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EUA: mercado à procura de pistas quanto ao futuro da Fed sem mexidas à vista em maio

O mercado tem ajustado consideravelmente as perspetivas após uns primeiros números de 2024 que mostram a inflação a voltar a subir e um mercado laboral a dar sinais de algum abrandamento. Para a reunião de maio é quase certo que não haverá mexidas nos juros.
30 Abril 2024, 07h30

Arranca esta terça-feira nova reunião bidiária da Reserva Federal norte-americana, para a qual a expectativa é claramente de não haver mexidas nos juros face às leituras mais recentes da inflação em ressurgimento. O cenário da economia norte-americana, que se aproximava cada vez mais da ‘aterragem suave’ pretendida, tem-se deteriorado nas últimas semanas, colocando a Fed numa posição menos confortável face a uma inflação persistente e atividade a abrandar.

A decisão quanto aos juros só será conhecida na quarta-feira, mas o mercado está a tomar como praticamente certo que não haverá alterações substanciais na política monetária no imediato. Investidores e analistas atribuem uma probabilidade de 97,3% a juros no atual nível após dia 1 de maio, isto quando há um mês esta perceção apontava para 10% de hipóteses de um corte.

Ainda assim, as expectativas têm-se ajustado sobretudo para as reuniões após maio. Para junho, o mercado chegou a atribuir, há um mês, 60,4% de hipóteses de um corte (com 5,2% de probabilidade de este ser de 50 pontos), mas atualmente essa perceção é de apenas 11,5%; já para julho, se há um mês havia apenas 23,2% de probabilidade de se manter o atual nível de juros, agora a estimativa é de 70,1%.

Recorde-se que os juros de referência na economia norte-americana estão atualmente entre 5,25% e 5,5%, máximos de 23 anos que se mantêm desde julho do ano passado, ou seja, há quase um ano.

Apesar de este aperto prolongado das condições financeiras, a Fed projeta que tal tenha de se manter durante mais tempo do que inicialmente estimado face a uma inflação que teima em não regressar aos 2%, o objetivo de médio prazo do banco central. Ao contrário do seu homólogo europeu, a Fed tem ainda no seu mandato a busca por um mercado laboral estável e próximo do pleno emprego.

Na sua antevisão à reunião, a Goldman Sachs fala em números da inflação que pressionam a Fed no imediato, mas que não devem alterar o seu curso para o resto do ano caso se verifique o cenário projetado pelo banco. Para os analistas da Goldman, a subida recente “reflete efeitos de recuperação, e não pressões atuais nos custos, e os pilares da desinflação permanecem intactos”.

Ainda assim, e antecipando leituras menos aquecidas da pressão nos preços nos próximos meses, a nota do banco relembra que “até surpresas moderadas podem atrasar ainda mais os cortes”. O cenário base da Goldman passa por cortes em julho e novembro.

Já o banco ING aponta para setembro, lembrando que a economia continua a crescer, a inflação core mantém-se demasiado elevada e o emprego aumentou em 829 mil postos no início do ano. Os dados mais recentes quanto às contas nacionais norte-americanas falam num crescimento anualizado de 1,6% no primeiro trimestre, o que corresponde a 3% homólogos, um abrandamento em relação aos 3,4% do período anterior, mas ainda muito acima das restantes economias mais avançadas.

Por outro lado, o índice de gastos pessoais de consumo (PCE) registou máximos de quatro meses em março, com 2,7% em termos homólogos, e o indicador core voltou a fixar mínimos de quase três anos com 3,8%, o mesmo valor de fevereiro.

“Apontamos a um primeiro corte em setembro com mais dois cortes em novembro e dezembro. Os inquéritos empresariais sugerem cada vez mais precaução com as perspetivas económicas, com o emprego a apontar para um abrandamento nas contratações nos próximos meses. Também esperamos que a inflação convirja gradualmente para 2% à medida que a atividade arrefece”, lê-se na nota do ING, que também ressalva a incerteza do outlook.

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