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“Lítio? Portugal arrisca transformar-se na Disneylândia”, defende especialista

Em entrevista ao JE, Rui Pena dos Reis, especialista em geologia, teme uma repetição do que aconteceu com o “desastre” do petróleo, que nunca avançou. “Estamos numa sociedade cheia de preconceitos e falsos temores, e o preconceito leva à ignorância e à pobreza”.
17 Novembro 2023, 08h57

Pode ver mas não se pode fazer nada. Portugal arrisca transformar-se numa espécie de Disneylândia do lítio com uma política de não-investimento economicamente suicida, de acordo com análise de Rui Pena dos Reis, especialista em geologia e investigador da Universidade de Coimbra em entrevista esta sexta-feira ao “Jornal Económico”

Note-se que Portugal é atualmente o sétimo maior produtor entre os oito países que produzem mais lítio, sendo que o minério extraído no país destina-se sobretudo à indústria vidreira e cerâmica. O país conta com reservas disponíveis para ser exploradas avaliadas em 60 mil toneladas, a nona maior a nível mundial e a maior da Europa.

Já em relação a recursos de lítio (indisponível para exploração), Portugal conta com 270 mil toneladas e surge na 18ª posição entre os 23 países indicados no estudo do Serviço Geológico dos Estados Unidos da América. O ranking da produção é liderado pela Austrália, Chile e China; as reservas são lideradas pelo Chile, Austrália e Argentina; os recursos são liderados pela Bolívia, Argentina e Chile.

Com o mercado global dos veículos elétricos a crescer (está nos 14 milhões de automóveis vendidos este ano e vai passar para 30 milhões em 2030 (de acordo com o estudo da S&P Global Commodity Insight), Portugal poderá ter um papel importante a desempenhar já que o lítio terá que estar em todas as baterias que suportam estes veículos.

Rui Pena dos Reis destaca ao JE que “tendo em conta o valor do lítio no mercado internacional, é difícil que não seja interessante a sua exploração”. “É óbvio que o processamento do lítio que é extraído vai acrescentar valor, tendo em conta o valor atual em bolsa. Permite transformar as nossas reservas num valor significativo após processamento, isto permite remunerar investimentos e fazer exportações”, segundo o geólogo.

Este especialista teme uma repetição do que aconteceu com o “desastre” do petróleo, que nunca avançou. “Estamos numa sociedade cheia de preconceitos e falsos temores, e o preconceito leva à ignorância e à pobreza”. “Cada vez que se quer investir na valorização dos recursos naturais existem oponentes. Politicamente, está-se a dar demasiada importância às opiniões contrárias em vez de se valorizar o recurso”, acrescenta.

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