As bolsas europeias viveram uma sessão de grande volatilidade e terminaram com quedas expressivas, mesmo depois de o presidente Joe Biden dizer que sistema bancário norte-americano é “sólido”.
“O colapso do Silicon Valley Bank (SVB) continuou a gerar pressão sobre a banca, levando o sector a recuar mais de 5%, perante recuos superiores a 10% de Commerzbank e Sabadell, bem como acima dos 5% da maioria dos bancos espanhóis. Isto apesar dos congéneres de Wall Street estarem já em território positivo, após as medidas extraordinárias por parte do Governo Biden para reforçar a confiança no sistema financeiro, prometendo a cobertura da totalidade dos depósitos”, refere o analista do Millennium Investment Banking, Ramiro Loureiro.
O BCP fechou a cair 7,39% para 0,21 euros, apesar ter sido elevado na recomendação pelo AlphaValue.
O Santander perdeu 7,35% estando agora nos 3,34 euros e o BBVA recuou 8,24%. O CaixaBank, dono do BPI perdeu 6,24% e o Sabadell tombou 11,81%. Mais longe o Credit Suisse sofreu uma queda de 9,58%. O alemão Deutsche Bank caiu 3,46%. O francês Société Générale recuou 6,23%. O italiano Unicredit recuou 9,01%. O britânico Lloyds Banking Group perdeu 5,12%. O Royal Bank of Scotland fechou a desvalorizar 4,41%. O irlandês AIB (Allied Irish Bank) Group fechou a cair 4,72%. O grego Attica Bank tombou 9,23%. O holandês ING Group recuou 5,79%. Só para dar alguns exemplos da derrocada do valor dos bancos em bolsa na sessão.
Mesmo o HSBC, que comprou por uma libra a sucursal do SVB UK, caiu 4,05%.
Os analistas têm oscilado entre o otimismo e o pessimismo no que toca aos potenciais efeitos do colapso do SVB nos Estados Unidos.
Mário Martins, analista da ActivTrades, diz que a queda do Silicon Valley Bank “apenas destapou um dos problemas gerados com a subida repentina das taxas de juro, seja por parte da Fed ou do BCE”
“Com a devida ressalva, o problema não está na ação dos bancos centrais, mas na gestão incompetente das administrações dos bancos, que não souberam acautelar uma realidade que já era expectável desde há um ano. Era de esperar que os juros subissem e, como tal, as obrigações iriam perder valor, o que obrigaria a uma gestão de risco muito mais prudente no sentido de manter os níveis de liquidez num patamar ainda mais cauteloso – o que não aconteceu”, realça Mário Martins.
No sector em geral este é um tema que poderá ocorrer em mais instituições, norte-americanas e europeias, alerta a ActivTrades.
No entanto, diz o analista, “não deverá ser o único a causar dores de cabeça ao mercado, sendo que o impacto dos juros na liquidez e solvabilidade de muitas empresas é apenas uma questão de tempo até ser mais evidente, nos montantes de imparidades a serem acautelados nas contas dos bancos”.
“De resto, a regulação virá de novo à tona, mas provavelmente mais focada nos bancos de menor dimensão, uma vez que os bancos com riscos sistémicos têm um cinto mais apertado do que um banco regional como o SVB”, defende Mário Martins.
“Como nota final, destaca-se a subida acentuada do preço do ouro, o que valida a situação como mais preocupante para os investidores que estão ativamente à procura de ativos refúgios, de uma forma como não o fizeram na correção do mercado no ano passado”, conclui a ActivTrades.
As quedas do Silicon Valley Bank, do Signature Bank, e da Silvergate Capital podem trazer problemas para mais alguns bancos dos EUA, defende a GlobalData.
Murthy Grandhi, analista da GlobalData, defende que “durante a última semana, as ações da banca nos EUA caíram a pique na sequência da crise que envolveu o Silicon Valley Bank.
Bancos dos EUA perderam mais 267 mil milhões de dólares numa semana em bolsa
Coletivamente, os bancos norte-americanos perderam mais de 267 mil milhões de dólares na semana que terminou a 10 de março, revela a GlobalData.
Há dez bancos cujos preços semanais das ações desceram mais de 20%. Além do Silicon Valley Bank, com uma derrocada de 62,5%; do Silvergate Capital Corp (53,4%); e do Signature Bank (36,9%), há outros sete bancos analisados com derrocadas aparatosas. Como o PacWest Bank Corp (que caiu 54,9%), o Western Alliance Bancorporation (que recuou 34,5%), o First Republic Bank (que perdeu 33%), o Customers Bancorp Inc (que fechou a descer 23,4%), o Charles Schwab Corp (que recuou 23,4%), o First Foundation Inc (que registou uma queda de 21,3%), e o Metropolitan Bank Holding Corp (que desceu 21%).
“Além das preocupações sobre as condições macroeconómicas que teimam em prevalecer, o efeito de dominó do Grupo Financeiro SVB que criou o medo de que outros bancos e instituições de crédito semelhantes também poderiam ter problemas financeiros de subcapitalização, resultou numa venda das ações me massa”, refere a GlobalData.
