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Economista Daniel Bessa não acredita na subida do rating do país

Antigo ministro da Economia de António Guterres afirma que, sem um controlo efetivo da dívida pública, não há razões para o país sair da condição de ‘lixo’.
9 Junho 2017, 13h50

“Não estou a ver porque é que as agências de rating devem subir as notações do país”, disse o antigo ministro da economia Daniel Bessa durante um debate sobre competitividade da economia portuguesa, na Porto Business School (PSB) – para enfatizar que sobrevivem deficiências estruturais que não foram tocadas. Está nesse âmbito, nomeadamente, a dívida pública – o mais recente ‘cavalo-de-batalha’ do debate político entre o Governo e a oposição. Mas também a despesa – ou mais propriamente a má despesa, que atira dinheiro para cima dos problemas, sem contudo os resolver.

Está também neste âmbito, disse ainda, alterar algum do ‘satatus quo’: Portugal é um dos piores países do mundo desenvolvido em termos de custo da energia – nomeadamente da energia elétrica. “E parece que é tudo legal”, ironizou, comentando, se a referir, a EDP e a questão das rendas excessivas.

Nestes termos, para o economista, o primeiro desafio do país em termos de competitividade tem a ver com um tema central do debate político: “a redução estrutural do défice público, de forma a alcançar excedentes permanentes e permitir a redução da dívida pública”. Outros temas que o economista revela são “a sustentabilidade do sistema bancário; o fomento da inovação e do empreendedorismo; implementar reformas no mercado do trabalho; e desmantelar a burocracia dos serviços públicos.

Seja como for há um “enorme consenso sobre o que fazer” em todas essas frentes, o que, para o ex-ministro de um governo socialista, “só falta fazer”.

Para o economista Carlos Tavares, ex-presidente da CMVM, é necessário enfatizar que, em termos de competitividade, o país surge num muito pouco honroso 21º lugar no cômputo dos 28 países da União Europeia. O atual assessor da Caixa Geral de Depósitos enfatizou também a questão da dívida – mas subdividindo-a em dívida pública e dívida privada. Para Carlos Tavares, a questão da dívida privada é um problema que precisa de ser encarado. Banca e serviços financeiros, os impostos sobre as empresas , a justiça e o excesso de exposição aos mesmos mercados de exportações são, para Carlos Tavares, outros problemas que importa encarar, quando a matéria em debate é a competitividade.

Neste quadro, “a política microeconómica é muito importante, até porque política macroeconómica já temos pouca – só o Orçamento de Estado, e mesmo assim limitado”, disse ainda Carlos Tavares. É aí, considera, que as políticas para o crescimento da competitividade – mas também da atratividade – que o Governo, ou qualquer governo, deve atuar. O combate à economia paralela; regulação do poder de mercado (abuso de posição dominante); e uma menor carga fiscal sobre as empresas, são alguns dos fatores que, para Carlos Tavares, se afiguram fundamentais para o crescimento da competitividade da economia.

Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, que fechou a sessão, elencou aquilo que, do ponto de vista do Governo, está a ser feito, tendo por base o facto de o endividamento (nomeadamente o privado) e a questão demográfica, serem, para o ministro, os dois grandes problemas macro do país. No lado do endividamento público, há um esforço que está ser feito, nomeadamente no que tem a ver com os saldos primários – como tem disso largamente discutido nas últimas semanas. Mas há oportunidades, afirmou: a nova geração; as energias renováveis (a custo de mercado, salientou, isto é, sem subsidiação); a inovação; e a digitalização, “uma revolução à qual Portugal não está a chegar atrasado”, são as que Caldeira Cabral quis isolar.

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