Que áreas explicam o crescimento registado?
Por razões razoavelmente fáceis de explicar, em especial as relacionadas com o efeito de calendário, o setor das bebidas apresenta o crescimento mais expressivo, mas em todas as macrocategorias de produtos são visualizáveis crescimentos relevantes.
Há estabilidade entre os diferentes canais de consumo ou uns crescem mais do que outros?
Durante os últimos quatro/cinco anos, o chamado retalho de sortido curto teve um crescimento expressivo, mas na segunda metade de 2024 deu alguns sinais de desaceleração, que sendo consistentes, podem – apesar disso – ser relativamente conjunturais, considerando os planos de expansão desses operadores e a sua capacidade de chegar a um número cada vez mais amplo de consumidores.
No entanto, é interessante verificar que a recuperação do poder de compra teve como impacto direto uma maior exigência por parte dos consumidores relativamente aos produtos que consome e, consequentemente, aos locais onde os encontra e os compra.
A maior disponibilidade de rendimentos incentivou o consumo?
A maior disponibilidade de rendimento reforça o poder de compra, mas também potencia o reforço da poupança ou a redução dos níveis de endividamento.
Apesar de Portugal ser, de acordo com os dados da OCDE, dos países que mais reforçou o seu poder de compra no último ano, existe uma aparente contradição entre a realidade dos dados e a perceção dos consumidores que ainda não terão interiorizado essa melhoria da sua condição económica.
E essa será também uma das razões que justificarão a manutenção de um padrão e de uma rotina de compra mais próxima daquela que é habitualmente seguida nos períodos de maiores dificuldades, como aqueles que a hiperinflação gerou, especialmente em 2022 e 2023.
As marcas de fabricante estão a ganhar espaço às marcas próprias. É uma tendência ou um fenómeno?
Depois de quase cinco anos seguidos em que a perda foi forte, progressiva e constante, os últimos meses mostram uma dinâmica diferente entre marcas de fabricante e marcas próprias. Mais do que a ganhar espaço, os dados relativos à segunda metade de 2024 – e início de 2025 –, mostram a contenção de uma ‘hemorragia’ que parecia incontrolável.
Também aqui a recuperação do poder de compra mostra o seu impacto, como também não parece desajustado perceber que alguns retalhistas, especialmente os que disponibilizam aos seus consumidores sortidos mais alargados, estarão a introduzir algumas inflexões estratégicas, dando mais atenção e espaço às marcas dos fabricantes por entenderem que elas podem ser um importante auxiliar na competição que têm que fazer aos seus rivais de sortido mais curto e que oferecem menos diversidade aos consumidores que os visitam.
Que impacto têm tido os canais digitais no consumo?
Na área do grande consumo e em termos globais, o peso das vendas em canal digital é ainda pouco expressivo – ultrapassa ligeiramente os 3% das vendas totais – e depois dos saltos de 2020, principalmente, e de 2021, recolocou-se já a níveis pré-pandemia.
Contudo, essa parcela é bastante mais expressiva em várias famílias de produtos (cosmética, alguns tipos de bebidas, puericultura) e deve ainda ser considerado o potencial de crescimento gerado pela transferência geracional do consumo, ou por fenómenos como as chamadas deliveries ou os sistemas de click and collect.
Apesar da regressão do pós-pandemia, muito motivada pelo regresso a uma maior mobilidade, os canais digitais, agora também empurrados pelo chamado retail media, não deixam de ser uma das áreas com maior potencial na geração de novas dinâmicas para esta área de negócio.
A crise política terá efeito na confiança dos consumidores e das empresas?
Portugal apresenta, tradicionalmente, dos mais baixos níveis de confiança da Europa. Contudo, os últimos dados conhecidos, mostravam uma evolução muito positiva desse indicador nos últimos meses de 2024.
Esses indicadores de confiança, assim como outros dados macroeconómicos, pareciam apontar para um cenário em que o nosso país poderia, de alguma forma, capitalizar e beneficiar com as dificuldades que estão a ser atravessadas por outras economias europeias, com a captação de investimentos, melhor remuneração de uma mão-de-obra crescentemente qualificada, produção de riqueza e um reforço da cultura de marca.
No entanto, a irresponsabilidade do cenário político que se produziu nos últimos dias e, também, a crescente tensão que se sente a nível global, poderão ter o condão de fazer regredir a confiança e deixar de criar condições para aproveitar, de forma eficaz, aquele cenário.
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