“Os bancos regionais, PacWest Bank Corp e First Republic Bank, que tinham exposição a clientes do mercado de capital de risco, testemunharam uma queda na capitalização de mercado de mais de 38% e 15% numa única sessão de negociação (10 de março), respectivamente. O First Republic Bank divulgou uma actualização financeira para aliviar as preocupações sobre a dispersão do risco financeiro, indicando que apenas 4% dos seus depósitos estão relacionados com o sector tecnológico e que nenhum sector representa por si só mais de 9% do total dos seus depósitos, demonstrando uma carteira diversificada”, detalha a empresa.
Outro grande banco regional, o Western Alliance Bancorporation, “também emitiu uma declaração semelhante, declarando que o total dos seus depósitos relacionados com a tecnologia era de apenas 6,5 mil milhões de dólares, sendo o total dos depósitos de 53,6 mil milhões de dólares em 31 de Dezembro de 2022”.
“Charles Schwab, um importante player na indústria dos serviços financeiros, sofreu um declínio acentuado de 11,7% no preço das suas ações em resposta a relatos de que investidores institucionais venderam 8,5 milhões de ações numa operação em bloco. Muito poucas ações da banca se saíram bem, pelo contrário, foi uma semana difícil para o sector bancário dos EUA. A cotação média semanal das ações da CoastalSouth Bancshares Inc aumentou mais de 9,2%, seguida pela AB&T Financial Corp com 4,4%”, lê-se no comunicado da GlobalData.
Já o analista do Allianz GI Greg Hirt fez uma análise que faz uma analogia ao filme que ontem ganhou sete Óscares da Academia, intitulada “Silicon Valley Bank: tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”.
“Incidente isolado – ou um sinal de fraqueza sistémica? A Reserva Federal dos EUA respondeu prontamente à falência do Silicon Valley Bank, especializado para empresas de tecnologia e startups – mas pode significar uma estrada acidentada à medida que os juros mais altos continuam a corroer”, admite Greg Hirt, diretor de Investimento (CIO) Global em Multiativos da Allianz Global Investors (AllianzGI).
O sector bancário enfrenta ventos contrários – e as taxas de juros mais altas podem continuar a provocar fraqueza na economia e volatilidade para os investidores.
Com a criação de uma nova facilidade para fornecer liquidez aos bancos, a atuação da Fed deve acalmar os nervos no imediato, mas as preocupações vão persistir, diz a AllianzGI.
Também a DBRS alertou que a falência do SVB provoca forte sell-off no sector, à medida que os bancos enfrentam maior escrutínio às perdas potenciais com ativos (obrigações soberanas) no balanço patrimonial. O Sillicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank foram vítimas da subida dos juros da dívida americana, das perdas que isso gerou e da corrida aos depósitos. Mas a DBRS considera que as medidas das autoridades norte-americanas, incluindo o banco central, “vão reduzir a probabilidade de contágio”.
A solução desenhada pelas autoridades norte-americanas para responder à crise que nos últimos dias se vive no sistema bancário está, para já, a aliviar o stress nos mercados financeiros, embora os investidores permaneçam preocupados com as ondas de choque e o potencial efeito dominó em resultado do colapso do SVB e de mais dois bancos norte-americanos.
O Tesouro dos EUA, a Fed e o FDIC anunciaram ontem à noite que todos os depósitos do SVB estavam garantidos, bem como uma linha de liquidez capaz de cobrir todos os depósitos não garantidos, a que todos os bancos dos EUA podem recorrer.
Depois da falência do SVB Financial Group, dona do Silicon Valley Bank, o Governo dos Estados Unidos apressou-se a garantir que não haveria um resgate com dinheiro dos contribuintes. Mas, este domingo, a Reserva Federal norte-americana (Fed) anunciou a criação de uma linha de emergência de liquidez para garantir que todos os clientes com exposição ao SVB ou ao Signature Bank (que também fechou) através de depósitos possam reaver o seu dinheiro já a partir desta segunda-feira.
A ideia é acalmar a corrida aos depósitos que pode provocar um efeito dominó no sistema financeiro. Sabendo que todos os depósitos estão garantidos, mesmo os acima de 250 mil euros, ajuda a travar a fuga de depósitos dos bancos.
“Para apoiar as empresas e as famílias americanas, o Conselho da Reserva Federal anunciou no domingo que disponibilizará fundos adicionais às instituições depositárias elegíveis para assegurar que os bancos têm capacidade para satisfazer as necessidades de todos os seus depositantes“, referiu a Fed em comunicado.
Já a Ebury defende que a falência do Silicon Valley Bank afeta ativos de risco e impulsiona a procura dos ativos de refúgio.
“Desde o fecho de sexta-feira, vimos uma intervenção enérgica para impedir qualquer potencial banco executado pelas autoridades bancárias dos EUA, enquanto o HSBC interveio para comprar o braço britânico do Silicon Valley Bank”, pelo que “acreditamos que a intervenção será suficiente para restaurar a tranquilidade aos depositantes dos bancos regionais dos EUA, e os mercados de câmbio voltarão a concentrar-se nos dados de inflação e na política do banco central”, considera a Ebury.
Esta semana é crítica nessa frente, já que o relatório de inflação do IPC (Índice de Preços no Consumidor) de fevereiro é divulgado na terça-feira. Isso será seguido pela reunião do BCE de março na quinta-feira, onde uma subida de 50 pb é amplamente esperada e dificilmente será prejudicada por problemas nos bancos americanos, lembra a Ebury.
Há também alertas no mercado a darem conta que o colapso do SVB colocou muitas fintechs no fio da navalha.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com