidade, não quando Arafat morrer. Quando morreu, já estava outra vez a gerar violência. Em 2000, quando rejeitou a possibilidade de acabar com o conflito, perdeu-se uma oportunidade. Tivemos outra possibilidade de acabar com o conflito em 2007, quando oferecemos uma solução semelhante a Abu Mazen [Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana e do partido Fatah] que foi novamente rejeitada. Para lhe explicar que a liderança da Organização de Libertação da Palestina (OLP) não olha verdadeiramente para uma solução do conflito, mas para a manutenção da violência. Espero que no futuro os palestinianos tenham uma liderança que esteja preparada para encontrar uma solução para o conflito.

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