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IA usada em empresas de recursos humanos? Deputado do PS alerta para um problema

João Torres, deputado do PS, destacou na conferência organizada pelo Jornal Económico a importância de regular a Inteligência Artificial, no sentido de evitar que a repetição de um determinado algoritmo acabe por afastar das empresas o valor da representatividade. Da parte do PSD, o deputado Almiro Moreira destacou os “passos” dados pelo atual Governo na implementação da IA mas reconheceu que “gostaríamos de estar numa posição melhor”.
1 Abril 2025, 13h33

O deputado do PS João Torres alertou esta terça-feira, durante a AI Summit 2025, que a Inteligência Artificial (IA) está a trazer alterações “tão radicais no nosso modus vivendi” e uma aceleração da economia que, por um lado, geram “receios na sociedade”, mas que por outro devem levar-nos a “abraçar o problema”.

O socialista e antigo secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor trouxe para debate da conferência organizada pelo Jornal Económico, em parceria com a Askblue e a PwC, o facto de empresas de recursos humanos que usam consecutivamente um determinado algoritmo para recrutar profissionais acabarem por considerar que o candidato ideal é “invariavelmente um homem branco, heterossexual, magro, com determinadas características físicas e de acordo com o seu percurso académico”.

“Poderá dizer-se que será uma depuração que a IA traz para bem do crescimento económico, mas penso que os economistas clássicos estão muito pouco habituados a medir aquilo que resulta de conceitos, que por vezes nos são muito abstratos, do valor da diversidade e da coesão de uma sociedade”, afirmou o deputado, para quem os temas da representatividade “não são apenas importantes por uma questão de justiça social”. Estes estão também “aliados a uma noção de desenvolvimento económico saudável e mais sustentável no médio e longo prazo”, defendeu.

João Torres sustentou que é preciso regular a IA equilibrando a possibilidade de inovar e de semear maior desenvolvimento “com as dimensões éticas da nossa vida em comunidade e os direitos fundamentais”. Direitos esses “que não podem ser negociáveis” nem “negligenciados, mesmo que isso levasse potencialmente a uma maior produção de riqueza do ponto de vista estatístico”.

Além da exigência desse equilíbrio, no seu entender, a obrigação dos políticos nos dias de hoje é “olhar para o que se passa nos outros países” e para as “grandes tendências mundiais” e liderar os processos de mudança e não apenas geri-la.  “Para isso são necessários estímulos por parte dos Governos para que as empresas possam aproveitar esta oportunidade para captar e reter valor a partir da IA para a produção de bens e serviços”, concluiu.

Portugal está na cauda mas pode aproximar-se dos que vão à frente

Presente também neste painel dedicado à regulação, o deputado do PSD Almiro Moreira realçou que a IA é “conhecimento” que resulta da evolução da extração de dados, e que nos conduz para um “mundo completamente diferente” que tem de ser regulado. “Entraríamos num mundo difícil de entender” se não existisse um rosto, uma pessoa, uma entidade responsável pela produção de algo. “Independentemente do produto que é feito com recurso a IA o responsável único e último é sempre o ser humano”, sublinhou, notando que a “regulação é muito importante” porque ela se foca essencialmente na proteção da pessoa humana e dos direitos humanos.

Sobre em que fase se encontra o país na implementação desta tecnologia, o social-democrata reconheceu que gostaríamos de estar numa posição melhor, considerando que o objetivo para o uso da IA nas empresas, até 20230, é de 70%. “A apenas cinco anos desse objetivo temos 7% a usar. Falta-nos aqui um crescimento muito significativo”. Apesar disso, o deputado do PSD entende que estão a ser “dados passos importantes” pelo Governo para que, embora ainda na cauda da Europa, nos possamos “aproximar daqueles que vão à frente”.

Para lá chegar, além da nova agenda para a IA que será brevemente disponibilizada e do maior financiamento das PME’s nesta área por via do PRR, é também preciso que a população seja capaz de “interagir” e “dominar estas tecnologias”, sendo que apenas 40% dos portugueses dominam as tecnologias de informação, um valor que “ainda é muito baixo”.

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